CNC: Fórum Mundial identifica a perda de rentabilidade dos cafeicultores como o principal problema da atividade
BALANÇO SEMANAL — 10 a 14/07/2017
O presidente do CNC expôs que o País, em 1990, produzia 25 milhões de sacas de café em 2,9 milhões de hectares e que, atualmente, a produção saltou para 50 milhões de sacas em uma área menor, de apenas 1,9 milhão/ha, o que implica um ganho substancial de produtividade – de 8 scs/ha para 26 scs/ha – e evidencia o resultado dos investimentos do Brasil em pesquisa e tecnologia, contribuindo para a preservação do meio ambiente e para suprir a evolução do consumo da bebida, que saltou de 90 milhões para 155 milhões de sacas nesse intervalo. Ele também explicou que a cafeicultura brasileira preza por remuneração justa a seus trabalhadores, de forma que tenham melhor qualidade de vida, enaltecendo o caráter social da atividade.
Frente a esse cenário, Silas Brasileiro esclareceu que a sustentabilidade tem um preço a ser pago, pois são altos os investimentos em pesquisas, no social e na preservação do meio ambiente. Mas quem paga por isso? Ele respondeu citando que apenas o Brasil e os demais produtores têm arcado com esse ônus. Diante disso, o presidente do CNC finalizou reiterando que, para a sustentabilidade na produção cafeeira ser mantida, é necessário que os demais setores da cadeia produtiva contribuam com os gastos relacionados aos elos social e ambiental.
DECLARAÇÃO DO FÓRUM MUNDIAL — O encontro realizado na Colômbia contou com debates ativos em quatro Grupos de Trabalho: (i) produção e produtividade; (ii) volatilidade de preços; (iii) sucessão familiar e trabalho; e (iv) mudanças climáticas. De forma democrática, as conclusões desses GTs vieram das orientações das 1.300 pessoas presentes e originaram a “Declaração Final do Fórum Mundial de Produtores de Café”, que visou a responder duas perguntas: “a cafeicultura mundial é sustentável sob o ponto de vista do produtor?” e “o que podemos fazer coletivamente para corrigir os problemas que se apresentam?”.
As discussões entre os participantes mundiais do Fórum diagnosticaram, como os principais problemas da cafeicultura global, os seguintes pontos:
1. A rentabilidade da atividade cafeeira em muitos países produtores apresenta uma situação crítica, passando inclusive por períodos de déficit, devido a fatores como: (i) o menor preço internacional do café, que diminuiu drasticamente o “potencial de troca” do produto, ou seja, reduziu o poder de compra do produtor; (ii) baixa produtividade e o consequente aumento dos custos de produção associados à variabilidade climática; e (iii) o encarecimento dos gastos com mão de obra para os trabalhos do cultivo como a colheita.
2. A perda da rentabilidade resultou em um percentual significativo de produtores de café que se encontra em estado de pobreza no mundo, com privações em sua qualidade de vida (moradia, acesso a serviços públicos, atraso e baixa assistência educacional, restrito acesso a sistemas de saúde, etc.) e redução da capacidade de reinvestir em seus cafezais.
3. Embora o desenvolvimento de cafés especiais tenha gerado “prêmios” aos produtores nas últimas décadas, eles não têm sido suficientes para compensar os custos associados à certificação. A análise do valor da cadeia global de café mostra, ainda, que a fração que chega até os cafeicultores é muito baixa, em contraste com a recebida pelos demais segmentos do comércio até o consumidor final.
4. Se não forem implantadas ações corretivas que busquem resolver o problema identificado, de forma coordenada e que garantam o financiamento da atividade, o mundo pode presenciar, em médio prazo, uma crise caracterizada pelo declínio estrutural na oferta mundial de café, com o consequente reflexo no nível de vida dos produtores e na estabilidade social em suas regiões, enquanto a demanda mundial continuará a crescer, sem ser atendida, gerando desequilíbrios indesejáveis no mercado que podem comprometer a sustentabilidade da cadeia global.
Diante dos problemas identificados, os quatro Grupos de Trabalho propuseram, como resoluções:
1. Trabalhar, de maneira corresponsável, com todos os agentes da cadeia mundial e com o apoio da Organização Internacional do Café (OIC), no desenvolvimento de um Plano de Ação que deverá partir dos problemas que enfrenta a atividade cafeeira em suas diversas regiões do planeta, considerando: (i) níveis muito baixos do preço ao produtor e a excessiva volatilidade, sendo a maior fração destinada aos demais elos da cadeia produtiva; (ii) adaptação às alterações climáticas; (iii) escassez de mão de obra e dificuldade na sucessão familiar; e (iv) precárias condições sociais dos produtores.
2. O Plano de Ação deverá definir os objetivos a serem buscados, o tempo demandado e o financiamento necessário para alcança-los.
3. Deve ser gerido, ao mais alto nível da representação de indústrias, doadores e cooperação internacional, agências multilaterais e governos nacionais e locais, um compromisso de corresponsabilidade para a implantação deste Plano de Ação e a obtenção dos recursos financeiros para a sua execução.
