Cafeicultores questionam e analistas explicam por que o preço do café não acompanha a alta do dólar

Publicado em 30/09/2015 12:46

Em um mercado bastante especulativo e volátil em que a Bolsa de Nova York dita os preços, em dólares, o cafeicultor brasileiro fica por entender alguns movimentos importantes, mas que influenciam diretamente suas negociações.

Recebemos nos últimos dias algumas dúvidas dos produtores questionando por que o preço do café não acompanha a alta do dólar, mas recua quando a moeda norte-americana se desvaloriza. Levamos estes questionamentos para dois analistas de mercado que respondem, esclarecem a situação e ainda dão sugestões para o produtor na tomada de decisão diante deste cenário. (Veja as respostas abaixo). É consenso entre os entrevistados que a relação do dólar com o preço do café é histórica, mas eles ponderam que o ajuste nunca acontece na mesma proporção, e que fatores fundamentais ainda influenciam muito no mercado.

A fim de exemplificar o comportamento dos preços nos mercados interno e externo em relação ao dólar, o economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes preparou gráficos que ilustram a variação das cotações na Bolsa de Nova York em dólar por libra-peso, em reais por saca e o preço no mercado interno, em 1º de junho e nesta terça-feira (29).

No período, verificou-se que o dólar subiu 27,69% ante o real e os futuros do arábica na Bolsa de Nova York (ICE Futures US) perderam 10,91%, saíram de US$ 135,65 cents por libra-peso para US$ 120,85 cents/lb no vencimento dezembro/15. Ou seja, as cotações acabam desvalorizando-se com o câmbio, mas também há variáveis fundamentais que ainda dão suporte ao mercado. Caso o café na bolsa norte-americana recuasse na mesma intensidade em que a moeda norte-americana se valoriza ante o real, estaria valendo US$ 98,09 cents/lb, mas fechou ontem a US$ 120,85 cents/lb.

Já com os preços no mercado interno, comparando o tipo cereja descascado, mais parecido com os padrões de qualidade do Contrato C, negociado na Bolsa de Nova York, de 1º de junho para 29 de setembro, verificou-se um aumento de 12,87%, de R$ 483,50 a média de preço nas praças pesquisadas pelo NA, para R$ 545,75 ontem, o que mostra que a alta do dólar ante o real ajuda sim os preços no Brasil. Inclusive, a variação é bem parecida com a alta de 13,74% verificada na conversão da cotação do café na ICE para reais por saca levando em consideração apenas a transformação, sem considerar oferta e demanda.


Por que as cotações futuras do café arábica na Bolsa Nova York não acompanham a alta do dólar em relação ao real?

"Realmente quando o dólar sobe no Brasil, o preço do café em Nova York tende a cair porque o café lá fora é 'dolarizado'. Então quando o dólar se valoriza aqui os exportadores ficam mais estimulados a venda e vão ganhar mais em reais, assim há uma correção quase que automática. Mas é claro que outros fatores fundamentais também limitam que a queda ou alta seja sempre na mesma proporção."

Gil Carlos Barabach - Safras & Mercado

"Deveria acontecer essa proporcionalidade no mercado do café, mas na prática isso não existe. Essa melhoria do dólar em relação ao real deveria ajudar nas cotações externas e ser passada para o produtor porque o lado de lá se mostra mais forte no curto prazo. Por outro lado, os operadores verificam que o comércio aqui acaba aceitando menores preços pela necessidade de caixa, eles também olham os dados de exportações e acreditam que há boa produção."

Sérgio Carvalhaes – Escritório Carvalhaes
 

Por que os preços do café no mercado interno não sobem tanto com o dólar assim como acontece com a soja e o milho?

"A cotação interna é formada por Nova York, dólar e prêmio no Porto para os cafés melhores. O dólar é extremamente importante para o preço do café, mas não é só ele que compõe o preço aqui no Brasil. O café, assim como as outras commodities, teve sim um ganho, mas isso nunca acontece na mesma proporção."

Gil Carlos Barabach - Safras & Mercado

"Os países produtores de café não tem uma economia fortalecida como os Estados Unidos que exporta soja, por exemplo. No Brasil, a maioria das fazendas é de pequenos produtores que não tem o poder de segurar o produto em determinados momentos. O Brasil trabalha com políticas erradas, enquanto o mundo lá fora, que importa nossos produtos, tem políticas de última geração de fornecimento de matéria-prima. É um jogo de interesses, e até agora o lado de lá tomou a valorização da moeda. Mas à medida que o café for ficando escasso, existe a possibilidade que a melhora dólar ante o real comece a ser passada para o produtor."

Sérgio Carvalhaes – Escritório Carvalhaes
 

O que o produtor pode fazer para não correr tantos riscos uma vez que o dólar alto acaba pressionando o preço e aumenta os custos de produção?

"Com o dólar alto, o produtor corre o risco de comprar insumos agora com o dólar a R$ 4 e quando ele for fazer a venda da safra nova pode estar a R$ 3,80, por exemplo. Isso vai refletir no preço em reais. O ideal é que o cafeicultor trabalhe com os custos de produção e insumos casados, paralelamente ele trava a receita e preços futuros para a safra e tem uma noção melhor da margem de lucro".

Gil Carlos Barabach – Safras & Mercado

É difícil fazer uma análise, mas acredito que cada produtor deve ver suas necessidades no curtíssimo prazo, vender na média e não se endividar. O negócio café no mundo vai muito bem, o consumo só aumenta. Portanto os cafeicultores não devem desanimar, uma hora vai ter que haver um jeito de o lado de lá pagar mais pelo produto."

Sérgio Carvalhaes – Escritório Carvalhaes

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Por: Jhonatas Simião
Fonte: Notícias Agrícolas

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