Embrapa apoia pesquisa para validação de café canéfora para o cerrado mato-grossense

Publicado em 22/06/2021 10:32 e atualizado em 22/06/2021 11:05

O bom desempenho em produção, produtividade e qualidade de bebida dos cafés da espécie Coffea canephora – variedades botânicas robusta e conilon – na região Amazônica está chamando a atenção também de produtores do cerrado mato-grossense. Como se trata de uma região com condições de clima, solo, altitude, precipitação, entre outras, diferentes da região de origem dos cafés conhecidos como Robustas Amazônicos, está sendo realizada uma pesquisa para a avaliação do desempenho de clones de café em condições do cerrado do Estado do Mato Grosso. Este trabalho está sendo realizado pela Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) com apoio da Embrapa Rondônia.

Já foram implantados dois experimentos em unidades da Empaer no estado, sendo um em Tangará da Serra e outro em Sinop. O pesquisador da Embrapa Rondônia, Marcelo Curitiba, explica que serão testados os desempenhos agronômicos de 52 clones de cafeeiros selecionados em condições de cultivo da região amazônica. Dez desses genótipos são cultivares desenvolvidas pela Embrapa Rondônia e disponibilizadas para cultivo em 2019. Os outros genótipos são clones, sem origem genética definida, que foram selecionados por agricultores, sendo 40 de Rondônia e dois da região amazônica do Mato Grosso. 

Estes clones serão avaliados ao longo de, pelo menos, cinco anos, com trabalhos em campo e também em laboratório e casa de vegetação, que serão conduzidos na Embrapa Rondônia, para determinação da compatibilidade entre os clones, tolerância a nematoides Meloidogyne incognita e à ferrugem alaranjada dos cafeeiros, bem como, características físicas e químicas dos grãos de cada clone. Nos experimentos de campo, no Mato Grosso, serão avaliadas características como: capacidade produtiva das plantas (sacas por hectare); rendimento durante o beneficiamento; resistência ao tombamento das hastes e qualidade de bebida. Ao final, pretende-se indicar os genótipos com melhor desempenho geral e os que apresentem características distintas, como alto potencial para qualidade de bebida ou, maior resistência da haste ortotrópica, característica essencial para sistemas de cultivos mecanizados. 

Com este trabalho, o pesquisador aponta que as cultivares desenvolvidas pela Embrapa Rondônia poderão ter sua recomendação de cultivo estendida para as condições de cerrado típico do noroeste brasileiro. “A Empaer também poderá recomendar um ou mais agrupamento de clones, formados a partir da junção de clones com características semelhantes entre si. Esta ação é relevante para o trabalho dos extensionistas que estão atuando no incentivo à expansão da cafeicultura no estado do Mato Grosso e pode oferecer aos cafeicultores do bioma Cerrado opções de café mais eficientes para sua região”, complementa Marcelo Curitiba. 

Além disso, as áreas experimentais também servirão como unidades de observação e poderão ser visitadas por agricultores a qualquer momento. A Empaer pretende realizar dias de campo durante a colheita para que os agricultores possam ver e comparar o desempenho das plantas ano a ano. A pesquisadora da Empaer, Dalilhia Santos, explica que, com este estudo, espera-se oferecer aos produtores condições para que as lavouras antigas e seminais sejam substituídas por lavouras clonais, mais eficientes. Com a adoção de técnicas modernas de manejo nestas lavouras pode-se conseguir maior produtividade. “Se o agricultor tiver aumento de produção em uma mesma área, ou seja, maior produtividade, pode haver menor necessidade de expansão de área plantada. Com isso, ganha o agricultor, que poderá ter maior retorno econômico e melhorar sua condição social, e ganha o meio ambiente, que sofrerá menor pressão antrópica”, afirma Dalilhia. 

A pesquisadora diz que a cooperação entre a Empaer e a Embrapa deve continuar para acompanhar o surgimento de novos clones selecionados pelos agricultores, para estudos futuros. “A pesquisa não pode parar!”, conclui.

