Café: Condição das lavouras para safra 2018/19 do Brasil repercute entre analistas, mas pesa pouco sobre o mercado
As lavouras de café do Brasil, que vão produzir na safra 2018/19, apresentam intensa desfolha, o que fatalmente terá reflexos na colheita da próxima temporada, conforme reportado pelo Notícias Agrícolas na semana passada. Analistas nacionais e internacionais repercutiram essa condição nos últimos dias que também tem assustado bastante os produtores. O mercado na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), no entanto, sentiu pouco impacto dessas informações.
No acumulado dos últimos sete dias, o café arábica na ICE – principal referência do grão no mundo – teve avanço de 1,24% no vencimento referência dezembro/17, saindo de 129,05 cents/lb para 130,65 cents/lb na sessão da última sexta-feira (8), repercutindo em grande parte os problemas em lavouras de importantes regiões produtoras do Brasil. A título de comparação, na semana em que algumas plantações de arábica tiveram a primeira florada no país, a Bolsa caiu mais de 1,5% no período de 25 de agosto até 1° de setembro. Ficando abaixo de US$ 1,30 por libra-peso.
"A ICE continua sendo a base para a formação de preços para o mercado físico, mas os fundamentos influenciam pouco as cotações em Nova Iorque, dominadas por grandes operadores e seus, a cada dia mais sofisticados, programas lastreados em algoritmos", ponderou em seu último informativo o Escritório Carvalhaes, um dos mais importantes corretores da commodity no Brasil, com sede em Santos (SP).
O analista e vice-presidente da Price Futures Group, Jack Scoville disse em relatório na semana passada que o mercado passou a acompanhar atentamente as condições climáticas recentes no Brasil. "Houveram algumas chuvas e a floração precoce foi relatada. As imagens mostram que a floração está com um começo muito bom. Mas as áreas de café estão novamente secas, e alguns produtores preocupam-se com o fato de as chuvas chegarem muito cedo e criaram floração prematura", disse.
A mesma análise foi feita pela trader sul-africana I&M Smith, ressaltando que "os relatórios meteorológicos do Brasil indicam que a maioria das áreas produtoras de café tiveram uma semana seca e é provável que permaneçam assim na próxima.
Veja fotos de lavouras na região de Campos Gerais (MG):
Diante dessas informações, o mercado já trabalha mais cauteloso ante a perspectiva inicial de que a safra 2018/19 de café do Brasil poderia chegar a 60 milhões de sacas de 60 kg entre arábica e conilon, um recorde para o país que já é o maior produtor e exportador da commodity no mundo. a colheita da safra 2017/18 está praticamente finalizada no país e a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que ela atinja 45,56 milhões de sacas.
De acordo com o analista de mercado e diretor da Comexim nos Estados Unidos, Rodrigo Costa, o clima pode começar a movimentar o mercado. "Fotos de cafezais desfolhados nas áreas que estão secas há mais de dois meses têm circulado pelos e-mails dos participantes, que por ora imaginam uma recuperação do cafezal tão logo o período das águas comece. Eu não me surpreenderia em ver os traders que anteciparam vendas após as floradas nos estados de São Paulo, Rondônia e Espírito Santo começarem a se sentir desconfortáveis e provocar uma puxada nas cotações", disse em relatório.
Para ele, caso as cotações cheguem acima de US$ 131,50 cents/lb elas podem também atrair os fundos de sistema e outros especuladores que adicionaram mais de trinta mil lotes vendidos desde meados de agosto às suas posições, isso "possivelmente levando o contrato "C" para próximo de US$ 140.00 centavos por libra", acredita o analista internacional.
Situação das lavouras no Brasil e previsão para os próximos dias
De acordo com a Fundação Procafé, a desfolha das lavouras de café é uma proteção natural das plantas que, pensando em diminuir a evapotranspiração, perde as folhas. "Com essa condição, as plantas vão acabar tendo maior dificuldade para o pegamento das floradas e, consequentemente, impactos na produção do próximo ano", afirma o engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, em Franca (SP), Marcelo Jordão Filho. O pesquisador salienta que já são quase 60 dias sem chuvas na região da Alta Mogiana.
"Ainda é difícil quantificar perdas, mas o fato é que mesmo lavouras de carga baixa e média já estragaram demais, a falta de chuva neste ano vem desde janeiro, fevereiro e março, e agora está muito calor. A mega safra esperada para 2018, talvez não seja tão grande assim", afirma o produtor de Campos Gerais (MG) e tecnólogo em cafeicultura e Meio Ambiente, Francisco de Paula Vitor Miranda.
Mapas climáticos apontam que o clima deve continuar quente e seco na maioria das áreas produtoras do Brasil nesta semana. Há somente chances de chuvas fracas no Norte do Espírito Santo e na Bahia, com a umidade que vem do mar. "Chuvas abaixo da normal são esperadas na maioria das áreas de café nos próximos seis a 10 dias", disse à Reuters Kenny Miller, da MDA Weather Services.