Adidos agrícolas auxiliam processos de exportação de produtos e de tecnologia nacionais
O Brasil ocupa papel central na segurança alimentar e nutricional mundial e, mesmo durante a pandemia de Covid-19, não deixou de produzir o suficiente para atender tanto ao mercado local, como para exportar aos parceiros comerciais. Com o título de celeiro do mundo, o Brasil fornece a outros países produtos que estão em um entre cinco pratos de comida da população global. Mas não é só isso, o país ainda se destaca na comercialização de tecnologia para a agricultura.
Mas, para que os produtos e conhecimento do agronegócio brasileiro cheguem aos mais de 200 países para os quais o país exporta, primeiro, há que se ter o interesse dos países para firmar tal relação comercial. Dos 177 mercados abertos desde 2019, grande parte deles só foi possível a partir da atuação dos adidos agrícolas, profissionais considerados os embaixadores do agronegócio.
São eles que negociam o acesso aos países estrangeiros, promovem a comercialização de produtos, monitoram a legislação do local de importação para que todos os critérios sanitários e fitossanitários sejam atendidos, além de intervir junto aos governos brasileiro e local caso haja algum entrave comercial.
Atualmente, 27 adidos agrícolas representam os interesses brasileiros nas regiões de Bangkok, Buenos Aires, Cairo, Camberra, Bogotá, Hanói, Jacarta, Cidade do México, Lima, Londres, Moscou, Nova Dehli, Ottawa, Paris, Pretória, Rabat, Riade, Roma, Seul, Singapura, Suiça, Tóquio e Washington. Em Pequim e na União Europeia, são dois representantes, já que China e o bloco são os maiores exportadores de produtos do agronegócio nacional. Com a posse dos novos adidos selecionados recentemente, haverá mais um posto, em Berlim, na Alemanha.
O número de profissionais é o maior desde que a função foi criada, em 2008 pelo Decreto 6.464. À época, foram abertos oito postos, mas a crescente demanda por alimentos brasileiros em outros países fez com que as relações bilaterais se intensificassem e a participação direta dos adidos se tornasse essencial para o relacionamento entre os mercados.
“A segurança alimentar é baseada no tripé qualidade e sanidade do alimento e possibilidade de comercializá-lo. Ou seja, mover o alimento do local em que ele é produzido para a área em que será consumido atendendo a critérios estabelecidos tanto pelo mercado exportador quanto pelo importador”, explicou o adido Guilherme Costa, que integrou a primeira seleção de adidos definida pelo Ministério da Agricultura.
Ele representou o Brasil em Genebra, na Suíça, de 2010 a 2014 e retornou à função em 2019, em Bruxelas, como representante da Missão Permanente Junto à União Europeia. O adido esteve em Brasília, de 18 a 29 de outubro, para o 3º Encontro dos Adidos Agrícolas, no qual foram alinhadas informações da atuação dos representantes e discutidas estratégias para negociações internacionais, promoção comercial, atração de investimentos e internacionalização do setor agropecuário brasileiro.
Reconhecimento do diferencial brasileiro
É do continente europeu que o adido Guilherme Costa preside o Codex Alimentarius, entidade vinculada à FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) que trata dos padrões, diretrizes e recomendações para segurança, qualidade e comércio leal de alimentos entre os 189 membros (188 países mais o bloco da União Europeia).
De forma inédita, o Brasil é o país que mais tempo está à frente do organismo, em seu quarto ano consecutivo. Costa conta que em 2017, o país assumiu a presidência, tendo sido reeleito nos dois anos seguintes. “Esse é o limite para um país ficar na presidência, mas com a pandemia não houve reunião presencial em 2020 e, por decisão dos membros em encontro online, chancelou-se a permanência brasileira ao longo de 2020”, explicou o adido ao lembrar que neste mês de novembro haverá eleições no Codex.
Para Guilherme Costa, a excepcionalidade da longa permanência do Brasil na presidência da comissão é um reconhecimento do país não só como grande exportador de alimentos, mas também pela sua responsabilidade em produzir com sustentabilidade e responsabilidade, variável considerada indispensável em qualquer relação internacional atualmente.
