Por responsabilidade, CNC orienta renovação gradual do parque cafeeiro no Brasil e não ampliação da área destinada à cultura

Publicado em 20/04/2017 15:27

BALANÇO SEMANAL — 17 a 20/04/2017

RENOVAÇÃO DO PARQUE CAFEEIRO — Em seu mais recente relatório sobre o mercado, a Organização Internacional do Café (OIC) destacou o equilíbrio existente entre oferta e demanda mundiais, que se deu pela transferência dos estoques dos países produtores para os consumidores. “Apesar de uma safra escassa de conilon no Brasil e no Vietnã, o que manteve o mercado bem suprido no período de outubro de 2016 a fevereiro de 2017 foram os estoques mais alentados que no ano anterior nos países produtores e ao crescimento contínuo dos estoques nos países consumidores”.
 
A OIC completa informando que “esse panorama, combinado com perspectivas cada vez mais positivas para a safra 2017/18, indica que não haverá uma inversão do declínio gradual dos preços no mercado observado no presente momento”. Aliado a isso, temos notado, no Brasil, em pleno início da colheita de robusta e às vésperas dos trabalhos de cata do arábica, o crescimento da instalação de viveiros de mudas de café e a preparação do solo para novos plantios, fato extremamente preocupante, uma vez que vai na contramão das sinalizações do mercado mundial e acabará por ocasionar a expansão da área e o aumento desregrado da produção.
 
Como representante do setor produtor, o CNC mantém sua responsabilidade de orientar que a renovação do parque cafeeiro precisa e deve ser feita com sensatez e, de fato, com a revitalização das lavouras antigas em áreas já destinadas ao cultivo do fruto e não com a abertura de novas lavouras. Diante dessa preocupação e da consciência em não estimular excesso de oferta e aviltamento dos preços, estamos desenvolvendo um projeto de renovação do cinturão produtor que permita que nossas safras futuras atendam à crescente demanda, mas de maneira sustentável através do aumento da produtividade, que se dará por meio do plantio, em espaçamentos melhores, de novas variedades mais resistentes a pragas e doenças, mais produtivas e precoces, rendendo colheita a partir do segundo ano.
 
Os próximos passos desse projeto envolverão visitas a campo para contatos com nossas cooperativas e suas diretorias, de forma que identifiquemos as principais necessidades e as áreas que precisam de renovação de maneira mais pontual. Destacamos, ainda, que a renovação deve ser feita de forma escalonada, não ocasionando impactos substanciais nas safras e nos preços, que atualmente se encontram nos mesmos níveis praticados em 1982.
 
Por fim, conciliando o fato de não gerarmos excesso de produção e cenários que permitam preços mais justos aos cafeicultores no mercado, o CNC destaca a realização do I Fórum Mundial de Produtores de Café, que ocorrerá de 10 a 12 de julho, em Medellín, na Colômbia, e terá como foco principal a sustentabilidade econômica na cafeicultura, terça parte do tripé sustentável esquecido pelos demais setores, que exigem preservação ambiental e melhoria social, o que os produtores entregam, mas sem receber melhores valores por isso. Ou seja, não há sustentabilidade econômica e, subsequentemente, nem equilíbrio nessa falsa relação sustentável.
 
PREÇO MÍNIMO — Na quarta-feira, 19 de abril, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou, no Diário Oficial da União, os novos preços mínimos para o café na safra 2017. Com base no levantamento de custos de produção realizados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a variedade arábica teve sua cotação mínima estipulada em R$ 333,03 para a saca de 60 kg do grão tipo 6, bebida dura para melhor, com até 86 defeitos, peneira 13 acima, admitido até 10% de vazamento e teor de umidade de até 12,5%, enquanto o preço do robusta foi determinado em R$ 223,59 por saca do café tipo 7, com até 150 defeitos, peneira 13 acima e teor de umidade de até 12,5%.
 
Ao longo dos últimos meses, o CNC se reuniu três vezes com o Governo Federal para tratar da matéria. Em duas audiências no Mapa e em uma na Conab, apresentamos que o estudo desenvolvido pela estatal possuía incoerências com a realidade do campo, o que impactaria negativa e diretamente no estabelecimento dos preços mínimos para o café na safra 2017.
 
Nessas oportunidades, identificamos que a Conab estimou, nos sistemas mecanizados de produção do Sul de Minas Gerais e de São Paulo – que possuem significativa participação na produção nacional –, forte retração das despesas com operações de máquinas, entre novembro de 2015 e novembro de 2016, destoando completamente do que o CNC identificou junto a seus associados, quando observamos, em todas as áreas produtivas de café, aumento do custo da hora/máquina suportado pelo produtor e a manutenção de máquinas e equipamentos próprios, pelos altos custos de peças, além do aumento do combustível.
 
