Café: Preço do robusta dispara, chega ao do arábica no Brasil e pode subir mais, afirma analista
O preço do café robusta brasileiro, ou conillon, nunca esteve tão alto no país como agora e pode subir ainda mais, segundo o analista e diretor da Pharos Corretora, Haroldo Bonfá. Em algumas praças de comercialização, a variedade chegou a ser vendida nos últimos dias pelo mesmo preço do arábica, cerca de R$ 500,00 a saca de 60 kg. Um valor histórico. Essa disparada na cotação do robusta está relacionada aos anos seguidos de seca no Espírito Santo, maior estado produtor da variedade no país.
Os cafeicultores capixabas enfrentam condições climáticas adversas desde 2014, o que fez com que a produção caísse ano a ano, totalizando 7,8 milhões de sacas em 2015, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Já na safra 2016/17, a autarquia indicou que a colheita no estado deve ser de cerca de 5 milhões de sacas. O consumo desse tipo de café no Brasil é de 12,2 milhões de sacas. Em meio à crise hídrica, o governo do estado priorizou o consumo humano e proibiu a irrigação das lavouras de café em algumas cidades. Cerca de 80% das plantações de robusta no Espírito Santo utilizam sistemas irrigados.
Média pluviométrica do Espírito Santo nas áreas de café robusta
Fonte: Pharos Corretora, com dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia)
Média pluviométrica de Minas Gerais e São Paulo nas áreas de café arábica
Fonte: Pharos Corretora, com dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia)
"Os preços do café conillon (robusta brasileiro) estão nas máximas históricas. Já vivenciei tempos em que a variedade era vendida no Brasil por cerca de R$ 50,00 a saca, agora ele está quase em R$ 500,00 e pode subir mais. Estamos em outubro e já há informações de que a próxima safra terá quebra de até 40%. A situação no estado só se complica", explica o analista e diretor da Pharos Corretora, Haroldo Bonfá.
O Vietnã, maior estado produtor de robusta no mundo, também enfrentou problemas climáticos nos últimos anos, o que motivou o Brasil a exportar volume recorde em 2015, mais de 4 milhões de sacas, mesmo tendo baixa produção. No entanto, neste ano, segundo Bonfá, esse dado não deve passar de 1 milhão de sacas. Diante do cenário complicado de oferta no mercado, o especialista faz um alerta: "A dica que temos dado aos nossos clientes é de que segurem as vendas. A alta tem sido constante nos preços", explica Bonfá.
Na segunda-feira (17), os contratos do café robusta negociados na Bolsa de Londres (ICE Futures Europe), antiga Liffe, testaram máximas de dois anos e fecharam ao redor de US$ 2100,00 por tonelada.
O Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da ESALQ/USP), que compila indicadores de diversas commodities no Brasil, registrou o Indicador do robusta CEPEA/ESALQ do tipo 6, peneira 13 acima, (a retirar no Espírito Santo) em R$ 507,09 a saca de 60 kg, o maior valor real da série histórica do centro, iniciada em novembro de 2001 (preços atualizados pelo IGP-DI de setembro/16).
Com a recente disparada nos preços do café robusta, o diferencial da variedade ante o arábica é o menor já registrado pelo Cepea, considerando-se toda a série histórica. Na terça-feira, a diferença entre os valores das variedades foi de apenas R$ 8,07 a saca, com o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, posto na capital paulista, fechando a R$ 515,16 a saca. (Veja o gráfico abaixo)
"A seca e a falta de água para irrigação, inclusive, fizeram com que muitos cafeicultores do Espírito Santo arrancassem os pés de cafés, mas alguns produtores já se mostram interessados em renovar parte dos cafezais nos próximos meses, caso as chuvas venham com força. Já em Rondônia, muitos produtores também arrancaram os pés, mas a renovação não deve ocorrer, já que cafeicultores estão frustrados com a cultura", informou o Cepea em nota.
Em Rondônia, a Conab estimou produção de 1,7 milhão de sacas para esse ano, mas colaboradores do Cepea indicaram que a colheita não superaria um milhão de sacas. A qualidade do café foi comprometida pelo clima nos dois estados.
Durante o 42º Congresso Brasileiro de Pesquisas Cafeeiras, em Serra Negra (SP), o presidente da Fundação Procafé, José Edgard Pinto Paiva revelou as projeções baixistas da entidade em 2017 para o país. "Na média, teríamos no próximo ano uma produção de 39 milhões de sacas entre arábica e robusta, isso representa uma queda de 20% em relação a 2016. Esses números não são finais, porque ainda são necessários levantamentos de campo, mas refletem a realidade do mercado", explica. O Espírito Santo teria produção de robusta entre 5 e 6 milhões de sacas.
Ele aponta a necessidade de renovar o parque cafeeiro do Brasil por cultivares mais produtivas e resistentes. "Na Fundação Procafé, existem mais de 10 novas variedades, mas 95% das lavouras do Brasil ainda utilizam variedades antigas e obsoletas". A média de produtividade, que atualmente é de 25 sacas por hectare, também está abaixo do suficiente, que deve ser a partir de 30 sacas por hectare.
Arábica ganha espaço
Com a escassez de café robusta no mercado brasileiro, as torrefadoras têm utilizado tipos de menor qualidade da variedade arábica na composição de seus blends. A situação, inclusive, fez com que o governo brasileiro iniciasse vendas de seus estoques de safras passadas para equilibrar o mercado. Desde janeiro, a Conab já comercializou, em 24 leilões, mais de 500 mil sacas de café de um total de 1,25 milhão de sacas dos estoques públicos. Restam ainda cerca de 260 mil sacas, que devem ser comercializadas até dezembro.
Com a proximidade da próxima safra, que deve ser de bienalidade baixa para a maioria das regiões produtoras de arábica, a variedade também subiu recentemente no Brasil. Na terça-feira, o Indicador CEPEA/ESALQ do arábica tipo 6, bebida dura para melhor, teve a saca de 60 kg cotada a R$ 515,16 com valorização de 0,92%. "O arábica até está em uma situação mais confortável, mas a produção da variedade também pode sofrer com as intempéries climáticas no próximo ano", diz Haroldo Bonfá.
Em entrevista recente ao jornal Folha de S. Paulo, o diretor-executivo da ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café) comentou a preocupação da indústria com o desabastecimento de café robusta no Brasil. "É um cenário que nunca vi antes", diz o executivo que acredita que os custos serão repassados para o consumidor. "Há um desabastecimento que afeta tanto o setor interno como o externo", ressalta.