Colégio Diocesano La Salle - São Carlos do Pinhal, por Osvaldo Piccinin
Por muito tempo eu acreditava que minha vida e meu futuro seriam parecidos com a vida simples da roça de meus pais e parentes. Afinal nosso sítio tinha tudo que eu gostava: caçadas de estilingue e de espingarda passarinheira, arapuca, banho de rio, escola próxima, muitos amigos, enfim muita liberdade.
Nunca levei a serio quando meu velho pai dizia que seu sonho era me ver um doutor formado, embora essa sementinha nunca saísse de minha mente. Eu falava pelos cotovelos e alardeava a todos essa intenção do velho. Poucos acreditavam. Afinal nossos recursos financeiros eram curtos. O que meu pai tinha de sobra era garra e determinação.
Assim que terminei o primário fui conhecer o Colégio Diocesano em São Carlos, uma referência no Estado de São Paulo, na época. Colégio particular, onde abrigava gente de todos os cantos do Brasil, muitos dos quais, jovens endinheirados e endiabrados quase impossíveis de serem domados em seus próprios lares.
A imponência de sua arquitetura centenária, ao estilo francês, me impressionou sobremaneira. Uma babilônia perto da minha humilde escolinha primária próxima a uma estação de trem. “Escola mista da estação de Tamoio”, era seu nome.
No princípio comi o pão que o diabo amassou para ser aceito entre os abonados e vividos colegas, mas com o tempo fui ganhando respeito pelo meu desempenho como atleta e também por ter a fama de ser bom de briga. Uma forma de me proteger dos marmanjões que judiavam dos mais novos, hoje chamado de bulling.
Franzino, mas muito destemido jamais levei desaforo para a casa. Caso levasse, perigava tomar outra surra do velho, além de me chamar de frouxo. Os tempos eram outros! A disciplina do nosso colégio era rígida, nossos mestres, chamados de Irmãos, vestidos com batinas, jogavam pesado com os desordeiros e maus criados, apesar de muitos serem indomáveis.
Formávamos filas e cantávamos o hino nacional antes de subir as escadarias até a sala de aula, e ninguém podia dar um pio durante o percurso. Uma vez na sala, só estávamos autorizados a sentar, após o professor acomodar-se.
Os alunos que não levavam a tarefa pronta eram convidados a sair da sala, além de receberem uma notificação na caderneta de presença e serem obrigados a colherem a assinatura do pai ou responsável no apontamento feito.
Quem tinha vergonha na cara e responsabilidade merecia tratamento diferenciado por parte dos mestres. Já os “coçadores” e indisciplinados sofriam duras penalidades e muitas vezes até expulsão.
Este colégio foi, por oito anos, minha segunda casa. Lá o respeito ao próximo, à pátria, a referência espiritual, valorização e gratidão aos pais eram palavras de ordem. Foi graças aos sacrifícios dos meus pais que pude gozar desse privilégio.
Sei o quanto sofreram e se privaram de regalias, para me manter num colégio particular sem ter muitas vezes recurso para pagar a mensalidade, que quase sempre, foram honradas com mantimentos produzidos no nosso sítio.
E daí o que mais aprendi com tudo isso? Foram muitas as lições. Aprendi “a não discutir com os estúpidos, porque senão terei que me abaixar ao nível deles, e se isso acontecer certamente perderei, porque eles já estão acostumados”. Aprendi com meu professor de política social que: “política é a arte de pedir votos aos pobres, pedir recursos financeiros aos ricos e mentir para ambos”.
Aprendi que o sucesso não cai do céu, a nossa luta incansável em busca por dias melhores é que nos tornará diferentes. Aprendi que a natureza não perdoa os fracos. Aprendi que quando muito se abaixa, mais a bunda se mostra.
Aprendi que quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho. Aprendi a lição de A.Lincon: “a probabilidade fracassarmos na luta, não nos deve deter do impulso de lutarmos por uma causa justa”.
E VIVA O SAUDOSO COLÉGIO DIOCESANO LA SALLE!
osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br