Alta do óleo nos EUA pode não afetar consumidor no Brasil
Publicado em 31/05/2010 16:05
Ao final de abril deste ano, uma lata de óleo de soja nos supermercados do Brasil custava, em média, cerca de 30% menos do que em maio de 2008.
Durante esse período, o óleo de soja ensaiou aumento de preço, principalmente no segundo semestre de 2009. Entretanto, nos quatro primeiros meses deste ano, recuou 7,9% em relação ao final de 2009. Nesses quatro meses, o preço do óleo de soja na Cbot (Chicago Board of Trade), uma das principais referências do mercado mundial de commodities, subiu 3,5%.
Entre a referência do preço mundial e o preço na prateleira do supermercado brasileiro está o preço recebido pelo produtor nacional, medido como um dos componentes do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPPA) da Fundação Getulio Vargas.
O Brasil é hoje um dos principais produtores e exportadores de soja e de óleo de soja e, portanto, esses preços estão intimamente correlacionados. Podemos ver, no gráfico em https://www.folha.com.br/1014812, a evolução dos preços do óleo de soja (transformados em números-índice para facilitar a comparação entre as diferentes quantidades de medida) na Cbot, no IPPA e no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mensalmente entre janeiro de 1999 e abril de 2010.
O que podemos notar no gráfico é o seguinte: 1) a volatilidade dos preços ao consumidor é menor do que nos estágios anteriores, e, 2) as variações de preço na Cbot são indicadores antecedentes dos movimentos no IPPA os preços evoluem conjuntamente no longo prazo, porém, 3) não têm uma relação exata no curto prazo, 4) e esses, por sua vez, são indicadores antecedentes dos preços ao consumidor final.
Esses fatos podem ser explorados de forma quantitativa em um modelo econométrico. Primeiramente, a relação dinâmica entre as variações dos preços no mercado internacional e nos preços pagos ao produtor brasileiro (controlando-se para as alterações na taxa de câmbio durante esse período) mostra que, do total de variações de preços na Cbot, apenas 66% em média chegam ao produtor nacional.
Isso não ocorre instantaneamente: no mesmo mês em que os valores aumentam na Cbot, temos apenas 11% do efeito final sobre o preço do produtor nacional. Após um mês, esse valor chega a 51%, passando a 62% depois de dois meses. O impacto total da variação só é sentido depois de três meses.
No caso da relação entre o IPPA e o IPCA, o consumidor sente em média 87% das variações do preço recebido pelo produtor, mas esse valor integral também só é percebido depois de três meses.
No mês em que o produtor percebe o aumento de preço, o consumidor só sente 18% dessa variação, passando a 63% depois de um mês, 84% depois de dois meses e finalmente 87% a partir do quarto mês.
Como esses resultados econométricos representam variações médias, eles pressupõem que um aumento no preço internacional (ou recebido pelo produtor) seja permanente, o que nem sempre é o caso: o mercado oscila continuamente em função de seus fundamentos (fatores climáticos e econômicos que afetam a produção e a demanda, questões especulativas envolvendo a taxa de câmbio entre países produtores, a formação e utilização de estoques etc.).
Dessa forma, uma oscilação de curto prazo no mercado mundial pode não ter tempo de chegar aos produtores e consumidores do Brasil. Com isso em mente, a dona de casa pode se preocupar ao ver as elevações do óleo de soja na Cbot, mas não muito...
Durante esse período, o óleo de soja ensaiou aumento de preço, principalmente no segundo semestre de 2009. Entretanto, nos quatro primeiros meses deste ano, recuou 7,9% em relação ao final de 2009. Nesses quatro meses, o preço do óleo de soja na Cbot (Chicago Board of Trade), uma das principais referências do mercado mundial de commodities, subiu 3,5%.
Entre a referência do preço mundial e o preço na prateleira do supermercado brasileiro está o preço recebido pelo produtor nacional, medido como um dos componentes do Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPPA) da Fundação Getulio Vargas.
O Brasil é hoje um dos principais produtores e exportadores de soja e de óleo de soja e, portanto, esses preços estão intimamente correlacionados. Podemos ver, no gráfico em https://www.folha.com.br/1014812, a evolução dos preços do óleo de soja (transformados em números-índice para facilitar a comparação entre as diferentes quantidades de medida) na Cbot, no IPPA e no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), mensalmente entre janeiro de 1999 e abril de 2010.
O que podemos notar no gráfico é o seguinte: 1) a volatilidade dos preços ao consumidor é menor do que nos estágios anteriores, e, 2) as variações de preço na Cbot são indicadores antecedentes dos movimentos no IPPA os preços evoluem conjuntamente no longo prazo, porém, 3) não têm uma relação exata no curto prazo, 4) e esses, por sua vez, são indicadores antecedentes dos preços ao consumidor final.
Esses fatos podem ser explorados de forma quantitativa em um modelo econométrico. Primeiramente, a relação dinâmica entre as variações dos preços no mercado internacional e nos preços pagos ao produtor brasileiro (controlando-se para as alterações na taxa de câmbio durante esse período) mostra que, do total de variações de preços na Cbot, apenas 66% em média chegam ao produtor nacional.
Isso não ocorre instantaneamente: no mesmo mês em que os valores aumentam na Cbot, temos apenas 11% do efeito final sobre o preço do produtor nacional. Após um mês, esse valor chega a 51%, passando a 62% depois de dois meses. O impacto total da variação só é sentido depois de três meses.
No caso da relação entre o IPPA e o IPCA, o consumidor sente em média 87% das variações do preço recebido pelo produtor, mas esse valor integral também só é percebido depois de três meses.
No mês em que o produtor percebe o aumento de preço, o consumidor só sente 18% dessa variação, passando a 63% depois de um mês, 84% depois de dois meses e finalmente 87% a partir do quarto mês.
Como esses resultados econométricos representam variações médias, eles pressupõem que um aumento no preço internacional (ou recebido pelo produtor) seja permanente, o que nem sempre é o caso: o mercado oscila continuamente em função de seus fundamentos (fatores climáticos e econômicos que afetam a produção e a demanda, questões especulativas envolvendo a taxa de câmbio entre países produtores, a formação e utilização de estoques etc.).
Dessa forma, uma oscilação de curto prazo no mercado mundial pode não ter tempo de chegar aos produtores e consumidores do Brasil. Com isso em mente, a dona de casa pode se preocupar ao ver as elevações do óleo de soja na Cbot, mas não muito...
Fonte:
Folha de SP