Benditas Pimentas, por Osvaldo Piccinin
Quem me conhece, sabe o tanto que gosto de pimentas. Quanto mais ardidas melhor. Até acredito ser genético este meu gosto, porque meu avô comia pimenta lagrimejando, mas com muito prazer. Minha mãe também sempre foi uma apaixonada pelas malaguetas. E meus filhos da mesma forma, já meu pai detestava.
Leio muito sobre esta especiaria, e nunca encontrei uma única linha que a condenasse, quanto um possível mal que pudesse fazer a quem a consome. Muito pelo contrário, suas qualidades como um potente fármaco são enormes.
Tenho o costume de sempre levar uma porção junto comigo, seja ela in natura, em pó, em pasta ou em molho tanto no óleo como em vinagre, nos restaurantes onde frequento. Mesmo em viagens internacionais corro o risco de leva-la de alguma forma, pois como todos sabem, não é permitida a entrada de sementes ou espécies vegetais em outros países.
Existe mundo afora centenas de variedades e espécies de pimentas. Como os amigos conhecem meu hábito, de vez em quando me trazem novidades, vem da Índia, China, México e muitos outros países tidos como produtores dessa picante frutinha.
Alguns pequenos acidentes já ocorreram comigo por conta desse costume, como por exemplo, ao abrir um vidro curtido em óleo, de forma displicente, tive meus dois olhos alagados pelo molho, me deixando totalmente cego por instantes e gemendo de dor pelo ardume insuportável. Só com muita água corrente para se livrar desse incômodo. Como se diz: pimenta nos olhos dos outros é refresco. Assim fosse!
Também tenho amigos que não são do ramo, e às vezes para me agradar, aceitam come-las quando ofereço. Divirto-me muito ao vê-los reclamando e desprezando seus pratos de comida praticamente intactos. Pergunto – lhes se as lágrimas são de saudades da mãe ou da sogra. Passarinho que come pedra sabe o “forever” que tem, não é mesmo?
Tenho o hábito de cultiva-las em vasos tanto em casa como na empresa onde trabalho. Muitos me perguntam qual é o segredo para minhas pimenteiras produzirem em abundância o ano todo. Digo simplesmente que as cuido com carinho, não deixando faltar água, adubo e combate às pragas que aparecem, como pulgões e cochonilhas, com inseticida orgânico - álcool e fumo de corda -, ou outro produto químico de baixa toxicidade.
No México existe a “Chile Abanera”muito picante, por sinal. Numa de minha ida a este país, eu e minha esposa baiana, subestimamos o potencial dessa danada e logo no café da manhã resolvemos dar uma provada, junto com a omelete que servimos. Sabe o que aconteceu? Abandonamos o prato e choramos juntos.
A pergunta que se faz é porque alguém pode gostar de algo que queima a boca -, algo que arde tanto na entrada como na saída. A resposta que encontrei é que existe um elemento químico em sua composição, similar a endorfina que age em nosso cérebro nos dando uma sensação de prazer. Também é sabido que abre nosso apetite, disso não tenho dúvida.
Nossa família usa pimenta praticamente em todas as comidas salgadas que consome. Tenho a impressão que fomos nós que introduzimos o hábito de seu uso em pizzas, porque quando nos mudamos para Campo Grande, as pizzarias não tinham o costume de oferecer aos seus clientes. Hoje a maioria oferece. Naquelas que frequento, deixo um molho de minha preferência, para usar na próxima vez.
Invento modos diferentes de fazer molhos sendo que para mim todos são maravilhosos, desde que ardam. Tenho como hábito presentear amigos e garçons com esta iguaria. Mas a forma que mais gosto é in natura, de preferência, colhidas na hora, com o cabinho. Para cada garfada de comida uma mordida na danadinha.
E VIVA AS PIMENTAS PICANTES DO MUNDO INTEIRO!
osvaldo.piccinin@agroamazonia.com.br