Brasil apoia movimento que sensibilize indústria a fomentar renda do cafeicultor; Declaração de Londres não tem consenso

Publicado em 25/09/2019 17:22
Em conferência durante assembleia geral da ONU, representantes do governo e da BSCA creem ser necessárias medidas que gerem renda digna aos produtores

Ajudar a sensibilizar a indústria para que haja uma melhor distribuição de renda na cadeia mundial de valor do café, gerando receita digna aos produtores. Esse foi o consenso dos países cafeeiros na conferência “Actions for a Sustainable Coffee Future”, realizada hoje, em Nova York (EUA), durante a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).
 
No evento, o Brasil marcou presença com o representante do Ministério das Relações Exteriores, conselheiro Felipe Augusto Ramos de Alencar da Costa, lotado na Missão junto às Nações Unidas em Nova York, e a diretora da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA), Vanusia Nogueira.
 
Os representantes dos países produtores, em discurso encampado pelo presidente da Colômbia, Iván Duque, evidenciaram que a cafeicultura é fonte de renda para 25 milhões de famílias, que estão em estado preocupante, pois os preços pagos pelo produto final na xícara e o recebido pelos produtores são bem diferentes, com os cafeicultores ficando com apenas 10% do valor total. O líder colombiano pediu para que sejam valorizados itens como qualidade, Denominação de Origem e cafés sombreados.
 
A Etiópia apresentou preocupações com as famílias cafeeiras, os baixos preços, volatilidade do mercado e mudanças climáticas e orientou que o desafio e a meta da cadeia de valor sejam a sustentabilidade em seus pilares social, ambiental e econômico. O diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável do Instituto da Terra da Universidade de Columbia, professor Jeffrey Sachs, referenciou Brasil e Vietnã como modelos a serem seguidos, especialmente o brasileiro. Ele chamou a responsabilidade à indústria para fomentar a renda dos cafeicultores, permitindo que os pequenos produtores possam melhorar sua performance através de investimento em tecnologia.
 
Representantes dos governos da América Latina presentes ao encontro destacaram que é preciso valorizar a diversidade e os produtos únicos, além de trabalhar o processo de industrialização de propriedades. Sugeriram trabalho conjunto para construir uma proposta útil para regular o mercado, realçaram que a cafeicultura é formada, majoritariamente, por pequenos produtores e, conforme colocação do presidente de Honduras, Juan Orlando Hernandez, sugeriram que seja analisada a possibilidade de uso do *Fundo Verde para o Clima (GCF, em inglês), que tem US$ 10 bilhões, para apoio ao setor.
 
Pela Ásia, o vice-presidente da Indonésia, Jusuf Kalla, expôs que é necessário expandir mercado, encontrar formas para controlar os estoques nos países produtores, por em prática estudos feitos pela Organização Internacional do Café (OIC), principalmente sobre café e saúde para estimular o consumo, e buscar maneiras para estabelecer preço mínimo a pequenos produtores.
 
Segundo a diretora da BSCA, Vanusia Nogueira, são válidas as colocações dos representantes dos países produtores e o Brasil deve apoiar iniciativas que sensibilizem o segmento industrial para uma melhor distribuição de renda na cadeia. “É muito importante nossa participação nesses debates in loco para que o Brasil contribua com as ações que sejam viáveis de implantação e desenvolvimento em prol da cafeicultura mundial”, conclui.

‘Declaração de Londres’ mostra racha entre importadores e exportadores (no ESTADÃO)

A proposta de uma Declaração de Londres, que prega a produção mais sustentável de café no mundo e também a necessidade de manter o mercado da commodity mais equilibrado, para evitar quedas bruscas de preço, como ocorre hoje, divide opiniões dentro da Organização Internacional do Café (OIC), reunida nesta semana na capital britânica. As propostas ainda serão detalhadas – metas para um ano serão apresentadas em novo encontro, na Índia -, mas países produtores se mostraram cautelosos em relação ao projeto, encampado principalmente por importadores e algumas associações representativas.

A Colômbia, por exemplo, disse que vai discutir as propostas internamente. Ruanda reagiu dizendo que o documento apresentado não mostrou um sentido de “urgência” para a resolução dos problemas do setor, que enfrenta um longo período de preços em queda. “Quando voltarmos aos nossos países, precisaremos dar respostas de nossa parte, precisamos de soluções tangíveis”, disse o representante do país.

O Brasil também mostrou desconfiança. “O documento traz um mapa do caminho, mas não existe solução mágica para um problema de grande complexidade como este”, declarou o embaixador da Representação Permanente do Brasil junto a Organismos Internacionais (Rebraslon) em Londres, Hermano Telles Ribeiro, O desafio maior, segundo ele, recai sobre o grupo de países exportadores que está sendo penalizado. “Temos que olhar a declaração para ser examinada pelo conselho e considerar seu endosso por parte dos membros da OIC”, comentou.

No encontro de Londres, o primeiro a pedir a palavra foi o representante da Suíça, que apoiou a proposta, considerada vaga por vários participantes do I Forum de CEOs e Líderes Globais ouvidos pelo Broadcast. A Suíça tem participado intensivamente na OIC – há dois anos chegou a apresentar um candidato para comandar a organização, mas o brasileiro José Sette foi o vencedor.

O porta-voz da União Europeia (UE), que vota em bloco nas decisões da OIC, também foi favorável à iniciativa. “Temos que focar na sustentabilidade do setor e isso começará com a viabilidade econômica para os cafeicultores”, disse. Para ele, é preciso “mudar o paradigma” e incluir o custo da produção real no preço final do produto. “Acreditamos que o consumidor europeu aceitará essa mudança de paradigma”, previu. Também o México fez questão de deixar seu voto garantido: “Apoiamos a resolução de acordo”.

Para o embaixador Telles Ribeiro, no entanto, a Declaração de Londres exigirá que o setor privado, governos e a OIC se engajem em uma agenda única. “A sustentabilidade do setor passa pela questão do preço e pelo aumento sustentado do consumo”, argumentou. “Ao mesmo tempo, a OIC está fazendo uma reflexão estratégica: se vai persistir no acordo atual ou se vai se basear em uma negociação de um novo acordo. Estas duas ações (a do documento do setor privado e o futuro da OIC) têm que ser vistas como único pacote.” O representante do Quênia apoiou as palavras do Brasil.

O preço do café na Bolsa de Nova York tem sido negociado nos últimos meses na casa de US$ 0,89 por libra-peso, atingindo os menores níveis desde setembro de 2005, quando chegou a US$ 0,8815. O índice composto da OIC também vem registrando quedas sucessivas na última década, interrompidas por alguns momentos de retomada.Em agosto, o preço médio da commodity recuou 6,7% na comparação com julho, para 96,07 centavos de dólar por libra-peso.

Nas primeiras operações do ano, o preço do indicador composto diário cedeu para 99,16 centavos de dólar por libra-peso, mas chegou em 31 de janeiro a 103,58 centavos de dólar por libra-peso. Apesar da alta em relação a dezembro, a OIC identificou que o preço médio do mês passado é o menor para janeiro dos últimos cinco anos. No primeiro mês de 2014, o indicador composto estava em 110,75 centavos de dólar por libra-peso. “Os preços continuam sob pressão, com suprimento suficiente na safra 2018/19”, observou a entidade na ocasião.

Fonte: Agência Estado (Por Célia Froufe) via CNC/CCCMG

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Fonte: BSCA

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