No ESTADÃO: Dilma prega otimismo; Tesouro anuncia mais déficit
A economia dos poderes mágicos da mente
POR ROLF KUNTZ - O ESTADO DE S.PAULO
A presidente Dilma Rousseff é uma batalhadora. Essa virtude ninguém pode negar. Ela briga com as palavras, a lógica, os fatos, os números, a teoria econômica e os princípios mais simples da administração. Não é uma vida fácil, até porque os números têm o hábito lamentável de atacar traiçoeiramente. Enquanto ela pregava otimismo aos empresários, na quarta-feira à tarde, o Tesouro Nacional divulgava as contas do governo central, com mais um déficit primário - de R$ 1,95 bilhão em junho - e mais uma coleção de cifras assustadoras. No dia seguinte o Banco Central (BC) mostrou um quadro ainda mais feio, ao publicar as contas consolidadas do setor público. Segundo seu critério, o mês de junho havia terminado com um buraco de R$ 2,7 bilhões na administração central e de R$ 2,1 bilhões no conjunto, com desempenho pouco melhor dos governos regionais e das empresas controladas. Na sexta-feira, novo ataque dos números mostrou mais um tombo da produção industrial: o volume foi 1,4% inferior ao de maio e 6,9% menor que o de junho do ano passado.
No mesmo dia, à tarde, as cifras do comércio exterior pareceram trazer alguma ajuda: as contas de julho foram fechadas com superávit de US$ 1,57 bilhão. Mas pouco mais de metade desse valor, US$ 866 milhões, foi garantido pela exportação fictícia de uma plataforma de exploração de petróleo. Além disso, no acumulado do ano restou um déficit de US$ 916 milhões. Sem aquela operação - legal, mas fictícia, porque a plataforma continua no País - o déficit de janeiro a julho ainda seria US$ 1,78 bilhão.
Mas a presidente, auxiliada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, continua cobrando otimismo de todos, como se isso garantisse um desempenho melhor da economia brasileira. Os dois atribuem os problemas - pequenos, naturalmente - ao pessimismo espalhado pelos mercados e às condições da economia internacional. Na Confederação Nacional da Indústria (CNI), na quarta-feira, a presidente chegou a falar em protecionismo no mundo rico para explicar o enfraquecimento das exportações. Em relação ao comércio exterior e à competitividade, os números e dados conhecidos também têm sido adversos às teses presidenciais.
A presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Fazenda têm aplicado à economia uma criativa mistura de ideias. As teses de Norman Vincent Peale, autor do best-seller O Poder do Pensamento Positivo, aparecem mescladas com crenças primitivas em faculdades mágicas da mente. Além de injusta em relação ao pastor Peale, essa mistura passa longe de qualquer ideia econômica sobre a importância das expectativas. Decisões sobre consumo, produção e investimento são realmente afetadas por expectativas, e isso os economistas sabem há muito tempo. Mas os fatos são muito mais complexos e, quando se trata de explicar o desempenho de uma economia, é sempre bom levar em conta a qualidade da política. Expectativas podem ser importantes, mas a competência de quem conduz a política também pesa.
De janeiro a junho deste ano a produção industrial foi 2,6% menor que a do primeiro semestre do ano passado. Em 2013 o produto industrial aumentou 2%, mas havia diminuído 2,3% em 2012. Nem retornou, portanto, ao nível de 2011, quando o pífio crescimento havia ficado em 0,4%. Desde o primeiro ano do governo Rousseff, qualquer iniciativa rotulada como política industrial fracassou, portanto, de forma indisfarçável.
Atribuir esse resultado ao pessimismo generalizado seria um exagero, até porque os consumidores demonstraram boa disposição e considerável otimismo durante boa parte desse período. Talvez seja o caso, diante desses dados, de abandonar a conversa sobre expectativas pessimistas e explicar o fiasco da política pelo mau-olhado. Por que não, se o poder mágico da mente é tão relevante? A culpa deve ser de oposicionistas, de neoliberais invejosos e, de modo geral, de pessoas sem patriotismo. Afinal, o crítico do governo, segundo o discurso oficial, sempre torce pelo pior e é inimigo da Pátria.
