Café e fertilizantes: Produtor que não aproveitou bom momento na relação de troca, agora está pagando 30% mais caro
Depois de atingir o melhor patamar na relação de troca para os fertilizantes, nas últimas semanas o cenário começou a mudar e aquele produtor de café que ainda não havia fechado negócio, pode a partir de agora sair no prejuízo. Segundo Fabricio Andrian David - gerente comercial da Cocapec, comprando agora os produtores estão pagando, pelo menos, 30% mais caro do que quando comparado com o início do ano.
O especialista explica que a valorização no custo foi bastante significativa para os principais produtos, como por exemplo nitrogênio e potássio. A título de comparação, no primeiro trimestre, em uma área de produção de 30,40 sacas por hectare e quatro aplicacões, o produtor precisava de 3.2 sacas de café para realizar o barter. Agora, o produtor está precisando utilizar 4.8 sacas.
"No começo do ano, apesar dos preços mais altos, os preços do café estavam sustentando essa diferença positiva, quando atingimos a melhor média histórica na relação de troca. O café está caindo muito desde março e essa curva começou a mudar. Mesmo com a queda que tivemos nos fertilizantes, o produtor deixou de olhar essa relação de troca e para pagar agora fica entre 20% e 30% mais caro", afirma.
No caso dos defensivos, apesar da volatilidade nos preços ter sido menos intensa, os dados da Cocapec mostram que o produtor precisava de 1.2 sacas no primeiro trimestre, e que agora precisa de 1.66 sacas para realização do barter. "Porém o defensivo recuou entre 20% e 25% do primeiro trimestre até aqui", afirma.
Na região da Alta Mogiana - área de atuação da Cocapec, os produtores já têm na rotina a gestão de realização de barter, mas ainda assim, pelo menos 30% dos cooperados optou por aguardar uma recuperação nos preços do café. "O produtor que não tomou decisão ficou com um negócio ruim. O produto caiu, mas o preço do café também. Quem quer especular com o mercado acaba ficando em uma situação complicada. Travar custo de produção é essencial para garantir a sustentabilidade do negócio", complementa o analista.
Ressalta ainda que é preciso que o produtor fique atento já que o cenário no longo prazo é bastante pessimista para realização de troca. A partir de agora a preocupação é com a logística para entrega dos produtos que já foram comprados. Com a intensa valorização dos preços com a guerra entre Rússia e Ucrânia, aconteceu também uma compra significativa por parte dos principais países produtores de alimentos do mundo, e no caso do Brasil a logística continuará sendo um gargalo para o setor.
"Teremos muita dificuldade de descarregamento dos navios, temos essa parcela de produtores que tomara a decisão errada e esse alto custo de produção pode atrasar a adubação da próxima safra. O produtor precisa estar atento à gestão, além da relação de troca e não focar só apenas na queda do dólar, mas também nas outras variáveis, que são muitas. A tendência é só de piora nos próximos dois ou três meses", complementa.