O valente Teteco, por Osvaldo Piccinin
Tenho um amigo gaucho, contador de causos por natureza. Nos bons tempos quando, tínhamos fígado zerado e menos interferência das esposas, nos reuníamos com grande frequência para ouvir seus engraçados contos.
Uma dessas histórias guardei na lembrança e, com certeza, a contei inúmeras vezes. Trata-se do personagem por nome Hugo e seu cachorrinho Teteco. Vira - lata este, que Hugo ganhou de presente em um dos Natais de sua vida, de um amigo de infância.
Hugo adorava pescar e caçar perdizes e, como estava aposentado ia praticamente todos os dias “dar banhos nas minhocas” numa represa, situada em Lagoa Vermelha - RS ou, dependendo da época, caçar. Seu inseparável guaipeca -, companheiro fiel, jamais deixou de acompanhá-lo.
Hugo era deficiente físico e numa de suas pernas, enrijecida e um pouco menor que a outra, usava um salto de dez centímetros para compensar a diferença. Caminhava com desenvoltura, mas arrastando, esticada, a perna doente. Hugo tinha muito orgulho da inteligência de seu cãozinho, pois aprendera a fazer certas coisas que outro cão de raça dificilmente faria com tanto exímio.
Uma das coisas que Teteco fazia com extrema eficiência, era buscar as perdizes abatidas em suas caçadas, e trazê-las até ele sem estragar a ave com sua mordida. Também lhe ensinou buscar objetos que atirava longe, como seus chinelos, por exemplo.
Numa dessas pescarias, Hugo, cismou de soltar um coquetel explosivo na represa para matar a maior quantidade de peixes possível, de uma só vez, e depois dar ordens para Teteco apanhá-los assim que boiassem.
Teteco, fiel companheiro, seguia atrás de forma resignada e pronto para atender as ordens do seu dono. Depois de alguns metros caminhados, ambos, já na margem da lagoa, sentaram-se para descansar, antes que fosse lançado o mortífero coquetel.
Enquanto Hugo preparava o pavio do artefato, seu amigo assistia atentamente o que estava por vir. Foi quando Hugo atirou a bomba com um longo pavio aceso a alguns metros lagoa a adentro. O pobre Teteco, num ato contínuo e de servidão, não teve dúvida pulou na água em busca do objeto lançado.
Hugo entrou em desespero e por vezes chamou o cachorro de volta, que nessas alturas já vinha com a bomba na boca ao seu encontro. Quando ele viu que iria sobrar para ele também saiu em disparada arrastando todo capim seco que encontrava pela frente com sua canela dura, igual ao trem de pouso de avião.
- Pelo amor de Deus Teteco! A bomba vai explodir! Largue isso agora, senão vamos morrer! Gritava desesperadamente. Mas que nada, antes que alcançasse a margem da lagoa, a bomba explodiu e pedaços do pobre e obediente Teteco voaram para todos os lados, para desespero do pobre Hugo.
É aí que nos damos conta que “a vida é feita de instantes, não pode ser medida em anos ou meses, mas sim, em minutos ou segundos”.
“Viva cada dia como se fosse o último, um dia você acertará”.
E VIVA O VALENTE TETECO!
osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br