Após clima, cenário econômico mundial deve impactar mercado de commodities
A desaceleração da China tem se mostrado mais intensa do que inicialmente se esperava, colocando pressão baixista sobre as commodities. A redução da demanda do gigante asiático tem impactado negativamente as moedas de países emergentes, que exportam para a localidade. É o caso do Brasil, onde a taxa de câmbio chegou a R$ 4,00, com a alta potencializada pela crise política e econômica.
Segundo avalia a coordenadora de inteligência de mercado da INTL FCStone, Lígia Heise, o cenário de alta para o dólar pode se intensificar caso os Estados Unidos decidam subir sua taxa de juros de referência este ano. Por outro lado, ponderando sobre um possível adiamento da primeira alta dos juros para o próximo ano, a influência externa para a taxa de câmbio brasileira seria mais neutra nos meses que seguem.
Com relação ao ambiente doméstico, as perspectivas pessimistas para o cenário político e econômico sugerem que o real poderá continuar perdendo valor neste último trimestre, embora de maneira mais moderada, salvo situação de piora expressiva do cenário político.
“O dólar mais alto e a crise têm mexido com a vida dos produtores brasileiros. O aumento dos custos de produção e o encarecimento do crédito foram compensados em maior ou menor grau a depender da cultura”, disse a INTL FCStone em relatório. No Brasil, a desvalorização cambial e o aumento dos custos logísticos nos portos elevam os preços dos fertilizantes em reais, enquanto a dificuldade de acesso ao crédito rural reduz a demanda dos agricultores.
Os produtores de grãos têm sido os mais favorecidos pela desvalorização cambial, que deu suporte ao preço recebido em suas praças no mercado doméstico. Muitas usinas de cana, por outro lado, estão vendo sua dívida crescer a taxas superiores a sua receita, o que agrava a crise do setor.
Clima
No terceiro semestre deste ano, a INTL FCStone havia apontado o clima como principal influenciador do mercado de commodities. No entanto, o efeito do El Niño sobre algumas culturas (como soja e milho) tem sido limitado. “Nos Estados Unidos, o fenômeno se intensificou depois que as lavouras da oleaginosa e do cereal já tinham passado pela fase crítica de desenvolvimento, poupando as plantas”, lembra a analista da consultoria, Ana Luiza Lodi.
O mercado de açúcar tem sofrido mais, com chuvas acima da média no Brasil, e seca em players importantes da Ásia. Ainda assim, mesmo em safras mais impactadas pelo fenômeno climático, os fundamentos de oferta das commodities são em linhas gerais confortáveis, com amplos estoques dificultando altas expressivas dos preços.