Fertilizantes: Nitrogenados sentem disparada do gás natural e ureia sai das listas de venda das empresas no BR
Os últimos meses têm sido de intensa movimentação no mercado de gás natural diante de uma das mais severas crises energéticas dos últimos anos que se alastra pelo hemisfério norte. A Europa vem registrando preços recordes do gás, os demais mercados sentem e o impacto sobre os fertilizantes, em especial os nitrogenados, é instantâneo.
Em menos de um ano, a alta dos preços do gás natural na Europa é de, aproximadamente, de 700%.A escalada é sem precedentes.
Nesta quinta-feira (25), segundo explicou o analista de fertilizantes Jeferson Souza, da Agrinvest Commodities, os efeitos no Brasil também já são sentidos e ultrapassam as altas entre os valores da ureia. Há uma semana, a matéria-prima tinha US$ 600,00 custo e frete e, nesta semana, a média testou os US$ 635,00.
"Até esta quarta, a relação de troca do safrinha 2023 versus a ureia era de, aproximadamente, 70 sacas por tonelada (como mostra a linha roxa do gráfico) em Sorriso/MT. Acho que veremos alguma mudança nesse gráfico em breve", explica Souza.
"Algumas empresas de fertilizantes anunciaram a retirada das listas de vendas de ureia, provavelmente antecipando aumentos. Nos EUA, os preços subiram cerca de US$ 50,00 por tonelada", diz. E o avanço rápido e considerável dos preços não se dá de forma localizada, o movimento é generalizado.
Desde o início da semana Souza já vinha trazendo alertas sobre o aumento dos preços da ureia nos mercados internacionais. O valor do fertilizante FOB Egito passou, de quarta (24) para quinta-feira (25), de US$ 770,00 para US$ 820,00 por tonelada. Afinal, os custos de produção de alguns grupos estão em patamares historicamente elevados.
"A crise energética vivenciada na Europa está cada vez mais delicada (...) Atualmente, produzir uma tonelada de amônia (NH3) custa mais de 3 mil euros - máxima histórica - no velho continente. Em anos anteriores, o valor não passava de 300 euros. Ou seja. hoje custa dez vezes mais. Já nos EUA, o custo de produção é de US$ 373,00 por tonelada", explica o analista da Agrinvest.
"Neste atual custo, a fabricação é inviabilizada na Europa. Todavia, mesmo com o aumento, nos EUA a margem de produção ainda é bastante satisfatória", complementa.
Assim, a companhia polonesa Azoty já anunciou nesta semana que deverá paralisar a produção de fertilizantes por pelo menos um mês. A empresa conta com a capacidade de produzir 524 mil toneladas de amônia ao ano. “A situação atual do mercado de gás natural que determina a rentabilidade da produção é excepcional”, disse o Grupo Azoty em um comunicado.
No mês passado, a Yara já havia também comunicado uma diminuição de sua produção, segundo noticiou a agência internacional Bloomberg.
E ainda nesta semana, além da Azoty, a CF Industries Holding Inc. informou que irá interromper a produção de amônia em sua fábrica do Reino Unido também diante dos elevados preços do gás natural. No mercado brtiânico, os futuros do gás natural estão cinco vezes mais altos do que há um ano. Em setembro de 2021, a CF já havia fechado duas fábricas no país.
"Os usuários de CO2 do Reino Unido dependem fortemente das importações para compensar o déficit desde o fechamento da primeira fábrica da CF, e as empresas europeias de alimentos e bebidas também estão lutando para garantir suprimentos à medida que os produtores de amônia em outras partes da região cortam a produção, disse o CEO da British Meat Processors Association Nick Allen', informa a Bloomberg.