Pandemia da peste suína, por Agroanalysis/FGV
Há um risco concreto de a peste suína africana dizimar milhões de suínos na China, que representa em torno de metade da produção e do consumo mundiais. Entre as criações de animais de larga escala, não existe nenhuma nação com uma participação dessa magnitude. Detectado no início de agosto de 2018, o surto da doença alastrou-se de forma rápida por toda a nação. A taxa de mortalidade é de aproximadamente 90%.
Por coincidência, todos esses acontecimentos ocorrem justamente quando se celebra o Ano do Porco na China, de 5 de fevereiro de 2019 a 25 de janeiro de 2020. Na cultura chinesa, o animal representa o símbolo tradicional da saúde. Nas residências, as famílias costumam reservar um canto especial para destacar a sua ?gura.
Na proporção em que a doença avança na suino- cultura, a expectativa de maiores importações de proteína animal pelos chineses aumenta também na avicultura, na bovinocultura e na piscicultura.
Com carne de boa qualidade e valores competitivos, o Brasil, sem dúvida, está no radar dos chineses. Alguns frigorí?cos brasileiros ja? registram aumento das vendas para a China. Resta, portanto, oferecer credibilidade e segurança como contrapartida aos compradores. As comitivas organizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para visitar esse almejado cliente estão no caminho certo. Da mesma forma, deve-se mostrar transparência e competência na apresentação dos frigorí?cos brasileiros para se conseguir a habilitação de exportação.
DIMENSÃO DO PROBLEMA
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) mostra séria preocupação. Outros países asiáticos já estão acometidos (Vietnã, Japão, Mongólia e Cambodja), enquanto nações do Leste Europeu registram focos do vírus (Estônia, Ucrânia, Rússia e Hungria).
O alerta chega até a Bélgica, cujo rebanho suíno gira em torno de 6 milhões de cabeças. As autoridades locais tomaram a decisão radical de abater os porcos domésticos para evitar a contaminação das criações pecuárias pelo vírus da febre africana. A medida conta com o apoio do Comitê de Saúde e Segurança Alimentar da União Europeia (UE), que ?nanciara? metade dos gastos previstos com a operação.
Em paralelo, nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura (USDA, na sigla em inglês) e a Agência de Proteção de Fronteiras e Alfândega intensi?caram as ações para proteger o seu território contra possíveis contaminações. Aumentou o número de equipes de inspeção e de cães farejadores das remessas de suínos vivos, carne congelada e outros produtos que chegam ao país.
VALORES EM JOGO
Evidentemente, a indústria de carne suína chinesa possui uma clara percepção desse contexto dramático. O Ministério de Agricultura e Assuntos Rurais da China aponta números de agosto de 2018 até o ?nal de março deste ano: o abate de animais contaminados passa de 1 milhão de cabeças. Os preços subiram 40%.
Muito se discute sobre as projeções e a potência das mudanças em curso na suinocultura chinesa. Para o governo chinês, os preços da carne suína no país poderão chegar a 70% até o ?nal do ano, enquanto o tamanho do rebanho pode declinar até 13%. A demanda será suprida por importações de outros países.
Na verdade, as estatísticas sobre o rebanho e a produção suínos na China precisam de uma depuração cuidadosa. O país não apresenta um bom histórico de transparência no relato de epidemias nas criações. O Vietnã, que registrou o primeiro surto seis meses depois da China e possui muito menos animais, con?rma que abateu 1,3 milhão de animais.
O banco holandês Rabobank calcula que mais de 150 milhões de animais podem ter sido infectados na China. Além disso, acredita que tal país possa perder um terço do seu rebanho, o que equivale ao rebanho todo da União Europeia (UE).
A geogra?a da criação mostra uma distribuição muito espalhada no país, o que di?culta o acompanhamento. O ponto crítico está nas pequenas criações, que abatem cerca de quinhentos animais por ano. Isso pode representar de 40% a 50% da produção de suínos. É justamente nessa faixa que o status sanitário corre maior risco, pelo baixo controle.
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