Colheita da safra 2015 avança, mas rendimento do café preocupa produtores do Brasil

Publicado em 07/08/2015 17:20
São necessários, em média, 25% a mais de café para fazer uma saca beneficiada. Rodrigo Costa comenta direto de N. York: BOLSA VOLTA AOS NÍVEIS DE MARÇO E ABRIL...

A colheita de café da safra 2015/16 do Brasil avança nas principais regiões produtoras, mas continua atrasada em relação a anos anteriores. Nesta última semana, o clima mais seco até deu mais ritmo aos trabalhos no campo. Entretanto, o cenário atual, segundo cafeicultores, está bem complicado. O principal impacto é visto no tamanho dos grãos (peneira), que estão bem menores e interferem no rendimento e nos valores pagos pelo café arábica. Em média, são gastos 25% a mais de grãos para completar uma saca beneficiada de 60 kg do produto.

A Cooxupé (Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé), maior do mundo, no Sul de Minas, realiza neste momento um levantamento do volume e da qualidade dos grãos colhidos da safra atual. "Estamos avaliando o impacto da seca e das altas temperaturas de janeiro de 2015 no tamanho do grão e no rendimento. O departamento de classificação também está avaliando se as chuvas que ocorreram durante o primeiro decêndio de julho poderão causar prejuízos na qualidade da bebida. Ainda não temos resultados definitivos", informou ao site CaféPoint o engenheiro agrônomo e coordenador de Geoprocessamento da Cooxupé, Éder Ribeiro dos Santos, em recente entrevista.

Até o dia 1º de agosto, a colheita dos cooperados da Cooxupé atingiu 53,43%. Neste período, em 2014, o volume colhido passava de 70% das lavouras.

Ainda no Sul de Minas, a Cocatrel (Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de Três Pontas) tem resultados mais concretos. De acordo com o diretor técnico, Jorge Luis Piedade Nogueira, os cafeicultores têm relatado que apenas 8% a 15% dos cafés tem peneira de 17 acima. Enquanto que em anos normais esse número chegava a 30%. Por lá também são necessários mais cafés para fazer uma saca por conta dos grãos miúdos. "Há relatos de 550 a 600 litros para se fazer uma saca de café beneficiado. Mas nesta fase, em anos anteriores, eram usados no máximo 450 litros", afirma Nogueira.

No Cerrado Mineiro, a situação é parecida. "Estamos com pouca peneira 17 e 18, e muitos grãos miúdos. Normalmente, aqui é utilizado em torno de 540 litros para se fazer uma saca, mas registramos nesta safra de 660 a 720 litros", afirma o trader da Expocaccer (Central de Cooperativas dos Cafeicultores do Cerrado), Joel Souza Borges.

Em Espírito Santo do Pinhal (SP), na região da Mogiana, onde atua a Coopinhal (Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Pinhal), a colheita está mais avançada do que nos municípios mineiros, cerca de 80%. Entretanto, por lá também há problemas na qualidade e rendimento.  "Temos grãos miúdos (apenas 20% apresenta peneira acima de 17), com bastante casca e pouca castanha, o que chamamos de bebida baixa. Em média, estamos usando de nove a dez medidas de 60 litros para fazer uma saca de café beneficiado, enquanto que em safras normais seria necessário de seis a sete", explica o engenheiro agrônomo da Coopinhal, Celso Scanavachi.

O CNC (Conselho Nacional dos Cafeicultores) informou em seu balanço semanal da sexta-feira passada que, em média, neste ano, têm sido demandados 25% a mais de café para uma saca beneficiada. Normalmente, são utilizadas medidas de 480 litros para o preenchimento de uma saca, porém este ano a média chegou a medidas de 600 litros. Ainda segundo o CNC, no Cerrado e no Sul de Minas Gerais os trabalhos de colheita alcançam 50%. Nas Matas de Minas, cerca de 60% da produção já foi retirada dos cafeeiros. Em anos anteriores, este percentual superaria os 80%.

É consenso entre os entrevistados que o clima desfavorável de 2014 e início deste ano foi o responsável pelo atraso na colheita e a baixa produtividade nesta safra. "Em contato com nossas cooperativas, observamos que as adversidades climáticas ocasionaram floradas desuniformes em 2014, o que, consequentemente, desencadeou períodos diferentes de maturação dos frutos, fazendo com que os produtores se deparem com épocas distintas para colher os cafés em seu melhor estágio", descreveu o CNC em seu informativo semanal.

