Óleos vegetais entram em severa trajetória de baixa liderados pelo óleo de palma; semana acumula baixa de mais de 5%

Publicado em 21/06/2022 15:47 e atualizado em 21/06/2022 18:32
Pressão vem de combinação entre fundamentos e financeiro avesso ao risco, deixando commodities agrícolas

Depois de uma disparada e de uma trajetória de alta que durou meses, os preços dos óleos vegetais parecem dar sinais de baixa, com um movimento liderado pelo óleo de palma, o mais consumido no mundo. Uma combinação entre fundamentos dos derivados e mais uma pressão severa do financeiro sobre as commodities agrícolas tem provocada uma correção nas cotações dos óleos que chama a atenção. 

Analistas internacionais ouvidos pela agência de notícias Bloomberg afirmam que os temores de uma recessão poderia provocar uma diminuição no consumo de combustíveis de uma forma geral, o que também pesa sobre os óleos. Assim, na Bolsa de Chicago, os futuros do óleo de soja registram seu mais longo movimento de queda desde 2019. 

Abaixo, o gráfico da Bloomberg mostra que os futuros do óleo de palma já praticamente perderam seus ganhos que foram registrados em 2022. 

Comportamento de soja, milho, trigo e óleo de palma - Gráfico: CBOT+Bloomberg

"Tínhamos dois grandes problemas acontecendo com os óleos vegetais. A Malásia sofria com a falta da mão de obra na colheita da palma e agora vai se normalizando, e a Indonésia bloqueou tempoariamente as exportações dos óleos comestíveis para tentar conter a inflação - o que não foi bem sucedido, voltaram com os planos de colocar o subproduto para fora do país - e isso inflou todo o mercado de óleos vegetais", explica Matheus Pereira, diretor da Pátria Agronegócios. 

Mais do que isso, afirma que o conflito entre Rússia e Ucrânia foi mais um fator, já que inflacionou todo o mercado de energias, ajudando a elevar ainda mais os preços dos óleos. 

"E agora estamos vendo uma reversão dos cenários para alguns destes pontos que colocaram os preços em alta. Então, agora estamos tendo quedas, quedas justificáveis, com a Indonésia voltando a ofertar seu produto e a Malásia reestabelecendo seu fluxo de colheita, que até duas, três semanas atrás, ainda sofria sérios problemas", complementa Pereira. 

Somente nesta semana, de acordo com o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, os preços do óleo de palma já acumulam uma perda de 5%, depois da baixa acumulada de quase 8% na anterior. No mercado asiático, o óleo de soja cedeu 2,3% e o de palma 3 nesta terça-feira (21). 

"Essa não é uma boa notícia para as margens. O oil share em Dalian caiu de 48% para 41%. Na CBOT o movimento é o mesmo. No flat price FOB Rosário a queda foi ainda maior. Parece que a demanda por óleos realmente está em outro nível", explica o especialista. "Me parece que os óleos ficaram muito descontados. Muitos falam que a queda está relacionada ao petróleo. Mas é bom lembrar que sazonalmente o pico de consumo está logo à frente e a temporada de furacões no Golfo começa será acima da média". 

Vanin afirma ainda que as exportações malaias de óleo de palma caíram 10,5% na comparação mensal, até o dia 20 deste mês. 

"Os prêmios do óleo de soja na América do Sul também estão caindo, sinal de que a falta de óleo está muito localizada no mercado americano. Os basis da soja no Brasil também refletem esse momento. As processadoras estão bem mais cautelosas em relação ao início do ano", complementa. Ainda sobre esse comportamento das esmagadoras, Vanin afirma que mesmo diante deste quadro Brasil e Argentina deverão aumentar seus índices de mistura do óleo de soja no biodiesel. "É bom lembrar que o Brasil deve passar de B10 para B12 e a Argentina de B5 para B12,5".

Além do comportamento das processadoras, ele destaca ainda as próximas ações que a China deverá tomar frente a tudo isso. As margens de esmagamento da soja na nação asiática estão bastante ruins, o que estimula uma redução do processamento. Assim, com menos soja sendo processada - e importada pelo país - e sendo o óleo de soja a principal fonte de óleos vegetais entre os chineses - uma escassez pode se aproximar rapidamente. 

"Daqui a pouco a China terá que novamente fazer rodadas de compra no mercado internacional. Os basis do óleo de soja na China não mentem. Estão lá em cima. As processadoras de soja podem travar esse basis na compra da soja importada, o que ajuda muito na composição das margens. Porém, alongar essas vendas está sendo bem difícil. As grandes comercializadoras de óleos envazados e temperos, Daodaoqan e Jiajia Foods, continuam reportando queda nas vendas. Seus maiores clientes são restaurantes", conclui o analista da Agrinvest. 

Em entrevista ao Notícias Agrícolas no início de junho, o CEO do Grupo 3tentos, Luis Osório Dumoncel, afirmou que os primeiros cinco meses do ano foram de margens positivas na indústria processadora de soja no Brasil, porém, já vinham mostrando ajustes cno começo deste mês. 

"Nestes primeiros cinco meses do ano, indo pra seis meses, a indústria brasileira teve boas margens, um resultado bem positivo no crush, ainda o biodiesel acrescentando um percentual em cima no caso do óleo de soja, e a demanda contínua. Mas estamos vendo nesse momento um aperto dessas margens de 15 dias para cá", afirmou Dumoncel. 

Relembre a entrevista:

Ainda de acordo com os analistas ouvidos pela Bloomberg, este movimento dos óleos vegetais poderia ser um sinal de que a crise global dos alimentos poderia estar próxima de seu pico. O mercado segue acompanhando o comportamento de todas as commodities agrícolas para entender de que forma caminharão seus preços e quais os impactos continuarão exercendo sobre o processo inflacionário. 

Nesta terça-feira, as baixas não se deram só sobre os futuros do óleo de soja em Chicago, mas também no farelo e no grão. Mais do que isso, as cotações do milho cederam mais de 3% e as de trigo mais de 5%.  
 

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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