A enigmática safra brasileira de café: Qual a verdade sobre a safra de 2015/16 ?
A safra brasileira de café de 2015/16 já esta marcada para a história cafeeira, como a mais divergente em termos de previsões, basta vermos abaixo os dois quadros apresentados em recente palestra de Rabobank , pois no figura A apresenta a menor previsão apontada por alguma instituição (40,3 milhões de sacas) , e , a figura B apresenta a maior previsão apontada por outra instituição (52,4 milhões de sacas ), portando a maior previsão é 30% superior a menor. (as previsões apresentadas são de responsabilidade de terceiros , não são previsões de Rabobank)
Em pleno século XXI, é inconcebível esta diferença, só pode ser explicada por ignorância, irresponsabilidade ou má-fé, pois uma diferença de 12,1 milhões de sacas é praticamente a produção da Colômbia.
Estamos no inicio de Agosto de 2015 , já colhidos mais de 60% da safra de cafés arábicos e 100% da safra de conillons , posso afirmar que a previsão B , indicando 52,4 milhões de sacas é completamente rídicula , fantasiosa , irresponsavel e incosequente , trazendo maleficios a milhões de produtores de café do mundo , sendo estes produtores a parte hipossuficiente nas relações comerciais , pois os mesmos produzem em concorrencia perfeita , enquanto os compradores mundiais são quase um oligopólio.
Vejamos o porque desta minha afirmação :
Em janeiro de 2014 , como é de conhecimento de todos , iniciou-se uma forte adversidade climática no Brasil , pricipalmente nas regiões produtores de cafés arabicos , esta adversidade perdurou até meados de fevereiro de 2015 , porém nesta ocasião , se pronunciou mais fortemente sobre o Espírito Santo e Sul da Bahia , as principais regiões brasileiras produtoras de café conillon .
Todos os participantes do mercado cafeeiro sabem que no Brasil temos uma bienalidade produtiva , pois o arbusto da família Rubiaceae e do gênero Coffea LCoffe sp , produz anualmente , e , em condições de produção comercial , produz mais em um ano e menos em outro ano ; assim sendo , o parque cafeeiro brasileiro de cafés arabicos apresenta bienalidade , tendo nos anos pares uma maior produção , e nos anos impares uma menor produção.
Assim se tomarmos como base a produção de safra 2014/15 poderemos ter uma noção do potencial produtivo para esta safra , infelizmente não temos dados oficiais ou governamentais precisos da safra brasileira de 2014/15 , apesar dos volumosos recursos que a sociedade brasileira paga atravéz dos impostos ao feudal Governo Brasileiro.
Como nos falta estes dados oficiais , apresentarei singelamente na tabela baixo a provavel safra brasileira de 2014/15 como sendo 47,83 milhões de sacas , demostrada pela equação de produção derivada (Produção derivada corresponde aos estoques iniciais - desaparecimento/uso - estoques finais apurados).
Obs * desaparecimento de 9 milhões de sacos do carry-over
Muitos pensarão que 14 milhões de sacas de estoques em 01 de Julho é aleatório e está subestimado , informo que consultei vários especialistas do mercado cafeeiro , e recentemente , Jonh Wolthers/COMEXIM publicou dados de estoque proximos aos valores utilizados.
Se buscarmos os últimos dados oficiais publicados pela CONAB referentes a 31 de Março de 2014 , indicam quantidades muito inferiores aos utilizados , vejamos.
O estoque de 14 milhões de sacas em 01 de Julho de 2014 , é aproximadamente 11,30 milhões de sacas maior que estoque informado pela CONAB em 31 de Março de 2015 , considerando os desaparecimento até 01 de Julho de 2014 .
Portanto os dados do mercado não estão subestimados, houve um uso expressivo de estoques nos 12 meses compreendido entre 01 de Julho de 2014 até 30 de Junho de 2015 , aproveito para informar que até o presente momento a CONAB não divulgou os dados relativos aos estoques em 31 de Março de 2015.
Conforme demonstrado, a produção derivada em 2014/15 aponta para uma safra total brasileira de 47,83 milhões de sacas.
Dos fatos e a realidade:
Não houve expansão ou diminuição significativa do parque produtivo brasileiro, então , podemos com base na última safra, dimensionar a safra atual , pois os cafeicultores já colheram 100% do conillon e 60% dos arábicos, e já temos varias informações das colheitas e seus respectivos rendimentos de benefício, assim , é possível apontar uma perspectiva de produção.
Informações vindas do Espírito Santo e Sul da Bahia , onde se concentra a maior parte da produção de cafés conillon brasileira , indicam perdas maiores que 30% , chegando em alguns casos a perdas de 50% .
