"Questão dos fertilizantes para nós é sagrada", afirma Bolsonaro ao ser questionado sobre conflito

Publicado em 27/02/2022 17:53

Desde que o conflito Rússia x Ucrânia começou a ser cogitado, com um embate efetivo entre as duas nações, o setor de fertilizantes acendeu um alerta enorme sobre a possibilidade de uma disrupção no fornecimento de um dos maiores exportadores globais desta matéria-prima. Com a guerra em andamento, desde o dia 24 de fevereiro de 2022, as preocupações se agravaram ainda mais e, segundo especialistas, os próximos dias serão cruciais. 

"A questão dos fertilizantes para nós é sagrada", disse o presidente Jair Bolsonaro, em um pronunciamento feito no final da tarde deste domingo (27). "Nossa posição é de cautela". Questionado sobre os fertilizantes brasileiros, Bolsonaro voltou a falar da oferta de matéria-prima no país, porém, afirmou também  que "temos soluções para tudo aqui dentro, nós é que inviabilizamos". 

Um cenário tão incerto aparecendo em um momento como este, em que os produtores estão planejando a safra 2022/23 - já contabilizando custos muito elevados - deixam ainda mais evidente a dependência brasileira das importações de insumos. "Cada dia, a partir de agora, será crucial. Temos pouco tempo para a safra 2022/23 e agora, para nós, as coisas estão mais complexas. E para os químicos será complicado também", explicou o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson souza. 

O especialista explica ainda que com as recentes sanções impostas pelos EUA e por países da União Europeia, as transações comerciais ficam comprometidas e que o setor que mais pode sofrer no Brasil é o de fertilizantes. 

"Nunca é demais lembrar a importância da Rússia pra nós, mais de 9,2 milhões de toneladas importadas no ano passado, o que representa aproximadamente 23% de nossas importações. Daqui pra frente, mais que preos elevados teremos que nos preocupar com a disponibilidade das matérias-primas", diz. 

Em sua análise, Souza afirma que entre os maiores produtores globais de grãos o Brasil deverá ser o país mais afetado pelas dificuldades impostas pela guerra à cadeia de abastecimento. "As importações russas de fertilizantes pelos EUA ficam perto de 5%, ou seja, dependemos muito mais dos russos, sem contar que a adubação brasileira é muito maior do que a americana em pontos de nutriente", complementa. 

Na última semana, os preços dos fertilizantes registraram uma nova disparada, principalmente os nitrogenados, estimulados pelas altas do gás natural. Na quinta-feira (24), logo na sequência das notícias do início da invasão russa, a ureia chegou a registrar altas de até US$ 150,00 por tonelada nos EUA e até US$ 180,00/t no Brasil. Na semana, em Nova Orleans, nos EUA, os valores da ureia alcançaram suas máximas em 45 anos. 

Recentemente, os preços do fertilizante vinham cedendo - tanto no mercado internacional, quanto no nacional - e boa parte dessas baixas foram recuperadas nos últimos dois dias da semana passada em função do conflito dada a importância da Rússia e da região em questão, dada sua relevância logística. 

PAPEL DA RÚSSIA

A Rússia é uma peça-chave no mercado global de fertilizantes, já que além de ser líder entre os nitrogenados - com baixos custos e volumes elevados de produção -, é a segunda maior produtora mundial de potássio, ficando atrás apenas do Canadá. Assim, não só a ureia deve registrar mais altas, de acordo com os especialistas, mas também potássicos e fosfatados também deverão subir. 

Gráfico: Fertilizantes

POSICIONAMENTO DO USDA

O secretário de Agricultura dos Estados Unidos, Tom Vilsack, fez uma declaração na última quinta-feira (24) pedindo às empresas de fertilizantes e revendedores que "não tirem vantagens injustas" deste momento de conflito e que seu departamento estará atento à distorções de preços a partir do início da guerra. 

"O USDA irá garantir que não usem essa situação como desculpa para fazer algo que não seja necessariamente justificado pela oferta e demanda. Essa é minha maior e mais profunda preocupação, e obviamente continuaremos de olho nisso", disse Vilsack. 

As declarações do secretário vão de encontro a um cenário de inflação superior a 7% nos EUA, a mais alta desde o início da década de 1980, puxada, principalmente, pelos alimentos e pelos combustíveis, quadro que pode ficar ainda mais grave com a oferta reduzida de fertilizantes e, consequentemente, de matérias-primas. 

COMPRAS BRASILEIRAS

Na Bloomberg, um dos destaques deste final de semana é o comportamento dos produtores no Brasil - o maior importador global de fertilizantes - sobre as compras de insumos diante dos desdobramentos da guerra entre Rússia e Ucrânia. 

“Os agricultores estão com medo, correndo para comprar potássio. Fizemos metade das vendas de fevereiro nos últimos dois dias”, disse José Marcos Magalhães, presidente da cooperativa Minasul, a segunda maior exportadora de café do Brasil, à agência internacional de notícias.

Já para os grãos, a dificuldade em acessar os produtos tem sido mais difícil, bem como há dificuldade de negócios frente a uma ausência de parâmetros para os preços tamanha nebulosidade sobre o setor neste momento. 

Segundo Jeferson Souza, o produtor brasileiro está atrasado em suas compras de fertilizantes pensando na soja 2022/23. "Cada vez mais temos visto o tempo passando e as complicações aumentando, isso certamente preocupa sobre a saúde da próxima safra, tanto sobre a produtividade, quanto sobre a área brasileira. Essa discussão vai voltar com certeza". 

Reveja a entrevista de Jeferson Souza ao Notícias Agrícolas no dia do início do conflito:

Por: Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte: Notícias Agrícolas

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