Parceria para a revitalização da cafeicultura no Mato Grosso

Este projeto de pesquisa faz parte do processo de revitalização da cafeicultura do Mato Grosso que teve início em 2015, com o nome Pró Café MT, e que em 2019 foi reformulado, passando a se chamar Programa Mato Grosso Produtivo – Café. Este programa foi criado pelo Governo do Estado, coordenado pela Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf-MT) e executado pela Empaer, tendo como parceiras a Embrapa e prefeituras do estado. Os objetivos do programa são a capacitação técnica, transferência de tecnologias e a pesquisa agrícola para o fortalecimento da cafeicultura no estado. 

Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento – Conab, o Mato Grosso chegou a produzir 490 mil sacas de café em 2002, mas a produção caiu ao longo dos anos, até atingir o menor nível (91,5 mil sacas) na safra 2016/2017. “Essa redução ocorreu principalmente, devido à diminuição da área plantada, manejo inadequado e uso de variedades de café propagadas por sementes e que apresentavam baixo potencial produtivo”, conta Dalilhia, justificando a necessidade de ações voltadas para a cafeicultura do estado. 

No início, o contrato de cooperação entre a Seaf-MT e a Embrapa Rondônia abrangia apenas ações de transferência de tecnologias para o aprimoramento e fortalecimento da cafeicultura do estado, com cursos de capacitação para técnicos, instalação de unidades de referência tecnológicas, jardins clonais e a disponibilização de estacas para produção de mudas de café da variedade clonal Conilon - BRS Ouro Preto. “Com o sucesso do programa e o avanço da cafeicultura no estado, percebemos a necessidade de um trabalho de pesquisa para validar os materiais genéticos que estavam sendo plantados em locais onde o cultivo de café não era tradicional”, relata o chefe de Transferência de Tecnologia da Embrapa Rondônia, Frederico Botelho. Assim, em 2021 teve início o projeto “Validação de clones de Coffea canephora para o Estado de Mato Grosso”.

Para o superintendente da Seaf-MT, George Luiz de Lima, é importante oferecer aos produtores cultivares validadas para a região. “O café é uma cultura perene que produz durante 10, 15 ou mais anos. O agricultor não pode plantar uma lavoura hoje e se ver obrigado a substitui-la daqui a quatro anos porque as variedades utilizadas não foram adequadas”, afirma George, complementando que o governo do estado prevê um aporte de recursos para a implantação e condução dessa ação de pesquisa da Empaer com apoio da Embrapa. Segundo o diagnóstico da cadeia agroindustrial do café no Mato Grosso, em 2016 eram mais de 4.400 estabelecimentos rurais com lavouras de café, número que deve ser superior atualmente, após o incentivo que vem sendo realizado pelo programa. 
 

Café robusta para o Cerrado

Em 2019, a Embrapa Rondônia lançou dez cultivares clonais individuais de cafés híbridos (robusta e conilon), denominados Robustas Amazônicos, proporcionando aos cafeicultores do bioma Amazônia liberdade de escolha e agregação de valor à lavoura. Além de o cafeicultor saber quais destes clones devem ser combinados na lavoura (compatibilidade), também pode escolher cada material de acordo com as características desejadas: produtividade, qualidade da bebida, resistência a doenças, entre outras.

O bioma Cerrado apresenta condições de solo e clima distintas quando comparadas às do bioma Amazônia, onde os clones foram selecionados. Este trabalho junto à Empaer, portanto, traz um novo desafio: identificar quais clones se adaptam melhor às condições do Cerrado típico do noroeste brasileiro e, com isso, proporcionar maior potencial de retorno econômico para os cafeicultores da região. “Tenho curiosidade de ver como será o desempenho agronômico dessas cultivares no Cerrado. Será que o desempenho será semelhante ao observado aqui em Rondônia? O ambiente provocará mudanças no comportamento produtivo das cultivares? São questionamentos que este trabalho poderá nos responder, oferecendo assim, opções de café mais eficientes para os cafeicultores do bioma Cerrado”, comenta o pesquisador Marcelo Curitiba.

Fonte: Embrapa

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