Despedida desastrosa, por Osvaldo Piccinin
Nossa ansiedade, ao aproximar-se o final do curso, no Colégio Diocesano, encontrava-se acima do nível. Afinal foram muitos anos de convivência entre os poucos mais de trinta formandos.
Em minha época, de juventude, era divertido fazermos festa com a galinha, galo, cabrito e até gato “emprestado” do vizinho ou amigo e até dos próprios familiares –, as avós eram as preferidas, e convidá-los para o banquete junto ao grupo de moleques sapecas, responsáveis pela proeza.
È verdade que nem sempre esta traquinagem terminava bem, e se o bicho fosse de estimação a confusão estava armada. Detalhe importante: quanto mais irritado o dono ficava, mais nos divertíamos –, tínhamos assunto para muito tempo. Afinal, este era nosso principal objetivo, ou seja, irritar o dono do bicho.
Sentíamos que nossa separação, talvez para sempre, seria inevitável, e isso nos angustiava. A nossa vontade de ficarmos mais tempo juntos, nesta reta final do curso, com gostinho de despedida, só aumentava. A música que aprendemos no colégio não saia de nossa cabeça: “adeus amigos eis as minhas despedidas, vou voltar para meu pago, minha terra tão querida...”.
Estabelecemos como regra, por sugestão do próprio professor de física -, um garotão pouco mais velho que nós, que nada poderia ser comprado. Com a lista das mercadorias em mãos fomos à luta, cada grupo com a sua responsabilidade definida.
Foi nesse clima de muita alegria e ansiedade que idealizamos nossa derradeira festa de confraternização. Alguns colegas, por serem internos, tinham livre acesso ao estoque de alimentos do colégio, portanto, ficaram responsáveis por alguns dos víveres lá estocados.
Outra equipe ficou encarregada pelos seis frangos ou penosas como dizíamos. Afinal, no escuro não se pode escolher o sexo. Caiu na rede é peixe, quer dizer é frango. A técnica era apertar o pescoço na hora do bote certeiro, evitando aquela escandalosa gritaria de bicho acuado.
Para guardar os produtos, “conseguidos”, escolhemos a chácara da avó de um amigo próxima ao colégio. A pobrezinha, jamais sonhou que estávamos fazendo coisa errada e com a maior boa vontade acolheu as aves e dois nobres cabritos que estavam por chegar.
Fiquei responsável, juntamente com mais cinco colegas, pelos cabritos. Fiz o levantamento da área e os identifiquei, na minha cidade, distante dez quilômetros do colégio. No velho Jeep do amigo os transportamos até à chácara da vovó solidária ou fiel depositária.
Mas quando uma coisa tem que dar errada certamente dará, será apenas uma questão de tempo. Ao indicar o local, onde os bodes pastavam, não nos atentamos que este ficava exatamente enfrente à casa do delegado de policia. Por morar na cidade não participei da operação captura. Fui poupado pelos colegas.
Na manhã seguinte, tomei conhecimento do ocorrido. Meia hora após chegarem com os cabritos à chácara, a polícia chegou junto e gentilmente os convidou a irem até à delegacia obrigando-os a devolver aos verdadeiros donos, as galinhas e os dois caprinos.
A coitadinha da vovó até hoje não entendeu o que, de fato, aconteceu. Não sabia se chorava ou sorria diante da constrangedora situação e ainda levou uma repreensão policial como receptadora. Que maldade!
Quanta vergonha! Os marmanjos, de cabeças raspadas, na frente puxando os bichos e a molecada atrás zoando, imitando cabrito berrando. E isso do centro da cidade até às casas dos donos.
Felizmente o delegado notou que se tratava de gente boa e que nossa traquinagem não passava de coisa de moleques arteiros.
Receberam um belo sermão e fizeram juras que nunca mais repetiriam este mal feito, afinal sacanagem tem limite profetizou o professor, padre, quando soube. A festa não poderia ser adiada, e com muito sacrifício nos cotizamos e fomos às compras. Dessa vez, a despedida, deu bode literalmente!
E VIVA AS TRAQUINAGENS DA JUVENTUDE!
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