Mas as falas da presidente e do ministro revelam algo mais que a crença nos poderes mágicos do pensamento, positivo ou negativo Denunciam também uma concepção muito especial da expectativa. Uma estranha noção está implícita nessa conversa: as pessoas podem ser pessimistas ou otimistas em relação aos fatos ou dados conhecidos. Se são conhecidos, no entanto, como falar de pessimismo ou otimismo? Um fato é claro: o mau humor de empresários e analistas está associado em primeiro lugar a informações amplamente difundidas, como a persistência de pressões inflacionárias, o emperramento da indústria, a piora das contas públicas e as más condições do comércio exterior.
Informações mais detalhadas podem tornar pior esse humor. Exemplo: de janeiro a junho deste ano, a produção de bens de capital, isto é, de máquinas e equipamentos, foi 8,3% menor que a do primeiro semestre do ano passado. Em 2012 e 2013 essa produção ficou estagnada. Além disso, entre janeiro e julho o valor gasto com a importação de bens de capital foi 6% menor que o dos mesmos meses de 2013. Conclusão inescapável: os brasileiros estão investindo menos na ampliação e na modernização da capacidade produtiva. Como o crescimento da economia depende do investimento, exceto quando há grande capacidade ociosa, o potencial de expansão do Brasil continua comprometido. É uma relação elementar. Não é questão de pessimismo. Embora seja difícil calcular aquele potencial, respeitáveis economistas concordam pelo menos quanto a um ponto: sem investir muito mais o Brasil pouco poderá crescer nos próximos anos.
As autoridades às vezes parecem admitir esse raciocínio. Mas continuam falando como se os fatos conhecidos fossem positivos e as más expectativas, infundadas, George Orwell chamou de "duplipensar" a sustentação de ideias incompatíveis. Em alguns casos, talvez fosse mais adequada outra palavra: "semipensar".
*Jornalista
A tropa petista vai ao ataque
EDITORIAL DE O ESTADO DE S.PAULO, (3 Agosto 2014)
A presidente Dilma Rousseff, seu estafe e grão-petistas em geral têm reagido de forma agressiva e autoritária a todo tipo de reparo sobre o modo como o País vem sendo governado. Relatórios e análises que desmintam o cenário róseo descrito pela propaganda oficial logo são desqualificados pelas autoridades federais, como se os críticos - ainda que pertencentes a instituições internacionais importantes - fossem despreparados ou estivessem apenas movidos por má-fé.
É óbvio que os nervos afloram em época de campanha eleitoral, mas o que se espera da presidente é serenidade, pois ela ainda é a responsável pela administração do País. O que se tem notado, no entanto, é um crescente destempero.
O caso mais recente envolveu um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) que colocou o Brasil entre as cinco economias emergentes mais suscetíveis de sofrer os efeitos de outra crise financeira global. As demais seriam Índia, Turquia, Indonésia e África do Sul. Segundo o relatório, esses países estariam vulneráveis em razão de inflação alta e rombo nas contas internas e externas, entre outros problemas. No caso específico do Brasil, a situação das contas externas é qualificada de "moderadamente frágil".
A resposta do governo a essa análise correta dos fatos foi truculenta. "Não faz sentido a conclusão desse relatório", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para ele, uma instituição respeitável não faria uma análise dessas e o estudo só pode ter sido elaborado "por uma equipe do FMI que eu não sei quem é".
O ímpeto petista para desqualificar os críticos já chegou às raias do ridículo. Em fevereiro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) propôs um voto de censura contra o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) depois que este incluiu o Brasil entre as economias vulneráveis. Segundo Gleisi, o relatório do Fed usou uma metodologia inadequada "para se chegar a conclusões confiáveis". Na mesma sessão do Senado, outro petista, José Pimentel (CE), resumiu tudo ao dizer que o Fed é simplesmente incompetente.