Outro argumento utilizado pela Conab para justificar a evolução pouco significativa dos custos do arábica se refere às menores despesas com fertilizantes e juros. No tocante aos gastos com fertilizantes, embora a evolução do dólar em 2016 tenha contribuído para um menor preço ao produtor, devemos atentar que o ano de 2017 se iniciou com tendência de aumento dos valores desses insumos devido a problemas de menor oferta, principalmente dos nitrogenados.
 
Quanto aos juros, o CNC recorda que o custo do financiamento agrícola, inclusive ao amparo do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira (Funcafé), sofreu aumento em 2016 devido ao cenário macroeconômico do Brasil. Não obstante tenha sido intensificada a queda da Selic em janeiro, não temos observado, na prática, uma redução generalizada dos juros dos financiamentos tomados pelos cafeicultores. Além disso, também não sabemos qual será a efetiva redução dos juros no Plano de Safra 2017/18, por isso consideramos prematura qualquer estimativa de retração dessa despesa para embasar um menor reajuste dos preços mínimos do café.
 
A Conab também credita a evolução pouco significativa do custo de produção variável do arábica aos pacotes tecnológicos adotados pelos produtores. Em relação a esse ponto, recordamos que 79% dos cafeicultores brasileiros (230 mil produtores) cultivam áreas de até 10 hectares. Outros 7% (20 mil produtores) possuem de 10 ha a 20 ha, ou seja, 85% das propriedades cafeeiras são de pequeno porte. Essa pulverização dificulta o acesso à tecnologia de forma generalizada, principalmente na situação atual de dificuldade dos servidos estaduais de assistência técnica e extensão rural, por isso o CNC questiona esse argumento apresentado pela Conab para mitigar o aumento dos custos suportados pelos produtores de café.
 
Manteremos nossos contatos e as negociações com o Governo Federal para que, de fato, diferente do ocorrido nas últimas safras, a realidade da cafeicultura seja considerada nos trabalhos da Conab e passemos a ter preços mínimos mais condizentes com a verdade dos custos de produção da atividade, o que permitirá termos valores de referência para programas de subvenção aos produtores nos momentos em que ocorra uma forte queda nas cotações praticadas no mercado.
 
MERCADO – Influenciados principalmente pela valorização do dólar ante o real, os futuros do arábica devolveram os ganhos acumulados no início da semana, encerrando o pregão de ontem com significativas perdas.
 
No Brasil, a moeda norte-americana encerrou a quinta-feira a R$ 3,1472, com alta de 0,4% em relação ao fechamento da semana anterior. O comportamento da divisa seguiu em linha com o índice externo, que se valorizou frente à preocupação dos investidores com o cenário geopolítico internacional. No âmbito doméstico, a agenda das reformas da previdência e trabalhista também exerceu influência sobre a precificação do câmbio.
 
As condições climáticas seguem favoráveis ao desenvolvimento das lavouras cafeeiras do Brasil. Segundo a Somar Meteorologia, para a próxima semana estão previstos baixos acumulados, com má distribuição espacial, sobre as áreas produtoras do Sudeste. Porém, a Climatempo avalia que as chuvas, embora irregulares, serão mais que suficientes para manter a umidade do solo em nível adequado ao bom desenvolvimento dos cafezais.
 
Por outro lado, a combinação de chuvas e altas temperaturas nos últimos meses contribuiu para o avanço da ferrugem. A Fundação Procafé alertou para a necessidade de monitoramento e controle da infestação de ferrugem nos cafezais da Mogiana e do Sul de Minas, onde o índice encontra-se 7% acima da média do período. A última pulverização antes da colheita, com fungicida sistêmico específico, deve ser realizada até o final de abril.
 
O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) informou que a colheita do conilon no Espírito Santo começou efetivamente nesta semana. O clima foi um pouco mais favorável ao desenvolvimento da safra, de forma que menos grãos verdes têm sido necessários para o preenchimento de uma saca beneficiada e grande parte dos cafés precoces tem sido classificada como peneira 13 acima. Em Rondônia, mesmo com a continuidade das chuvas, a colheita avança sem maiores problemas e os grãos apresentam boa qualidade.
 
Na ICE Futures US, o vencimento julho do Contrato C foi cotado, na quarta-feira, a US$ 1,4065 por libra-peso, com queda de 60 pontos em relação ao fechamento da semana passada. O vencimento julho do contrato futuro do robusta, negociado na ICE Futures Europe, encerrou o pregão de ontem a US$ 2.174 por tonelada, sem alterações significativas frente à última sexta-feira.
 
O mercado doméstico seguiu com baixa liquidez no spot. Vendedores continuam retraídos já que os preços encontram-se aquém das suas expectativas. Também há retenção na ponta compradora devido ao avanço da colheita nas regiões produtoras de conilon. Os indicadores calculados pelo Cepea para as variedades arábica e robusta foram cotados, ontem, a R$ 468,37/saca e a R$ 410,89/saca, respectivamente, com variações de -1% e -0,9%, em relação ao fechamento da semana anterior.


Fonte: CNC

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