Produtores rurais europeus mobilizados: Agricultura se levanta contra rígidas mudanças em regras ambientais

Os protestos de produtores rurais estão explodindo pela Europa. Há algumas semanas, manifestações estão sendo registradas e já chegaram notícias da Itália, da França e a mais recente, da Holanda. Na última segunda-feira (4), centenas de agricultores holandeses foram às ruas, levando seus tratores, e bloquearam centros de distribuição de supermercados em diversas cidades.

De acordo com o portal EuroNews.Green e da Reuters Internacional, os produtores se manifestam com os planos do governo que lhes solicita a redução do uso de fertilizantes em suas propriedades, bem como de seus rebanhos. As justiças da Holanda e da Europa já ordernaram que o país resolva a situação, uma vez que é considerado o maior emissor de substâncias como amônia e óxido de nitrogênio. 

Na análise do governo, as emissões de tais substâncias pela criação de gado e mais animais, como porcos, precisam ser drasticamente reduzidas, enquanto os pecuaristas afirmam que estão sendo injustamente punidos e cobrados, e criticam a abordagem do governo em torno da pauta.

O assunto chamou a atenção ainda dos pescadores locais, que se uniram às manifestações dos agricultores e em algumas cidades bloquearam acessos à portos e o fluxo de balsas por horas. Os pescadores de camarão já afirmam que poderão ser afetados por essas mudanças nas leis de emissão e já sabem que no ano que vem terão que ajustar suas permissões para a pesca, o que poderia tirá-los da atividade caso não consigam se adequar completamente.

Como explica o José Luiz Tejon, membro da ABMRA &A (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio) e professor na Agribusiness Center Fecap, da Audencia, o protesto dos agricultores "contra os exageros de colocar sobre suas costas toda a responsabilidade pelo ideal desejado do meio ambiente, como é o caso agora do que está acontecendo países nórdicos" mostra que a pauta meio ambiente é uma pauta de toda a cadeia produtiva e precisa ser tratada desta maneira. 

"Desde o início de tudo, da ciência, das minas de fertilizantes, de onde se origina a pré agricultura, os insumos, passando pela agricultura e indo a diante, chegando ao transporte, agroindústria, processamento, supermercados, o consumidor final. A responsabilidade é de toda a cadeia produtiva. Quando isso é colocada de uma forma exagerada nas costas de agricultores é como se pedissemos que todos virassem 'Super-Homens' ou 'Mulher Maravilha' em pouco tempo. Muitos não vêm como obter sucesso na atividade com uma responsabilidade de curto prazo de redução de aspectos positivos ao meio ambiente, mas que não é exclusividade dos produtores", analisa. 

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Alguns vídeos que foram divulgados no Twitter mostram que policiais poderiam ter atirado contra alguns produtores que estavam em seus tratores durante os protestos desta segunda. Mais tarde, a polícia local confirmou os disparos e afirmou também que ninguém ficou ferido. Ainda de acordo com a imprensa europeia, os manifestos continuaram mesmo depois dos disparos "de advertência" feitos - e confirmados - pela polícia local, além da prisão de diversos manifestantes. 

O portal do Reino Unido Express trouxe ainda, em uma de suas matérias sobre a manifestação, uma declaração do governo holandês dizendo: "A mensagem honesta é que nem todos os agricultores vão continuar no negócio. Aqueles que o fizerem terão que produzir de maneira diferente". 

A Holanda é a segunda maior exportadora mundial de alimentos e conta com uma classe produtora bastante ativa. Em uma entrevista divulgada no Twitter, um produtor holandês afirma que tais medidas "são parte de um plano maior", e que os sinais de que este poderia não ser um bom caminho começaram a ser dados já há três anos. "Eles precisam da nossa terra, não do nosso nitrogênio. 85% das nossas terras estão com os produtores rurais e eles precisam dessas terras", disse.

Tejon defende também que o debate - e portanto as cobranças - sejam feitas de forma mais abrangente, envolvendo todos os elos da cadeia produtiva, de distribuição e abastecimento, já que a responsabilidade não é exclusiva dos agricultores. 

"Quando olhamos para a cadeia produtiva para fazermos análises de ciclo de vida, de produto, de sustentabilidade do berço ao berço, estudo que vi no Brasil revelaram que a agropecuária, dentro da porteira, responde por cerca de 20%, 25% dos impactos ambientais. De 70% a 85% dos impactos não estão nos agricultores estão ao longo de todo o complexo, da cadeia de valor que é muito grande. Portanto, essas situações que são postas sobre a responsabilidade de um elo da cadeia produtiva - que, diga-se de passagem, é o elo menos protegido, o mais suscetível a um monte de incertezas - isso gera revoltas e procedimentos como estes mais recentes na Holanda", complementa o especialista. 

E reafirma ainda a necessidade da consciência sendo constantemente, sem que a responsabilidade seja exclusivamente cobrada de uma classe apenas. "Bom senso, agroconsciência. É este o meu pensamento", diz. 

ITÁLIA E POLÔNIA SE UNEM AOS PROTESTOS

Nesta sexta-feira (8), produtores rurais da Itália e da Polônia também deram início a manifestações em apoio ao movimento que acontece na Holanda desde o final de semana passado, segundo informações apuradas pelo portal EuroWeekly News. "Os protestos registrados nestes países começaram depois que as paralisações na Holanda levaram inúmeros supermercados a ficarem desabastecidos", relata o site europeu. 

Em uma postagem no Twitter, onde os vídeos sobre os protestos de agricultores na europa estão viralizando, é possível ler: "Itália: Os agricultores da cidade de Bauern vieram às ruas e bloquearam as estradas em protesto contra as condições de vida e as novas leis ambientais.

Em uma outra, lê-se: Na Polônia. Um movimento que está se tornando global e produtores de toda a europa estão se juntando a ele. 

Na sequência: Produtores passando pelo centro de Warsaw, na Polônia. Esperamos que seja somente um aquecimento. 

Com informações da Reuters Internacional, EuroNews.Green, Express, Deutsche Welle