Esse estilo arrogante é o mesmo que marcou a reação ao já famoso boletim do Santander, no qual o banco alertava os clientes que, se Dilma subir nas pesquisas, poderá haver "deterioração de nossos fundamentos macroeconômicos".
Embora apenas retratasse o ambiente carregado do mercado e dos investidores graças aos sucessivos erros cometidos pelo governo, o texto foi tratado por indignados petistas como "terrorismo eleitoral". Descontrolado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a exigir a demissão da analista que elaborou o boletim, recorrendo a palavrões para desqualificá-la.
Já a presidente Dilma, em lugar de apaziguar os ânimos, seguiu toada semelhante, ao dizer que vai tomar uma "atitude bastante clara em relação ao banco" - ameaça que ficou pairando no ar - e acusou o Santander de "interferência" no processo eleitoral. O desequilíbrio é evidente.
Outro caso recente em que o governo tratou de desmerecer informações que contradizem o alardeado sucesso de suas políticas ocorreu na divulgação, pela ONU, do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que envolve expectativa de vida, escolaridade e renda média. Segundo a organização, o Brasil aparece em 79.º lugar entre 187 países, tendo subido apenas uma posição em relação ao ano anterior. O ligeiro avanço foi encarado pelo governo como uma ofensa.
Nada menos que três ministros convocaram a imprensa para contestar os números usados pela ONU. Se os dados estivessem atualizados, disseram eles, o Brasil apareceria em 67.º lugar. Não é a primeira vez que o atual governo critica as contas do IDH - para as autoridades, se o índice não refletir os extraordinários avanços sociais patrocinados pelo lulopetismo, então ele só pode estar errado.
Diante desses casos, fica claro que o governo não pretende se limitar a rebater avaliações e números negativos. A tropa petista está de prontidão para ir além, desacreditando com agressividade todo aquele que representar o contraditório. Recordando Dilma: "Nós podemos fazer o diabo na hora da eleição".
Base de Dilma se esfarela
O ESTADO DE S.PAULO
Um levantamento feito pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap) e divulgado pelo jornal Valor mostra que, no primeiro semestre deste ano, os deputados seguiram os interesses do Planalto em apenas 54,5% das votações na Câmara. Trata-se de um apoio menor até do que o dispensado ao presidente Fernando Collor de Mello (1990-92), que passou à história como um dos que mais atritos tiveram no Congresso e acabou sofrendo um processo de impeachment. Isso significa que nem todo o notável esforço que Dilma faz para acomodar em seu imenso Ministério os indicados pelos partidos governistas tem sido suficiente para lhe garantir a fidelidade necessária na Câmara.
Os números são eloquentes. O apoio parlamentar ao governo em plenário chegou a 75,4% no primeiro ano do mandato de Dilma, caindo para 64% nos dois anos seguintes, até despencar neste ano para 54,5%. Como comparação, Collor, que nem de longe tinha uma base de sustentação tão numerosa como a de Dilma, conseguiu apoio em 58% das votações em 1991, ano anterior ao do processo de impeachment.
Mesmo enfrentando problemas de governabilidade em determinados momentos de seus mandatos, Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso jamais tiveram apoio tão fraco no Congresso quanto Dilma. No auge do mensalão, em 2006, o apoio aos projetos de interesse de Lula na Câmara ficou em 61%. Já FHC amargou apoio de apenas 67,5% em 2001, ano em que enfrentou a possibilidade de uma CPI para investigar denúncias de corrupção.
A explicação óbvia para o caso de Dilma está no estilo centralizador e na inabilidade da presidente para lidar com o Congresso, ao contrário de Lula e de FHC, conhecidos por seu bom trânsito entre os parlamentares. Dilma tem demonstrado em diversas ocasiões sua falta de disposição para tratar bem os parlamentares, até mesmo quando o que está em jogo é sua candidatura à reeleição. Em abril, quando já estava claro que ela teria problemas para manter coesa sua base de apoio e para afastar o fantasma do "volta, Lula", a presidente declarou: "Gostaria que, quando eu for candidata, eu tenha o apoio da minha própria base. Mas, não havendo esse apoio, vamos tocar em frente". Não angariou simpatias com tal declaração.
