Brasil deve iniciar 2016 com o menor estoque de passagem de café da história

Publicado em 22/01/2016 10:41

Como o Brasil conseguiu exportar volumes recordes de café nos últimos dois anos mesmo registrando a terceira queda consecutiva na safra? Essa é uma pergunta que muitos envolvidos no mercado fazem todos os dias. A resposta está nos estoques de passagem do País, acumulados de anos anteriores, e que conseguiram suprir os bons volumes de exportação. No entanto, esses estoques podem ser os menores da história em 2016, e com isso, o Brasil que é o maior produtor e exportador da commodity no mundo, deve ter dificuldades para acumular excedentes.

"Devemos ter em março deste ano o menor estoque da história , entre 4 e 5 milhões de sacas de 60 kg. Ainda assim, acreditamos que o País terá produção suficiente para honrar com todos seus compromissos", afirma o presidente do CNC (Conselho Nacional do Café), Silas Brasileiro, que acredita que o baixo volume armazenado pode contribuir para manutenção dos preços em níveis que garantem o mínimo de rentabilidade aos cafeicultores.

Em 2015, o Brasil exportou volume recorde pelo segundo ano consecutivo, de acordo com dados do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O País embarcou 37,12 milhões de sacas do produto. Desse total, a quantidade de café verde foi de 33,41 milhões de sacas; de café solúvel, 3,38 milhões de sacas; e de torrado e moído, 33,31 mil sacas. Nos anos de 2013 e 2014 foram exportadas 32,01 e 36,73 milhões de sacas, respectivamente.

Já o consumo doméstico de café no ano passado foi de 20,5 milhões de sacas, ficando atrás somente dos Estados Unidos, disse a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café). A Instituição informou ainda que a demanda interna pelo grão pode crescer para 21 milhões de sacas em 2016.

Em março de 2015, os estoques privados de café do Brasil tiveram queda de 5,6% em relação a 2014, para 14,4 milhões de sacas. Já os estoques públicos, AGF (Aquisições do Governo Federal) e Aquisições de Contrato Opção, totalizaram em dezembro do ano passado 5,3 mil e 1,6 milhão de sacas, respectivamente. O menor volume em estoque privado do Brasil, até então, foi registrado em 2012, com 8,4 milhões de sacas. A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) faz anualmente o levantamento dos estoques com integrantes do setor, por meio de questionários. Para a realização da última pesquisa, 94% dos 816 armazenadores responderam a sondagem.

Os especialistas de mercado, tanto do Brasil quanto do exterior, questionam a fragilidade no levantamento da Companhia. Eles também têm dúvidas em relação à produção do País – esse pensamento ganhou mais força após a divulgação dos números recordes de exportação, por dois anos consecutivos –. "Eles costumam ser céticos com os números da Conab, infelizmente o Brasil não tem credibilidade no mercado", explica o consultor de café, Marco Antônio Jacob.

De acordo com a analista de soft commodities da J. Ganes Consulting, Judith Ganes-Chase, apesar de duas colheitas seguidas prejudicadas pela seca e uma terceira provavelmente comprometida, o Brasil ainda é capaz de manter um fluxo estável de exportação. "De acordo com alguns relatos, o Brasil quase ficou sem estoques no mês passado, mas isso claramente não aconteceu. O que sugere que os estoques privados não registrados estão bem maiores ou que a produção foi melhor do que o esperado, levando a uma maior disponibilidade", explicou Ganes ao site internacional Agrimoney na semana passada.

"Em dezembro de 2015, tivemos uma exportação de café elevada e o País fez um novo recorde nos embarques, sinalizando um potencial aperto de oferta até a chegada da nova safra brasileira. Por outro lado, com o clima favorável, já se fala em safra antecipada. Então temos um encurtamento do período de aperto [março/abril] que faz com que os preços estejam se ajustando”, afirmou o diretor de commodities do Banco Société Générale, Rodrigo Costa.

É consenso que a safra 2016/17 do Brasil será maior que as anteriores e que a demanda pelo café brasileiro vai continuar forte em 2016, "a dúvida é se teremos o produto para repetir neste ano e no próximo nosso excelente desempenho em 2014 e 2015", informou o Escritório Carvalhaes em seu último boletim semanal. A Conab estima a produção do Brasil em até 51,94 milhões de sacas de café beneficiado. Se considerada a média de produção (50,5 mi), esta pode ser a segunda maior safra da história, ficando atrás apenas da safra de 2012, que foi de 50,8 mi.

Em entrevista coletiva na terça-feira (19), o presidente do Cecafé, Nelson Carvalhaes disse que o tamanho exato dos estoques brasileiros deve ficar mais claros entre março e abril, mas admitiu que as exportações podem cair nos meses que antecedem a entrada da nova safra no mercado. O Brasil exporta quase 3 milhões de sacas por mês, em média, reportou a agência de notícias Reuters.

"Uma vez que a colheita da nova safra começar, a qual esperamos que seja saudável, as exportações devem se recuperar para níveis similares aos do ano passado", disse Carvalhaes.

"A lógica indica que o volume de café armazenado pelo Brasil em 2016 fique quase zerado. No início de 2015, os estoques estavam na casa de 14 milhões de sacas. Mas nós fechamos o ano com consumo interno de 20,5 milhões e exportamos cerca de 37 milhões de sacas de café, totalizando 57,5 milhões de sacas. Já a nossa produção em 2014 foi estimada pela Conab em 45,3 milhões de sacas e 43,2 milhões em 2015", afirma Marco Antônio Jacob. O número oficial dos estoques públicos e privados de café do Brasil em 2016 deve ser divulgado em março pela Conab.

A título de comparação, no século passado, o Brasil chegou a acumular estoques de 100 milhões de sacas de produtores queimaram o produto para elevar os preços no mercado externo.

A fim de acabar com essas dúvidas em relação ao real volume dos estoques privados brasileiros, o consultor de café, Marco Antônio Jacob sugere que o levantamento seja realizado em conjunto com o Banco do Brasil. "Muitos produtores mantém linhas de crédito com o BB, que faz visitas às fazendas antes de conceder esses serviços, portanto esses fiscais do banco poderiam ajudar a Conab a fazer uma estimativa mais completa", explica.

Jacob ainda alerta que os estoques do Brasil deveriam ser usados em situações adversas. "Com esse volume armazenado tão baixo em 2016, se tivermos uma geada como a de 1994, mesmo tendo uma produção melhor neste ano, não teríamos café nem para consumo próprio. É claro que as chances disso acontecer são remotas, mas o clima é imprevisível", finaliza o consultor.

Procurada para comentar o assunto, a Conab informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se pronuncia sobre números de estoques privados.

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Por: Jhonatas Simião
Fonte: Notícias Agrícolas

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