Café: "Qualquer produção abaixo de 60 milhões de sacas é insuficiente", analisa Safras & Mercado

Publicado em 10/03/2021 11:26 e atualizado em 10/03/2021 16:10
Quebra da safra brasileira vai reduzir market share, exportação e estoques de passagem ficarão ainda mais apertados, avalia Gil Barabach

"Qualquer produção abaixo de 60 milhões de sacas de café, é insuficiente para o Brasil", afirmou o analista de mercado Gil Barabach, em evento realizado nesta quarta-feira (10) pela Safras & Mercado. A estimativa de produção para a safra 21 do Brasil da consultoria é de 57,10 milhões de sacas, considerando o ano de bienalidade para o arábica, os problemas climáticos registrados durante 2020 em Minas Gerais e na Alta Mogiana/SP e também uma recuperação na produção de conilon no Espírito Santo e em Rondônia. 

Segundo o analista, caso os números se confirmem abaixo de 60 milhões, não deve ser um impacto apenas para o mercado interno, mas principalmente para o abastecimento de café fora do país. "A gente vai perder market share internacional, vamos exportar bem menos, o estoque de passagem pode ser menor do que observado na safra 19/20, um cenário realmente muito apertado", afirma. 

Em comparação com a safra de 2020, ano de produção recorde para o Brasil, os números da safra geral - considerando a produção de arábica e conilon, sinalizam para uma quebra de 18% na safra 21/22. No caso do café arábica, os números da Safras prevê uma quebra de 30%, enquanto o conilon deve ter um aumento de 18%, com destaque para área de produção no Espírito Santo e Rondônia. 

Gil destacou ainda que operadores já levam em consideração a quebra da safra 21 e que as exportações recordes na temporada 20/21 favorecem a formação de estoques junto aos importadores, o que naturalmente deve aliviar os efeitos da quebra de safra. 


Estimativa é de aumento de 18% na produção do conilon na safra 21

PREÇOS RECORDES 

Na última semana de fevereiro o produtor de café observou preços que não eram praticados pelo mercado desde 2017. Na Bolsa de Nova York (ICE Future US), o mercado testou o topo de 141 centavos de dólar por libra-peso e naturalmente o movimento de alta também foi registrado no mercado físico. 

Apesar da quebra de safra ser expressiva, o analista atribuiu a valorização a uma recuperação dos preços internacionais, que acontece desde o ano passado, mas de forma mais lenta quando comparamos o café com outras commodities agrícolas. "Nós temos em destaque a alta do petróleo, que puxa não só o café, mas que indica esse movimento de recuperação das commodities mundiais", comenta. 

O analista explica ainda que o movimento é considerado uma retomada das atividades, levando em consideração o aumento da imunização contra a Covid-19, pontua ainda que o cenário é mais otimista para o segundo semestre de 2020. Além disso, destaca a atuação dos fundos na formação dos preços recordes. "Não era para o café, naquele momento, bater os 141, mas só bateu porque teve essa intensidade de movimento de fundos dentro do cenário mais otimista. Um movimento mais finaceiro, do que fundamental", explica. 

Os preços voltaram a cair nesta semana, e o mercado segue apresentando volatilidade. Daqui pra frente, Gil destaca que o produtor precisa estar atento a três formadores de preços para entender o mercado, sendo eles: dólar, avanço da imunização e a quebra no Brasil, considerando que a produção do ano passado ainda impede a formação mais expressiva nos preços. "No cenário mundial, a expectativa era mesmo de um começo de ano "mais nervoso", a ideia é que ao longo de 2021 o cenário melhore, principalmente externamente", acrescenta. 

Já em relação aos fatores de baixa para os preços, Gil também acrescenta à lista um consumo mais lento, efeito da pandemia e superávit global estimado no mercado em 10,08 milhões de sacas. Além disso, a formação dos estoques no exterior acaba sendo outro limitador na alta dos preços. "O mercado tem a sombra da safra recorde em 2020 e uma ampla oferta disponível", afirma o especialista.

COMERCIALIZAÇÃO

Levantamento feito pelas Safras & Mercado indica que até o começo de fevereiro, 21% da safra já estava comercializada. "Essa comercialização fora da normalidade se deve aos preços. O produtor só não está vendendo mais porque tem medo do risco de não ter café, mas vemos muito interesse na venda da safra 22", afirma.

No ano que vem, na safra 22, a tendência é de uma nova safra de ciclo alto para o café arábica no Brasil. O levantamento mostra ainda que a comercialização da safra 22, estava entre 12% e 15%. "A safra tende a ser grande de novo, não só na operação de troca, mas também na fixação dos preços", comenta Gil. 

Em relação aos preços daqui pra frente, o especialista afirma que a tendência é de um mercado firme, levando em consideração o gradual avanço das cotações internacionais e a quebra na safra. 

Destaca ainda que a partir de agora operadores seguem atentos ao processo de granação do grão, colheita e qualidade da safra no Brasil. No segundo semestre, as atenções estarão voltadas para a florada no Brasil, que foi justamente a fase mais afetada com a falta de chuva e altas temperaturas da safra em desenvolvimento. 

Com a tendência de bons preços, Gil destaca que o produtor precisa estar atento a volatilidade do dólar e da Bolsa de Nova York, e trabalhar dentro da curva. "O ideal é dosar vendas, fracionar lotes e aproveitar os bons momentos. Administração as posições disponíveis e safra 21, além de estar atento com as oportunidades para a safra 22", finaliza. 

 

Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas

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