PIB do agro do Brasil surpreende no último trimestre e deve voltar a crescer em 2024, diz CNA
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do Brasil deverá crescer 5% em 2025, em uma recuperação impulsionada pela expectativa de aumento da produção de grãos, e com alta na atividade da indústria de insumos agropecuários, além do setor agroexportador, estimou nesta quarta-feira a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
"O PIB do Agronegócio deve crescer em 2025, mas os cenários externo e interno (política fiscal, câmbio, inflação e taxa Selic) são desafiadores para os produtores rurais brasileiros", afirmou a principal associação agropecuária do país.
O PIB do agronegócio, que responde por mais de 20% do PIB total do país, deve crescer no ano que vem com a expectativa de uma safra recorde em 2024/25 após uma quebra da produção de soja e milho em 2024, os principais cultivos em volume do país.
O indicador caminhava para nova queda anual em 2024, mas os resultados surpreenderam ao final do ano, e o PIB do setor deverá terminar em alta de 2%, impulsionada pelo crescimento da economia nacional, maior produção pecuária e recuperação do consumo de produtos de maior valor agregado (carnes e derivados de leite).
Já o Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuário do Brasil deve crescer cerca de 7% em 2025, totalizando uma receita de 1,43 trilhão de reais, após aumentar apenas 0,3% em 2024, ano que o segmento agrícola deve encerrar com recuo de 2,5% neste indicador, sendo compensado por um crescimento de 6,2% da pecuária, para 453,3 bilhões de reais.
Com a esperada recuperação da safra, cujo plantio de soja 2024/25 está caminhando para o encerramento no país, a entidade projeta desaceleração de preços de alimentos no Brasil, com alta de 5,75% em 2025, comparada a 8,49% em 2024.
A confederação citou estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que aponta para uma safra recorde de grãos em 2024/2025 de 322,53 milhões de toneladas, alta de 8,2% em relação a 2023/24, projeção que reflete uma pequena elevação na área plantada (+1,9%) e recuperação da produtividade média.
Do ponto de vista de custos para o ano que vem, a CNA citou como preocupação a valorização do dólar. Apesar de a alta da moeda norte-americana favorecer as negociações antecipadas das principais commodities agrícolas, pressiona os custos de insumos como fertilizantes e pesticidas por serem, em boa parte, importados.
Frente aos desafios fiscais e às expectativas inflacionárias, é esperada a manutenção da taxa Selic em patamar elevado, com projeção de 13,50% ao final do próximo ano, disse a confederação.
Juros altos impactarão negativamente as concessões de crédito em 2025, segundo a entidade.
"O agro precisará se organizar para fortalecer a gestão de riscos, manter o crescimento das fontes alternativas de financiamento, como o mercado de capitais, e adotar estratégias que assegurem a sustentabilidade econômica diante do aumento nos custos de produção", de acordo com a confederação.
ALTA SURPRESA EM 2024
O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio do Brasil surpreendeu no último trimestre do ano e deverá voltar a fechar um ano no positivo, com expectativa agora de crescimento de 2%, estimou nesta quarta-feira a CNA.
Após dispararem com boas safras e preços na época da pandemia em 2020 e 2021, o PIB do agronegócio caiu em 2022 e em 2023, uma queda que poderia se repetir em 2024, segundo as expectativas iniciais da CNA embasadas na quebra da colheita de soja e milho.
"Esperávamos encerrar com PIB negativo (em 2024), mas vamos encerrar o ano com PIB em 2% positivo", disse presidente da CNA, João Martins, a jornalistas, ao apresentar o balanço do ano e as perspectivas para 2025.
Segundo o diretor técnico da CNA, Bruno Lucchi, o aumento do PIB total do Brasil em 2024 -- estimado para crescer 3,4% -- e a queda no desemprego do país estimularam o consumo de produtos como carnes e lácteos, de maior valor agregado.
Com produção elevada, o setor pecuário compensou uma queda no valor da produção agrícola, afetada pela quebra da safra de grãos em 2024, acrescentou a entidade.
Em 2023, o PIB do setor havia caído 3,7%, seguido de uma queda de 1,8% em 2022, após altas de 8,1% em 2021 e de 22,1% em 2020, segundo dados da CNA.
"Este ano a expectativa era fechar com queda de 3%, tivemos seca intensa... frustração de safra", disse Lucchi, citando ainda uma recuperação no último trimestre do ano.
No Brasil, o comércio internacional de produtos do agro ficou praticamente estável em 2024, em valor e volume, se comparado com o ano passado.
Até novembro, o agronegócio do Brasil exportou 152,6 bilhões de dólares em bens derivados do setor, variação negativa de apenas 0,3% em relação ao mesmo período de 2023.
A estimativa é que o valor alcance cerca de 166 bilhões de dólares até o fim do ano. A participação do agronegócio na pauta das exportações também esteve em patamares parecidos com 2023, figurando em 49%.
(Por Roberto Samora)