Clima faz quebra da safra de café chegar a 30% no PR

Publicado em 13/06/2019 13:45

A estiagem que atingiu o Paraná no final de 2018 e começo de 2019 pode ter comprometido parte significativa da produção estadual de café. Segundo relato de alguns produtores, a quebra na safra atual deve chegar a 30%. Paralelamente a isso, o preço do grão também recuou neste período, impactando negativamente a renda dos cafeicultores.

As altas temperaturas acarretaram floradas desuniformes, com maturação precoce dos frutos. Além disso, a onda de calor pegou as plantas no momento de enchimento dos grãos, trazendo prejuízos na qualidade do produto final. “Este ano a colheita começou no início de abril, quase um mês antes do previsto. Além da queda no volume produzido também tivemos grãos menores”, aponta a engenheira agrônoma do Sistema FAEP/SENAR-PR, Jéssica D’angelo.

A quebra deve alterar a estimativa inicial do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab), que, no início de maio, previa uma produção entre 1 milhão e 1,1 milhão de sacas de 60 quilos. De acordo com o 2º Levantamento Ano/Safra da entidade, durante os anos normais ocorrem três floradas, entre setembro e novembro. Já na atual safra, foi comum a ocorrência de cinco floradas entre julho e dezembro. “Tal situação atrapalhou a eficiência dos tratos culturais e deverá prejudicar o planejamento da colheita”, afirma o documento. Com o maior número de florações, o café amadurece de maneira desigual, o que significa mais dias de trabalho para colher os grãos e menor qualidade da produção.

No município de Carlópolis, na região do Norte Pioneiro, maior produtor de café do Estado, o clima prejudicou as lavouras. Para o produtor Marcelo Teixeira, que cultiva 72 hectares, a perda está contabilizada entre 30% e 35% da produção.

“Já tiramos [os frutos] da árvore, então já dá para ter uma noção do prejuízo. Num ano bom conseguia até 60 sacas [de 60 quilos] por hectare, mas esse ano vai dar 35 sacas no pau da goiaba”, calcula.

Segundo Teixeira, em janeiro a temperatura atingiu picos de 43ºC na sua propriedade. “Meu pai tem 87 anos, é cafeicultor há mais de 50 anos e diz que nunca viu um calor tão grande. Chegou a cozinhar o café”, afirma.

O estrago também afetou as lavouras de outros produtores da região. “Com os meus vizinhos foi igual. Se juntar a quebra com a queda no preço, ultrapassa 50% de prejuízo”, diz Teixeira. Com parte da sua produção classificada como café especial e encaminhada para o mercado internacional, o produtor também lamenta que o clima tenha afetado a qualidade dos grãos. “Normalmente chego a fazer 40% de [café] especial. Nessa safra, com dificuldade, devo fazer 20%”, avalia.

Em Ribeirão do Pinhal, também no Norte Pioneiro, a produtora Raquel Nader Fraiz calcula que irá amargar quebra de 25% nos primeiros lotes beneficiados. Com 84 hectares dedicados ao café, ela conta que, além do volume, a qualidade da produção também foi afetada pelo clima. “Afetou tanto na granulometria, que é o tamanho dos grãos, na renda [proporção de fruto coco em relação ao beneficiado], como também na qualidade da bebida. Como o ciclo da cultura foi muito reduzido, faltando o tempo necessário para o bom desenvolvimento dos grãos, a incorporação de atributos que dão qualidade à bebida foi reduzida”, avalia.

Para agravar a situação, o preço do café também vem apresentando expressiva redução. De acordo com o Deral, em abril o preço médio recebido pelos cafeicultores foi de R$ 364,46 por saca, valor 11,2% menor do que no mesmo período de 2018. Quando comparado à média anual, o preço da saca ficou em R$ 380,76 em 2019, contra R$ 407,30 em 2018 e R$ 439,65 em 2017. “A média de 2019, indica uma queda de 48% em comparação com 2011, o que torna a cafeicultura atual insustentável”, aponta Jéssica, do Sistema FAEP/SENAR-PR. 

Tags:

Fonte: FAEP

NOTÍCIAS RELACIONADAS

Brasil amplia exportação e consumo de café solúvel no primeiro semestre de 2024
Café abre agosto recuando mais de 300 pontos em Nova York
Negócios de café seguem lentos no Vietnã, prêmios caem na Indonésia
Safra de café do Brasil em 2025 pode ter perdas devido ao clima, diz Cooxupé
Café fecha 4ª-feira (31) em queda, mas termina julho no positivo
Após abrir dia em alta, café registra perdas nas bolsas de Nova York e Londres