Canal de Suez é liberado, mas desafios logísticos ainda preocupam setor cafeeiro do Brasil
Desde semana passada, as atenções estão voltadas para o encalhamento do navio porta-contêineres Ever Given no Canal de Suez. O trabalho de liberação do fluxo marítimo levou alguns dias, bloqueando a passagem de outras embarcações pela principal rota marítima que liga Ásia e Europa.
O Ever Given se move para o norte ao longo do Canal de Suez após ser libertado do banco na segunda-feira. Fotógrafo: Islam Safwat / Bloomberg
Na última sexta-feira (26), o mercado de café também voltou as atenções para o local, já que quase todas as importações de café conilon para a Europa do Vietnã passam pelo canal de Suez, e um fechamento prolongamento poderia levar a interrupções no fornecimento global de café. Os preços na Bolsa de Londres chegaram a subir mais de US$ 30 por tonelada na sessão, mas voltaram a recuar nesta segunda-feira (29).
Em relação aos embarques de café, Marcos Matos, diretor geral do Cecafé, confirma que de imediato, houve impactos no comércio mundial do café verde e solúvel do Vietnã para os principais mercados globais. "Contudo, fatos como esse afetam a todos e aprofundam um problema já observado aqui no Brasil, que é a falta de espaços nos navios e de contentores", disse ao Notícias Agrícolas.
O porta-voz explicou ainda que apesar das exportações nos dois primeiros meses de 2021, favorecendo o alcance de volume recorde embarcado pelo Brasil até agora no ano safra (julho de 2020 até fevereiro de 2021), o mês de março já demonstra que esses desafios logísticos impactam as vendas externas do país, "conforme se poderá observar no relatório das exportações do Cecafé, que será divulgado na próxima semana", afirma.
A preocupação com a oferta de contêineres, no entanto, não é novidade para o setor cafeeiro do país. Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé, há um ano, já afirmava que a pandemia poderia agravar um cenário logístico marítmo fora da normalidade para os embarques do Brasil.
Nesta segunda-feira (29), Lúcio confirma que apesar dos embarques aquecidos de café, o setor segue acompanhando e mesmo com a normalidade no Canal Suez, a tendência é que o problema se agrave nas próximas semanas a nível mundial, mas que para o Brasil, em específico, não deve trazer grandes problemas, já que os embarques do Brasil não passam pelo canal de Suez.
"O tráfego marítimo foi alongado por conta dos navios que estavam esperando para passar lá. Já estava meio complicada a parte de logística e pode complicar um pouco mais. Mas, acredito que daqui a pouco supera e tenho certeza que será para os nosso negócios imperceptível", afirma Lúcio.
Já em relação aos volumes de contêineres, Lúcio destaca que a China vem demandando muito frete marítimo, e acaba afetando de alguma forma os embarques. "Se o exportador chega e paga mais do que o nosso comprador de café pagou, com certeza dão preferência para eles. É questão de competição", explica. Relata ainda que na última semana, a disponibilidade de contêineres melhorou, mas alerta que ainda há bastante café para embarque da safra 2020, que inclusive foi de produção recorde para o Brasil.
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