Para garantir apoio, Dilma parece considerar suficiente presentear seus aliados com cargos. Graças a essa estratégia, a presidente, que herdou fantásticos 37 Ministérios do governo de Lula, elevou o número de pastas para 39, um recorde absoluto. Nelas, estão acomodados representantes de dez partidos. Um deles, o PR, recentemente chegou a chantagear Dilma para que trocasse o ministro dos Transportes, o que ela fez sem discutir - como se a pasta pertencesse ao partido, e não ao governo.
Mas o chamado "presidencialismo de coalizão" não se sustenta somente com distribuição de cargos no primeiro escalão. É preciso saciar o apetite da base aliada por verbas de emendas parlamentares e também mostrar disposição para negociar e fazer concessões.
Os parlamentares se queixam de que as decisões sobre seus Estados, muitas vezes envolvendo bilhões de reais, são tomadas pelo Planalto sem consulta ao Congresso. Os ministros mais poderosos e a própria Dilma raramente recebem os deputados em audiência para ouvir suas reivindicações, e a articulação do governo na Câmara passou dois anos nas mãos da ministra Ideli Salvatti, que dispunha de pouca autonomia e era considerada inábil.
Como resultado dessa sucessão de erros, o governo teve de enfrentar até mesmo a formação de um "blocão" de parlamentares de partidos aliados que ameaçaram infernizar a vida do governo no plenário. O objetivo era pressionar Dilma a liberar verbas e a incluí-los nas decisões de governo - das quais, segundo eles, só petistas participam.
Em vez de mudar o estilo, porém, Dilma preferiu o caminho do confronto - ao decretar a criação de "conselhos populares", desafiando o atual regime de representação democrática, e ao defender um plebiscito para a reforma política, passando ao largo do Congresso.
Falta sentimento democrático,
por Fernando Henrique Cardoso
Ainda é cedo, mas há fortes indícios de que o PT perderá as próximas eleições. Em que Estado com muitos eleitores seus candidatos a governador se mostram competitivos? Talvez em um. No total os petistas aparecem bem situados apenas em quatro Estados, se tanto, três deles com não muitos eleitores. Quanto aos aliados, especialmente o principal, o PMDB, parece que andam em franca debandada em vários Estados. Também, pudera, como pedir fidelidade no apoio à reeleição quando, além do pouco embalo da chapa presidencial, os candidatos da oposição e do próprio PMDB aos governos estaduais aparecem bem à frente dos candidatos do PT?
As taxas de rejeição da presidenta estão nas nuvens, não só em São Paulo, onde nem o céu é o limite. Também crescem nos pequenos municípios do Norte e do Nordeste para onde, nas asas das Bolsas Família, migraram os apoios do partido que nasceu com os trabalhadores urbanos. As raízes deste quadro se abeberam em vários mananciais: os das dificuldades econômicas, da tragédia das políticas energéticas (vale Prêmio Nobel derrubar ao mesmo tempo o valor de bolsa da Petrobrás e as chances do etanol e ainda encalacrar as empresas de energia elétrica), da confusão administrativa, do pântano das corrupções, e assim por diante. Culpa da presidenta? Não necessariamente.
Há tempo escrevi um artigo nesta página com o título Herança maldita. Fazia ironia, obviamente, com o estigma que petistas ilustres quiseram impingir ao meu governo. No artigo indicava que a origem das dificuldades não estava no atual governo, vinha de seu predecessor. A cada oportunidade que tenho procuro separar a figura da presidenta, seu comportamento passado e atual, digno de consideração, dos erros que, eventualmente, atribuo ora a ela, ora ao estilo petista de governar.