Em recente entrevista do Presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória , Sr. Jorge Luiz Nicchio , informou que o Brasil vai colher 4 milhões de sacas a menos em função da extrema adversidade climática. https://globotv.globo.com/tv-gazeta-es/bom-dia-es/v/presidente-do-centro-do-comercio-de-cafe-de-vitoria-fala-sobre-queda-na-colheita/4269004/
Na colheita dos arábicos, as noticias também não são auspiciosas, pois apesar de estarmos acima dos 60% da colheita, muitos imputam erroneamente o baixo fluxo de entrada de cafés nas cooperativas ao atraso de colheita, informo que existem muitos produtores findando suas colheitas , e , em diversas regiões brasileiras . Afirmo que teremos uma colheita que se iniciou atrasada, devido a uma floração tardia, porém vai acabar dentro dos prazos normais.
As informações que chegam do campo na maioria das principais regiões produtoras, mostram que os grãos estão miúdos , com pouca incidência de grãos tamanho 17 e 18 , e com uma anormal e maior incidência de grãos menores, que vazam na peneira 13 , inclusive cafés de lavouras irrigadas.
Também se é noticiado, que é necessário 600 litros de cerejas para se obter uma saca beneficiada de 60 kilos , enquanto em safras normais é por volta de 480 litros.
Outra característica que aponta um menor rendimento , pode ser aferida através dos resultados dos secadores, exemplo, uma batelada do secador em safras normais , produziria 45 sacos beneficiados , e nesta safra está produzindo 35/37 sacas .
A grande maioria dos produtores consultados , informam que já colheriam menos que a safra 2014/15.
Até a presente data, os fluxos de café para as cooperativas, armazém de comerciantes e armazéns gerais é incrivelmente pequeno, ouso a dizer, assustador.
Estes exemplos citados acima, mostram uma diminuição de 20% na expectativa de produção.
Para corroborar estas informações, segue a entrevista do, Sr. José Edgard Pinto Paiva, Diretor Presidente da Fundação PROCAFÉ, um dos principais centro de pesquisas cafeeiras no Brasil , localizada em Varginha , Sul de Minas Gerais. https://www.noticiasagricolas.com.br/videos/cafe/159691-colheita-no-sul-de-minas-avanca-e-resultados-ficam-aquem-do-esperado-e-quebra-pode-chegar-a-30.html?utm_source=mailing&utm_medium=tarde#.VcAD2vlVhBc
Diante dos fatos acima, baseado na produção de 2014/15 e através de um simples exercício matemático , podemos vislumbrar um cenário da safra brasileira de 2015/16.
Apesar de varias informações de perdas acima de 20% , aplicarei conservadoramente apenas a metade , 10% de diminuição de produção de arábicos, supondo que apenas a metade do parque cafeeiro de arábicos foram afetados por este problema de diminuição dos grãos e necessidade de mais frutos para se fazer uma saca beneficiada.
Para o conillon, utilizarei uma diminuição de 4 milhões de sacas na produção , conforme informado pelo Presidente do Centro de Café de Vitória.
Baseado neste singelo exercício matemático, verificamos semelhança com a Estimativa da safra cafeeira de 2015 realizada pela FUNDAÇÃO PROCAFÉ , publicado em Março de 2015 , , conforme a tabela abaixo : https://fundacaoprocafe.com.br/sites/default/files/Relat%C3%B3rio%20Final%202015.pdf
Conclusão:
Devemos valorar a FUNDAÇÃO PROCAFÉ e seus pesquisadores, pois sendo sua primeira previsão de safra cafeeira a nível nacional , estará dentro da realidade.
As futuras previsões de safra elaboradas oficialmente pela CONAB deveriam ter a participação e colaboração das várias autarquias de pesquisa cafeeira brasileira.
A CONAB , necessita ser mais céleres na divulgação dos estoques privados e públicos com base em 31 de Março , pois sem estes dados é impossível quantificar a produção cafeeira brasileira , lembrando que o levantamento de estoques é imposição legal.
Sabemos que para qualquer política pública, ou, para o planejamento dos diversos setores cafeeiros, é necessário saber as reais disponibilidades de café.
As lideranças da cafeicultura brasileira devem solicitar que as instituições governamentais estrangeiras que se propõem a estimar as safras cafeeiras brasileiras , sejam transparentes nos seus métodos de pesquisas , e , exigir que tratem com mais seriedade este propósito , pois afetam a vida de milhões de pessoas no Brasil e no Mundo.
A comunidade mundial cafeeira deve acompanhar passo a passo esta safra brasileira de 2015/16, pois tudo indica que o Brasil terá um potencial de fornecer ao mercado mundial inferior a 25 milhões de sacas de café , portanto 11,50 milhões de sacas a menos que a ciclo anterior.