Desabastecimento de diesel: Setor de biodiesel está pronto para B12 agora e B14 ao longo de 2022
Em meio ao risco de desabastecimento de diesel no Brasil nos próximos meses, levantado por entidades, de importadores a caminhoneiros, o setor de biodiesel diz já estar preparado para uma elevação imediata da mistura do biodiesel no diesel - atualmente em 10% - para 12% agora e 14% ao longo de 2022.
"A ampliação para 12% pode representar uma redução da necessidade de importação de diesel no curto prazo ou de aumento da cobertura do abastecimento de diesel pelo suprimento local, que hoje é de 38 dias para o diesel S10, conforme anunciado pelo próprio governo e pode variar em função da cadência de recebimento do diesel importado", afirma Francisco Turra, presidente do Conselho de Administração da APROBIO.
A alternativa já foi levantada em reunião ontem (31), em Brasília (DF), entre diretores da Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o ministro de Minas e Energia Adolfo Sachsida, segundo a Agência Estado. O aumento dos estoques obrigatórios para as distribuidoras também está em pauta.
A Petrobras teria enviado no início da última semana um ofício ao Ministério de Minas e Energia alertando sobre a preocupação de desabastecimento.
Na manhã desta quarta-feira (1º), a Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio) promoveu um debate com diversas entidades e autoridades sobre o risco de desabastecimento nas proximidades do escoamento da safra.
"Nossa maior preocupação é o abastecimento e o custo do diesel. O grande problema é ter produto suficiente para abastecer o mercado que depende do diesel", disse durante a reunião o senador Luiz Carlos Heinze (Progressistas-RS).
Também atuante na Frente, o deputado Alceu Moreira (MDB-RS) defendeu a maior mistura e comentou sobre as críticas dos consumidores de que o biodiesel no diesel impacte nos motores. “Temos estudos técnicos e não há provas sobre isso. Ninguém conseguiu provar tecnicamente que esses problemas são ligados ao biodiesel”, disse.
Além de parlamentares, entidades do setor de biodiesel, como a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (APROBIO) e União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), também estiveram presentes.
Ao Notícias Agrícolas, a Abiove disse que "um possível aumento de B10 para B14 reduziria a necessidade de diesel mineral importado no mercado em aproximadamente 1,3 milhão de m³ no segundo semestre de 2022", diminuindo os temores de desabastecimento.
"Isto representa 13,5% de redução das importações previstas de diesel mineral para o período, enquanto se o aumento fosse para B12, haveria uma redução de 6,7% das importações (0,66 milhão de m³)", disse, apesar de o Brasil estar na entressafra de soja.
A APROBIO também pede aumento da mistura e vai mais longe. A entidade acredita que ainda neste ano a mistura de 14% poderia ser possível. Segundo Turra, inclusive, a atual capacidade instalada autorizada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) já daria para atender uma demanda de mistura de 20% (B20).
"O setor está pronto para cumprir seu papel para o qual já investiu mais de 10 bilhões de reais nos últimos 17 anos", disse o representante da APROBIO.
Atualmente, a mistura de biodiesel no diesel brasileiro era para estar nos 14%. Os planos foram revistos depois de disparada nos preços da soja, o que fez com que o governo federal voltasse a mistura para 10% no final do ano passado.
O aumento da mistura também é apoiado pela Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio), do Congresso Nacional, tendo em vista a capacidade produtiva do setor. "As usinas de biodiesel estão com capacidade ociosa em cerca de 50%", diz a entidade em nota.
"A FPBio, os produtores, defendem a elevação este ano para 14% pelo menos. Essa autorização resultaria em menor necessidade de dependência de diesel importado; iria estimular a produção desse biocombustível nas 55 usinas situadas em 14 estados; iria beneficiar cerca de 74 mil famílias de agricultores familiares, que fornecem matéria-prima para as usinas", ressalta.
A FPBio, em conjunto com as associações que representam o setor, dizem que têm levado informações sobre a importância dos biocombustíveis no cenário de desenvolvimento sustentável nacional para os representantes do Executivo e parlamentares do Legislativo.
MME NÃO VÊ DESABASTECIMENTO NO CURTO PRAZO
Apesar dos temores do mercado de desabastecimento de diesel, o Ministério de Minas e Energia, porém, descartou em nota essa preocupação imediata. Segundo a pasta, o Brasil teria disponível estoques de 38 dias, sem a necessidade de importação.
"O Ministério de Minas e Energia segue atento aos movimentos do mercado doméstico e internacional, mantendo o monitoramento de forma intensa e constante para adotar medidas tempestivas em conjunto com os demais órgãos governamentais nas esferas das suas respectivas competências, conforme a evolução do cenário", disse em nota.
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Além do ministério, analistas do setor ouvidas pela Agência Estado e Reuters, também tranquilizaram o mercado sobre um desabastecimento no curto prazo.
"Até agosto, não me preocupo muito", disse à Reuters o analista de petróleo e derivados da consultoria StoneX, Pedro Shinzato. "O cobertor está curto, se aumenta mistura, sobe o preço. O biodiesel é mais caro que diesel fóssil, ou se reduz mistura precisa importar mais diesel fóssil… não tem solução fácil", acrescentou.