Em entrevista na segunda-feira (3) ao Notícias Agrícolas, o presidente da Procafé, José Edgard Pinto Paiva, também confirmou que a estiagem que ocorreu no início do ano prejudicou o período de granação do café. "Ficamos por cerca de 25 dias sem chuvas. Sem contar que no ano de 2014 também passamos por uma seca e isso acarretou na formação de grãos menores por dois anos consecutivos. Essa quebra na primeira estimativa era de cerca de 12%", destaca.

Edgard estima que a projeção de março da entidade para a safra atual entre 41 a 43 milhões de sacas poderá não ser atingida. As perdas podem alcançar patamares de 30% a 40% em relação ao ano passado contabilizando os problemas com o conillon e o arábica.

A safra de conillon (robusta) no Espírito Santo já foi toda colhida, mas a seca também prejudicou a produção do estado com quebra que pode chegar a 40% do estimado. "Tivemos um gasto alto nesta safra pois estávamos calculando uma boa produtividade. Mas diante de toda a situação, agora acredito que teremos pouco lucro", diz o gerente de comercialização da Cooabriel, Edmilson Calegari. A média de preço pago ao produtor da variedade não chega a R$ 300,00 a saca.

Reflexos ao produtor

Diante deste cenário, quem sofre é o cafeicultor brasileiro. Além da baixa produtividade e dos problemas de qualidade, os custos de produção só aumentam com a inflação. Segundo o analista do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes, a alta do dólar ante o real que deveria fazer os preços no mercado interno brasileiro subirem, o que não acontece.

"Teoricamente essa subida do dólar deveria significar mais reais no bolso do cafeicultor. Mas os compradores estão derrubando a Bolsa de Nova York mais ou menos na mesma proporção que sobe a moeda norte-americana, ou seja, eles acabam se apropriando dessa melhoria", afirma Carvalhaes.

Na semana que termina hoje, parte da valorização do dólar frente ao real foi repassada para os preços do café no mercado físico brasileiro, movimentando o mercado e gerando um volume maior de negócios. Em julho, o preço do arábica registrou média de 414,50 reais/saca, informou o Cepea. Nos primeiros dias de agosto, a média de preço foi de 438,03 reais/saca. 

Veja abaixo três gráficos elaborados pelo economista do Notícias Agrícolas, André Bitencourt Lopes, sobre o comportamento do dólar e do café na Bolsa de Nova York em julho:

Safra 2016

Após três anos consecutivos de queda na produção brasileira de café arábica, a expectativa de colheita para a próxima safra é de mais confiança, pois a atual está trazendo perdas consideráveis.

O trader da Expocaccer, no Cerrado Mineiro, Joel Souza Borges, classifica a safra atual como uma das piores dos últimos anos, com quebra que pode chegar a 30% em relação à 2014 na região de abrangência da cooperativa, em Minas Gerais. Para 2016, ele está confiante, mas com ressalvas. "Acredito que as plantas estão preparadas para o ano que vem. Porém, também podemos ter intempéries climáticas que podem mudar tudo", pondera.

Mas na Mogiana, a expectativa para a safra 2016 é mais otimista. "As lavouras estão bonitas e se nada atrapalhar esperamos uma safra boa para o próximo ano", diz o engenheiro agrônomo da Coopinhal, Celso Scanavachi.

Entretanto, para o pesquisador da Fundação PróCafé, Alysson Fagundes, as irregularidades climáticas desde o início deste ano afetaram as condições de floradas nos cafezais do Sul de Minas -- e a safra de café em 2016 já tem seu potencial comprometido. O inverno (caracterizado pelo clima frio e seco) surpreendeu os cafeicultores da região. Com temperaturas mais altas e chuvas na primeira quinzena de junho, surgiram botões florais fora da época esperada. Resultados foram os abortamentos...

Segundo Fagundes, este abortamento floral ganhou força devido à chuva na primeira quinzena de junho. “Isso deu um alerta para a natureza. Quando temos chuva e frio nada acontece, mas quando temos chuvas com temperaturas elevadas, surge o abotoamento floral. Como nosso inverno continuou quente, esse abotoamento evoluiu e, como em junho e julho ocorre a grande maioria da colheita de café, tanto manual como mecanizada, grande parte da primeira florada da safra 2016 será perdida”, conta o pesquisador.

Diante desse cenário, o potencial de safra para o ano seguinte será afetado. “A safra 2016 já estava comprometida desde janeiro deste ano com o baixo crescimento vegetativo das lavouras na região. O correto seria que as lavouras estivessem com 20 internódios, mas estão apenas com 15, resultado da estiagem do início de 2015”, explica o pesquisador.