“Essa temática faz parte do nosso portfólio. Não dá para se pensar hoje em dia em discutir ou negociar comércio internacional agropecuário sem se considerar a variável sustentabilidade. Todos os países têm o seu dever de casa, mas o Brasil, pode-se dizer com conforto, que é exemplo por trabalhar com tecnologia e ciência há muito tempo, principalmente a partir da Embrapa”, destacou ele ao citar conceitos como poupa terra que permitem maior produção no mesmo espaço.
Ao exportar produtos produzidos a partir de tecnologia verde e amarela, o Brasil se torna referência para os demais com os quais mantêm relações. As estratégias de relações comerciais vão além e tornam os países parceiros estratégicos.
É o caso do Egito. A avaliação é do adido agrícola no país africano, Cesar Simas Teles, que anunciou a abertura de dois novos mercados para sementes de hortaliças.
“A exportação de sementes de hortaliças como pimentões, tomates, pepino constrói uma parceria muito interessante, pois permite a exportação de um produto com maior valor agregado”, comenta.
Ele explica que algumas sementes de tomates tem a medida em grama comercializada mais caro do que ouro. “Estamos vendendo tecnologia neste caso. Isso ainda permite que as nossas empresas tenham uma base internacional, já que o governo local tem como objetivo atrair representantes brasileiros para produzir as sementes in loco e abastecerem a demanda local, utilizando o Egito como plataforma para a exportação para outros países na África e Ásia”.
“Assim, a parceria se dá com oportunidades entre um Egito, dependente da exportação de sementes da União Europeia, e o Brasil, com um clima mais parecido ao egípcio durante o verão, somando interesses para novas possibilidades para ambos”, reforça Cesar.
Peculiaridades culturais
Atender as especificidades dos países importadores é condição básica para quem quer importar. As diferenças culturais, muitas vezes, são grandes e sobressaem ao modo nacional de produção. Esse é outro motivo que coloca o Brasil como exportador de confiança para a segurança alimentar, fidelizando mercados, defende o adido Guilherme Costa.
Maior exportador de carne halal do mundo, o Brasil tem expressiva participação de seus produtos em mercados de países de maioria muçulmana. Para atender a esse grupo, que representa mais de 2 bilhões de pessoas, a carne é produzida de forma a atender rigorosas regras de sanidade e rastreabilidade, respeitando ainda preceitos religiosos. A carne bovina ou de frango deve ser certificada por empresas especializadas, que garantem o abate conforme ritual permitido pelo islã.
O adido Cesar Teles destaca que da carne brasileira exportada, 50% da proteína de frango é halal e 25% da carne bovina siga esses preceitos. Para o Egito, especificamente, o Brasil é responsável por cerca de metade das importações.
Halal é uma palavra árabe que significa lícito, permitido. É um conceito seguido por muçulmanos em todo o mundo, no qual o abate do animal para consumo deve seguir um ritual que permite a morte é instantânea, evitando o sofrimento. Além de exportar os produtos de proteína animal, o Brasil é o principal fornecedor de animal vivo. "Tanto as empresas egípcias quanto o consumidor reconhecem a qualidade da carne brasileira”, avalia.
Outra grande repercussão do trabalho dos adidos no mercado do país africano foi a abertura de mercado para produtos lácteos em um prazo recorde de 10 dias.
“Manteiga, leite condensado, leite em pó. Essa foi uma grande conquista, que talvez não teria sido possível, sem o trabalho dos adidos”, celebrou, ao citar outros produtos importantes da relação comercial que tiveram a participação dos profissionais como ampliar importação de miúdos, produtos processados de frango como patê, carne de porco para o percentual de 10% de cristãos e também para caprinos reprodutores.
Para os próximos anos, ele ainda vislumbra oportunidades para que o algodão e banana brasileiros cheguem ao país, sendo o potencial de exportação da tecnologia nacional um mercado bastante atrativo. “Vejo o Brasil como provedor de tecnologia com a venda de insumos como sementes e equipamentos para a irrigação, e produção de açúcar nas usinas”, reforça Cesar.