Com quebra de safra, café do Brasil deve se tornar menos competitivo e reduzir participação na ICE
Com uma safra de café volumosa e de bastante qualidade, o Brasil conquistou nos últimos nove meses a maior parte dos estoques de café certificado na ICE. Com a maior baixa dos últimos 20 anos registrados em setembro/2019, desde então a entrada da safra do Brasil vem abastecendo os estoques no exterior.
Os últimos números divulgados pela ICE mostraram o estoque com 2,179 milhões de sacas de café arábica. Deste montante, 52,80% é de café proveniente no Brasil. Segundo análise da Pharos Consultoria, os números ajudam a traduzir o forte ritmo de café registrado no último ano e comprovam que a qualidade do café brasileiro cada vez mais se destaca no mercado.
Fonte: Pharos Consultoria
Com a quebra de produção na safra sendo colhida neste momento, o cenário deve mudar nos próximos meses. Haroldo Bonfá, analista de mercado, explica que o Brasil se consolidou na ICE nos últimos meses, mas a redução na oferta do maior produtor de arábica do mundo, Honduras e outros países produtores podem assumir parte dos estoques.
"Com essa quebra de safra é natural que o café brasileiro deixe de ser competitivo. Nós vamos exportar menos, a safra é menor e o preço é mais alto, naturalmente os compradores devem procurar por outros cafés", comenta Haroldo.
O especialista lembra ainda que o Brasil começou a conquistar mais espaço em outubro, justamente quando as condições climáticas já começaram a preocupar o mercado. Os dados da Pharos mostram ainda que em outubro do ano passado apenas 6% dos estoques eram compostos por café do Brasil, contra 75% de café proveninente de Honduras.
"Tudo isso começou em outubro, saímos do zero e vimos essa ação fora da normalidade acontecer. Isso é muito positivo para o Brasil, o produtor aprendeu a fazer uma engenharia financeira muito positiva, teve muito café e muito aprendizado. Isso comprova o café de qualidade, a mão de obra treinada que resultam nesse café diferenciado", comenta.
Fonte: Pharos Consultoria
Haroldo destaca que o alto volume estoque também é uma forma do mercado se proteger das altas expressivas, mais uma consequência da oferta restrita do Brasil. "Nós podemos observar que o mercado não parou de comprar, achamos que isso poderia acontecer com dois milhões de sacas, mas não aconteceu. Além disso, o mercado ainda não atingiu o limite de alta, com o frio no Brasil muita coisa ainda pode acontecer", complementa.
É importante lembrar que o número de exportação do Brasil referente ao mês de maio já foi expressivamente mais baixo. O Conselho Nacional dos Exportadores de Café (Cecafé) a baixa de 20% são justificadas por problemas na logística. "Nós de fato temos muitos problemas na logística, vemos espaço para arrumar espaço nos navios e com isso há menos saída", afirma.
Com a retomada da demanda, conforme é previsto pelo mercado na medida que a vacinação avança, a situação dos estoques ainda é uma dúvida para o mercado, considerando que assim como o Brasil, Honduras também enfrenta severa quebra de safra, também consequência da irregularidade climática. Segundo o analista, o produtor brasileiro conseguiu ganhar espaço na ICE a partir do momento em que Honduras passou a enfrentar severos problemas econômicos - com parte da população fazendo movimentação migratória para outros países, além de uma incidência maior de pragas nas lavouras.
Leia Mais: