Café: Safra 2016/17 do Brasil ameaçada pelo tempo seco das próximas semanas

Publicado em 14/10/2015 12:30
Flores da próxima temporada estão queimando com as altas temperaturas; meteorologia aponta precipitações apenas para próxima semana

As mais recentes previsões da Somar Meteorologia apontam para um tempo ainda quente e seco na maior parte das áreas produtoras de café do Sudeste, incluindo Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Mogiana, nos próximos dias. Informações reportadas pela Reuters na manhã desta quarta-feira (13) dão conta que precipitações mais generalizadas devem ser registradas no cinturão apenas na próxima semana, na melhor das hipóteses. Sob essas condições climáticas, algumas flores e botões florais já estão queimando devido às altas temperaturas, principalmente no Sul de Minas, maior estado produtor do país.

O clima, fator determinante para o bom desenvolvimento da safra 2016/17, passa a ser, portanto, a principal preocupação dos cafeicultores brasileiros, que temem uma nova quebra na próxima temporada. Na segunda quinzena de setembro, as chuvas induziram boas floradas nos cafezais das principais regiões produtoras do país, animando os cafeicultores após consecutivos anos de queda na produção. Entretanto, para que os chumbinhos se desenvolvam de forma saudável seriam necessárias chuvas regulares, o que não acontece até o momento. 

Segundo o cafeicultor de Três Pontas, no Sul mineiro, Francisco Miranda, as lavouras mais afetadas são as que ficam mais expostas ao sol. "Em algumas plantas as flores de setembro secaram, em outras, nem abriram. As chuvas estão irregulares e as temperaturas sempre muito altas. Desta forma, alguns cafezais estão com 'pegamento' visivelmente comprometido. Se dentro de 15 dias não chover vamos ver mais uma catástrofe na produção de café do Brasil", pondera Miranda.

Na fazenda do cafeicultor Fernado Barbosa, em São Pedro da União (MG), região de abrangência da Cooxupé, a situação é parecida. "Estamos aqui na região de Guaxupé há mais de 20 dias sem chuva. As plantas que tiveram florada em setembro e estavam mais nutridas estão conseguindo desenvolver o chumbinho, já outras, sem chuvas consistentes e com as altas temperaturas, não tiveram 'pegamento'", afirma Barbosa. "O que nos preocupa também, caso não venha chuvas na semana que vem, é que os dias ficarão mais longos, com mais tempo de exposição da planta ao sol. Isso pode prejudicar ainda mais a situação", diz.

Em entrevista a Reuters, o engenheiro agronômo da Fundação Procafé, José Braz Matiello disse que apesar da situação em algumas lavouras, ainda não há um cenário de perdas significativas até agora. Mas adicionou que nas plantas mais avançadas, os pequenos frutos podem começar a cair das árvores entre 80 e 100 dias após a florada, se as chuvas continuarem irregulares.

O boletim semanal da Climatempo mostra que esta semana segue marcada por temperaturas bastante elevadas e com pouca ou nenhuma chuva, como mostra a primeira imagem a seguir. De 18 a 22 de outubro, a situação se repete.

 

Em 2014, a produção de café do Brasil totalizou 45,34 milhões de sacas de 60 kg. Já neste ano a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que sejam colhidas 42,15 milhões de sacas. A variedade arábica representa 74,2% da produção total do país ou 31,3 milhões de sacas e a de conilon 10,9 milhões de sacas. Para a próxima temporada, que está sendo afetada pelas altas temperaturas e pela falta de chuva, ainda não existem estimativas concretas.

Repercussão na Bolsa de Nova York

Diante das incertezas em relação ao potencial produtivo para a safra 2016/17 de café do Brasil, os futuros do arábica negociados na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), referência para os negócios no Brasil, têm avançado forte nos últimos dias com os operadores esperando estoques reduzidos. Em uma semana, de 6 de outubro até esta terça-feira (13), o vencimento dezembro/15 avançou 4,88% ou 625 pontos. No período, o dólar em queda também contribuiu para o avanço.

O gráfico abaixo, elaborado pelo economista do Notícias Agrícolas André Bitencourt Lopes, mostra o comportamento das cotações do café arábica na ICE diante do clima no cinturão produtivo de café do Brasil.

As imagens a seguir foram enviadas por Alysson Fagundes, engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, e já mostram os primeiros efeitos negativos das atuais condições climáticas sobre os cafezais na segunda florada, indicando os prejuízos que podem ser sentidos na safra 2016/17. "Estas lavouras queimadas não produzem mais para a próxima safra, estão perdidas", explica Fagundes. 

Foto: Alysson Fagundes, Engenheiro agrônomo da Fundação Procafé

Foto: Alysson Fagundes, Engenheiro agrônomo da Fundação Procafé

Foto: Alysson Fagundes, Engenheiro agrônomo da Fundação Procafé

Foto: Alysson Fagundes, Engenheiro agrônomo da Fundação Procafé

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Por: Jhonatas Simião
Fonte: Notícias Agrícolas

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