COMENTÁRIO SEMANAL DE RODRIGO COSTA, DIRETO DE N. YORK:

BOLSA VOLTA AOS NÍVEIS DE MARÇO E ABRIL

A criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos tem mantido um ritmo suficientemente alto para fazer com que os agentes não mudem muito suas apostas no timing do aumento de juros pelo FED. Entretanto na sexta-feira o indicador ficou levemente menor do que o esperado, o que juntamente com a queda ininterrupta das commodities provocou uma parada na valorização do dólar.

O efeito deflacionário causado pelos preços mais baixos das matérias-primas no mercado mundial pode prolongar estímulos econômicos na Europa e Japão, ao mesmo tempo em que coloca mais pressão nos países produtores de commodities – uma das principais razões para a desvalorização das moedas e bolsas em diversos mercados emergentes.

A moeda chinesa por não flutuar livremente e, portanto continuar firme, faz dos produtos produzidos naquele país menos competitivos – outro sinal que prejudica o crescimento por lá e respinga nos parceiros comerciais (atingindo inclusive a Alemanha).

No novo mergulho dos índices de commodities os grandes perdedores dos componentes do CRB foram o complexo energético, o açúcar e o algodão. Positivamente os melhores desempenhos foram o do suco de laranja, dos grãos e do café em Nova Iorque.

O contrato “C” subiu US$ 3.37 a saca, o que não parece muito, mas levando em consideração que durante as sessões ele conseguiu se desvencilhar dos algo-traders que batiam no mercado todas as vezes que o Real escorregava, o comportamento foi muito bom. O arábica estando agora a US$ 7.95 centavos da mínima e não tão distante da resistência a 132.50 centavos tem boas chances de buscar stops de compras dos fundos que ainda não liquidaram muito de seus novos shorts.

Aos produtores brasileiros e colombianos a alta da semana combinada com o Real batendo a 3.56 e o Peso a 2971, fez das cotações nas respectivas moedas atingirem o maior patamar desde abril e março. Neste cenário a movimentação nas duas principais origens melhorou, mas como tenho dito, não há uma pressão vendedora tão grande que neste momento coloque tanta pressão nos ganhos do terminal (ao menos no curto-prazo).

Um grande exportador brasileiro em entrevista à agência do Bloomberg reiterou sua análise de que a safra 15/16 local deve ficar entre os 45 e 47 milhões de sacas devido a menor renda que os grãos miúdos provocam. O Procafé, segundo a Reuters, vê uma quebra entre 20% a 30% de sua previsão de março, que era entre 41m e 43m de sacas. Certo ou errado, o que só será comprovado no futuro, a maior parte dos participantes do mercado, incluindo comerciantes, fundos e torradores, trabalha com um número de safra ao redor de 50 milhões de sacas.

A importação-líquida de café nos Estados Unidos totalizou 2.279 milhões de sacas de café no mês de junho, acumulando durante doze meses 23.91 milhões, menos do que os 24.3 milhões importados entre julho de 2014 e junho de 2015. Uma multinacional que também tem operações no Brasil disse que o consumo de café brasileiro deve estagnar este ano. Ambas as notícias formam parte dos argumentos usados pelos baixistas para justificar uma perspectiva de demanda estagnada, em geral.

Os estoques certificados de robusta na bolsa aumentaram 58.2 mil sacas na quinzena finalizada no dia 3 de agosto, com um total de 3.4 milhões de sacas nos armazéns, bem acima dos 1.4 milhões de um ano atrás. É de se esperar que o inventário diminua depois do grande recebimento do contrato de julho.

O volume total de dinheiro investido em commodities continua caindo, com as maiores retiradas no mês de maio sendo feita no complexo energético, 900 milhões de dólares, e tendo as agrícolas perdido 200 milhões de dólares.

Tudo indica que a bolsa está preparada para continuar subindo um pouco mais ajudada tanto sazonalmente por uma recuperação que historicamente acontece na segunda metade do mês de agosto, como por alguma liquidação de vendas dos fundos. Sustentar ganhos é outra conversa, ainda mais com as incertezas relativas à economia brasileira, agravadas pela crise política, que já fazem os títulos do país negociar abaixo de nove países que tem nota em grau especulativo.

Os produtores devem ir aproveitando e tentar negociar uma parte de suas safras futuras, que com os juros brasileiros altos ajudam exportadores a pagarem preços bem razoáveis para a safra 16/17 – assumindo que seja grande como muitos imaginam que possa ser se a florada for boa e o clima ajudar.

Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,
(* por Rodrigo Corrêa da Costa, que escreve de NY este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting)

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Por: Jhonatas Simião
Fonte: Notícias Agrícolas

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