4. Como ponto de partida deste Plano de Ação e com base nos subsídios gerados no Primeiro Fórum Mundial de Produtores de Café, será elaborado um estudo por uma entidade independente para analisar o comportamento dos preços nos últimos 40 anos, o comportamento dos custos de produção nesse mesmo período e a correlação entre os dois. O estudo analisará se as cotações internacionais do café, tanto na Bolsa de Nova York, quanto na de Londres, refletem a realidade do mercado físico e apresentará soluções alternativas aos problemas identificados no Fórum.
5. Para o desenvolvimento dos trabalhos propostos no Plano de Ação, será formada uma Comissão composta por dois representantes de associações de países produtores da África, dois do México, dois da América Central e Caribe, dois da América do Sul e dois da Ásia, além de pelo menos um representante do setor industrial de cada uma das seguintes regiões: América do Norte, Europa e Ásia.
6. Essa Comissão deverá apresentar um relatório do progresso dos trabalhos na reunião do Conselho Internacional da OIC de março de 2018.
7. O próximo Fórum Mundial de Produtores de Café será realizado em 2019 e a Comissão coordenará junto aos países a sede da edição seguinte.
ESTOQUES PRIVADOS — Na quarta-feira, 12 de julho, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou que os estoques privados de café da safra 2016 do Brasil totalizavam 9,86 milhões de sacas de 60 kg em 31 de março. Segundo a pesquisa da estatal, esse volume implica queda no volume armazenado de 27,4% na comparação com as 13,59 milhões de saca registradas um ano antes.
A Conab informou que foram consultados 931 armazenadores, que são responsáveis por 1.495 armazéns participantes. Desse total, contudo, somente 575 questionários foram preenchidos, sendo que outros 920 armazéns não comunicaram o volume de seus estoques de café.
O CNC avalia que o resultado da pesquisa realizada pela Companhia corrobora a tendência de redução dos estoques de café do Brasil, porém, em termos absolutos, o número apurado não deve ser considerado como parâmetro para a formulação de políticas públicas, uma vez que a taxa de retorno dos boletins foi baixa.
A esse respeito, chamamos a atenção para a necessidade de conscientização de todos os agentes da cadeia produtiva do café para que, anualmente, respondam em tempo hábil as informações solicitadas pela Conab, pois é responsabilidade de todos a construção de um sistema mais claro e confiável de estatísticas cafeeiras.
MERCADO — Em uma semana de baixa volatilidade, o mercado andou de lado, com as férias de verão no Hemisfério Norte afastando o interesse comprador por parte dos importadores. Nesse cenário, o mercado internacional do café registrou ganhos moderados.
Na ICE Futures US, o vencimento setembro do Contrato C foi cotado, na quinta-feira, a US$ 1,3120 por libra-peso, registrando valorização de 230 pontos em relação ao final da semana passada. O vencimento setembro do contrato futuro do robusta, negociado na ICE Futures Europe, encerrou o pregão de ontem a US$ 2.145 por tonelada, acumulando alta de US$ 34 na comparação com a última sexta-feira.
A alta moderada surgiu com a valorização do real frente ao dólar, após a divulgação da informação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado, em primeira instância, pelo juiz Sérgio Moro a nove anos e meio de prisão por recebimento de propina da empreiteira OAS e a compra de um tríplex no Guarujá (SP).
O dólar comercial encerrou a sessão de quinta-feira a R$ 3,2082, com queda de 2,17% frente à semana antecedente. O avanço do real também foi estimulado pela aprovação da Reforma Trabalhista no Brasil.
No que se refere ao clima, as condições seguem favoráveis para o andamento da colheita no Brasil. Segundo a Somar Meteorologia, uma ampla massa de ar seco gera dias de sol, poucas nuvens e baixa umidade relativa do ar em boa parte do País, não havendo possibilidade de chuvas nas principais áreas do cinturão produtor.
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informou, nesta semana, que a colheita de conilon está na reta final no Espírito Santo, principal Estado produtor do Brasil. A instituição explica que, mesmo com os atrasos iniciais provocados pela ocorrência de precipitações, já foram colhidos cerca de 95% dos grãos capixabas, indicando que os trabalhos podem ser encerrados em duas semanas.
De acordo com o Cepea, o clima mais seco também favoreceu o andamento da colheita da variedade arábica, que se encontra nos seguintes estágios: (i) Cerrado Mineiro – 45% a 50%; (ii) Zona da Mata – 45%; (iii) Sul de Minas – 35%; (iv) noroeste do Paraná – 45%; e (v) Mogiana e demais regiões de São Paulo – 35%.
No mercado doméstico, os indicadores calculados pelo Cepea para as variedades arábica e conilon tiveram pouca oscilação e foram cotados, ontem, a R$ 450,22/saca e a R$ 408,39/saca, com variações de 0,7% e -0,9%, respectivamente, na comparação com o fechamento da semana anterior. Nesse ambiente, de maneira geral, a liquidez permaneceu baixa.