Agrimoney: Brasil perto de perder título de maior exportador de café para o Vietnã

Publicado em 10/03/2017 18:19

Comerciantes de café do Brasil reafirmaram a capacidade de atender a demanda, mesmo quando os dados mostram que o país está perto de perder o primeiro lugar nas exportações para o Vietnã – pelo menos, temporariamente – já que as remessas de robusta (conilon) caíram para uma baixa de vários anos.

Nelson Carvalhaes, presidente do grupo de exportadores Cecafé, ressaltou a capacidade do Brasil de embarcar "quase 2,5 milhões de sacas" de café no mês passado. Isso, apesar do feriado de carnaval, "prova nossa competência para atender à demanda".

No entanto, as 2,48 milhões de sacas de 60 kg que o Brasil embarcou em fevereiro foi o menor valor em quatro anos para o mês, e 15,5% abaixo do volume registrado no mesmo período do ano passado, refletindo uma desaceleração nos embarques do grão robusta.

O país também esteve perto de ser batido pelo Vietnã, maior produtor da variedade, que exportou 146.402 toneladas (2,44 milhões de sacas) de café no mês passado, segundo dados de exportação.

Esse número representa um salto de 23% nas exportações do país, apesar do Vietnã ter enfrentado em fevereiro interrupções em seu mercado por conta das celebrações do Tet, conhecido como Ano Novo Vietnamita.

"Excedeu todas as previsões"

De fato, a força dos embarques do Vietnã surpreendeu muitos envolvidos de mercado, como a trader I&M Smith observando que os dados "excederam todas as previsões".

As autoridades vietnamitas previram as exportações do país no mês passado em sacos de 2,17 milhões de sacas, enquanto as previsões comerciais variaram de 1,83 e 2,33 milhões de sacas.

O aumento nas exportações também veio sem o suporte do Brasil – que, diante do uso da oferta internamente após anos consecutivos da cultura sendo afetada pela seca, chegou a propor a importação do grão robusta do Vietnã, mas depois colocou a ideia em espera para reavaliar os estoques domésticos.

"Se o Brasil talvez tivesse sido mais rápido nessa meta, teria sido ultrapassado nas exportações no mês passado", disse um trader de commodities soft ao Agrimoney.com.

Limite de vários anos

O aperto na oferta brasileira de robusta foi sublinhado pelos dados do Cecafé, que mostram que os embarques do grão caíram no mês passado para 9,62 mil sacas - uma queda de 57% em relação ao mês anterior e de 86% em relação ao mesmo período do ano anterior.

É também o menor número reportado desde que os dados foram disponibilizados, que remontam a 2012.

As exportações do grão arábica totalizaram de 2,22 milhões de sacas, caindo 8,1% de um mês para o outro e 12,9% em relação ao mesmo período do ano anterior.

Quanto aos importadores, das 5,11 milhões de sacas de café que o Brasil exportou nos dois primeiros meses do ano, a Alemanha foi o principal destino, com 1 milhão de sacas, um aumento de 2,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, empurrando os Estados Unidos para o segundo lugar.

As exportações dos EUA, totalizaram 957,73 mil sacas em janeiro e fevereiro, queda de 14,6%.

Resistência à venda

Estima-se que as exportações de café do Brasil poderiam contrariar a relutância dos produtores em vender. Carvalhaes, do Cecafe, indicou que os cafeicultores estão "resistentes à venda do café pelos preços atuais", mesmo que as cotações no país estejam preservadas por um real mais fraco provenientes da queda da Bolsa de New York.

De fato, os produtores parecem estar apostando na continuidade da desvalorização da moeda, o que aumenta o valor de ativos como o café pela comercialização internacional em dólares, disse a I&M Smith.

Também há boatos de que os produtores brasileiros estejam projetando uma expectativa de safra mais fraca em 2017 – um ano de bienalidade negativa no ciclo do Brasil, que tem anos alternados de produção alta e baixa.

Exportações X Demanda doméstica

No entanto, I& MSmith também sinalizou resistência aos embarques vietnamitas para consumo doméstico, que "está aumentando constantemente e as estimativas são de cerca de 2,8 mi sacas por ano".

Devido a decepcionante colheita de 2016/17 e a necessidade de atender a demanda doméstica "é provável que os volumes de exportação de café robusta do Vietnã comecem a cair em maio deste ano".

Tradução: Jhonatas Simião // Jéssica Ruza

Fonte: Agrimoney

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