Rastreabilidade e transparência criam consciência na cadeia produtiva do café
O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) encerrou, hoje, 22 de setembro, sua participação no 14º Swiss Coffee Dinner & Forum, na Basileia, principal evento cafeeiro na Suíça e um dos mais relevantes fóruns globais de debate. O tema desta edição abordou a nova regulação da União Europeia (EU) antidesmatamento e como empresas, governos e organizações estão desenvolvendo as ações para se preparar para as novas regras em tempos de ESG.
Na sexta-feira (23), Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé, palestrou no painel “As abordagens pré-competitivas ajudarão ou atrapalharão?”, que, revendo os debates sobre realizados desde a edição anterior do evento, buscou respostas para questões sobre: como evoluirão as associações industriais e outras plataformas colaborativas para apoiar a transição urgente para um impacto positivo em grande escala? Como garantirão a implementação prática? Será que a indústria ficará presa numa década de conformidade?
Na discussão, que também contou com as contribuições de Eileen Gordon, da Federação Europeia de Café, Gustavo Jiménez, do ICAFE (Costa Rica), Bill Murray, da NCA (EUA), Paul Rooke, da Associação Britânica de Café, e Michael von Luehrte, da SCTA (Suíça), o Cecafé buscou responder o que podem as associações cafeeiras globais fazer para impulsionar e se engajar em mudanças positivas.
Segundo ele, em tempos geopolíticos desafiadores, o multilateralismo e os acordos comerciais incentivam o comércio global, considerando sempre os compromissos assumidos e a realidade de cada país. Mas, por outro lado, o unilateralismo e as barreiras comerciais podem comprometer os avanços de décadas na inclusão social.
“Diante disso, acreditamos que as organizações mundiais do café estão abertas à troca de experiências, à criação de referências internacionais, à adaptação de tecnologias e à promoção da inclusão social, como vem sendo demonstrado, neste ano, em debates relevantes globais, que já aconteceram na República Checa, Inglaterra, Suíça, EUA, Brasil e Costa Rica. Essa união é a nossa melhor forma de mostrar aos legisladores a realidade dos países produtores e como incentivar o comércio em tempos de ESG, com compromissos assumidos e ações concretas contra todas as ilegalidades”, argumenta.
Ainda no evento suíço, o Cecafé apresentou a realidade da produção brasileira de café, evidenciando sustentabilidade, qualidade, produção e produtividade, apresentando resultados concretos sobre a redução da área plantada e crescimento da safra, sequestro de carbono na cafeicultura, preservação de florestas nativas, melhoras no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) onde a atividade cafeeira está presente, além de ações e programas diversos que o Conselho realiza para fomentar esses índices. Também foram destacados os desafios da cadeia de custódia do café, desde a diversidade de regiões, produtores e loteamentos até cada contêiner exportado.
“O Cecafé está e sempre estará disponível para demonstrar os resultados e experiências dos cases de sucesso do Brasil, assim como suas plataformas de capacitação, de monitoramento de multirresíduos, de gestão de risco dos contratos futuros e, mais recentemente, de rastreabilidade dos cafés brasileiros para atender às novas regras da EU”, revela.
Matos reforça que os requisitos são desafiadores e há muitos países que não estão preparados para cumprir o novo regulamento europeu, o que pode “desincentivar” a compra dos pequenos produtores.
Por outro lado, no Brasil, ele recorda que, por lei (Código Florestal) e com mobilização nacional, foram obtidos os dados de 6,48 milhões de propriedades rurais geolocalizados, em 11 anos, através do Cadastro Ambiental Rural (CAR), que segue em processo de aprimoramento e validação.
Nessa linha, o Cecafé também apresentou a Plataforma de Rastreabilidade “Cafés do Brasil”, desenvolvida pela Serasa Experian e implementada institucionalmente, com as adaptações necessárias em andamento, pelo Cecafé e seus parceiros. Essa ferramenta mostra como a cafeicultura brasileira evoluiu em termos de sustentabilidade nas últimas décadas, apresenta a experiência do Código Florestal e do CAR na obtenção de polígonos e dados geolocalizados e o nível atual de conservação florestal nas regiões cafeeiras.
“Nossa plataforma permite a rastreabilidade com base em todas as bases públicas de dados, que envolvem a geolocalização de todas as propriedades rurais, monitoramento de áreas protegidas (vegetação nativa), lista suja devido a condições inadequadas de trabalho, embargos diversos, entre outros. O Cecafé desenvolve ações nesse sentido porque entende e defende que ‘rastreabilidade e transparência criam consciência em toda a cadeia produtiva’”, conclui Matos.