Mas, francamente, é demais não reconhecer que há motivos reais, objetivos, para o mal-estar que envolve a atual política brasileira sob hegemonia petista. Abro ao acaso os jornais desta semana: os europeus advertem que a produtividade do País está estagnada; o humor do varejo em São Paulo é o pior em três anos; a produção industrial e a confiança dos industriais não param de cair; o FMI publica documento oficial assinalando que nossa economia é das mais vulneráveis a uma mudança no cenário internacional e ajusta mais uma vez para baixo a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2014 para 1,3% (seriam otimistas?); o boletim Focus, do Banco Central, prevê um crescimento ainda menor, de 0,9% (seriam os pessimistas?); o juro para a pessoa física atinge seu maior patamar em três anos; a geração de empregos é a menor para o mês de junho em 16 anos; para não falar na decisão do TCU de bloquear os bens dos dirigentes da Petrobrás ao responsabilizá-los por prejuízos causados aos cofres públicos na compra da refinaria de Pasadena.
Espanta, portanto, que a remessa de análise conjuntural feita por analistas de um banco a seus clientes haja provocado reações tão inusitadas. O mercado não deve intrometer-se na política, protestaram governo e petistas. Talvez. Mas se intromete rotineiramente e quando o vento está a favor os governos se deixam embalar por seu sopro. Então, por que agora e por que de forma tão desproporcional ao fato, presidenta?
Não creio que seja por desconhecimento da situação, muito menos por ingenuidade. Trata-se de estratégia: o ataque é a melhor defesa. E nisso Lula é mestre. Lá vem aí de novo com a "zelite" (da qual faz parte) contra o povo pobre. Até aí, táticas eleitorais. Mas me preocupa a insistência em tapar o sol com peneira. Talvez queiram esconder o acúmulo de dificuldades que se estão avolumando para o próximo mandato: inflação subindo, com tarifas públicas e preço da gasolina represados; contas públicas que nem malabarismos fiscais conseguem ajustar; o BNDES com um duto ligado ao Tesouro, numa espécie de orçamento paralelo, como no passado remoto; as tarifas elétricas rebaixadas fora de hora e agora o Tesouro bancando os custos da manobra populista; e assim por diante. Em algum momento o próximo governo, mesmo se for o do PT, terá de pôr cobro a tanto desatino. Mas, creem os governistas, enquanto der, vamos empurrando com a barriga.
Que fez o governo do PSDB quando as pesquisas eleitorais de 2002 apontavam possível vitória do PT da época? Elevou os juros, antes mesmo das eleições, reduzindo as próprias chances eleitorais. Sustentou mundo afora, antes e depois das eleições, que não haveria perigo de irresponsabilidades, pois as leis e a cultura do País haviam mudado. Pediu um empréstimo ao FMI, com a prévia anuência pública de todos os candidatos a presidente, inclusive e especificamente do candidato do PT. O dinheiro seria desembolsado e utilizado pelo governo a ser eleito para acalmar os mercados, que temiam um descontrole cambial e inflacionário, e mesmo uma moratória, com a vitória de Lula. Aprovamos ainda uma lei para dar tempo e condições ao novo governo de se inteirar da situação e se organizar antes mesmo de tomar posse.
Agora, na eventualidade de vitória oposicionista (e, repito, é cedo para assegurá-la), que fazem os detentores do poder? Previnem-se ameaçando: faremos o controle social da mídia; criaremos um governo paralelo, com comissões populares sob a batuta da Casa Civil, que dará os rumos à sociedade; amedrontam bancos que apenas dizem o que todos sabem, etc. Sei que são mais palavras equívocas do que realidades impositivas. Mas denotam um estado de espírito. Em lugar de se prepararem para "aceitar o outro", como em qualquer transição democrática decente, estigmatizam os adversários e ameaçam com um futuro do qual os outros estarão excluídos.
Vejo fantasmas? Pode ser, mas é melhor cuidar do que não lhes dar atenção. A democracia entre nós, já disseram melhor outros personagens, é como uma planta tenra que tem de ser cuidada e regada com exemplos, pensamentos, palavras e ações todos os dias. Cuidemos dela, pois.
* Sociólogo, foi presidente da República