Smart farming: como a IoT pode destravar o problema de conexão rural no Brasil?
João, agricultor de soja no interior do Mato Grosso, acorda com o cantar do galo, como de costume. Sua primeira parada é a estação base no escritório da fazenda, onde verifica os dados sobre o avanço do plantio de sua safra. No entanto, ao chegar, ele se decepciona: a última atualização foi feita antes de ele ir dormir. Sem outra alternativa, João precisa pegar o carro e se deslocar até a lavoura para verificar pessoalmente o andamento do trabalho.
Essa cena, comum em áreas remotas do Brasil, ilustra um dos grandes desafios enfrentados pelo agronegócio brasileiro na era digital: a falta de conectividade nas zonas rurais. O agronegócio brasileiro, responsável por cerca de 25% do PIB nacional, está prestes a passar por uma mudança tecnológica. No entanto, essa transformação enfrenta um obstáculo. Segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), apenas 23% das propriedades rurais brasileiras têm acesso à internet. Isso significa que mais de 3,4 milhões de estabelecimentos rurais estão desconectados do mundo digital.Enquanto as áreas urbanas do Brasil têm redes 4G e 5G, muitas regiões agrícolas ainda lutam para obter conexões 3G. Esta disparidade cria um abismo digital que pode atrasar o setor agrícola brasileiro em adotar novas tecnologias disponíveis no campo, mas que necessitam de conectividade.
A Internet das Coisas (IoT) surge como uma solução, que está mudando, para melhor, a realidade de alguns produtores de norte a sul do país e tornando real o conceito de smart farms por aqui. O mercado global de IoT na agricultura está em expansão, com projeções indicando um valor que pode ultrapassar US$ 20 bilhões até 2026, segundo o relatório da Global Market Estimates.
LoRaWAN (Long Range Wide Area Network) e NB-IoT (Narrowband IoT) são sistemas que podem transmitir dados por longas distâncias, consumindo pouca energia e operando em áreas sem cobertura celular tradicional.
Com alcance de até 15 km em áreas rurais, os sensores do LoRaWAN são alimentados por baterias de longa duração, que podem transmitir dados sobre umidade do solo, temperatura e níveis de nutrientes, mesmo em áreas remotas da fazenda. Já o NB-IoT oferece boa penetração em ambientes internos e subterrâneos, com uma perda máxima de acoplamento (MCL) de até 164 dB. Isso permite que o sinal NB-IoT alcance locais profundos dentro de edifícios e até mesmo subsolos. Utilizando a infraestrutura celular existente, esta tecnologia promete conectividade em áreas com sinal fraco, superando barreiras físicas que normalmente bloqueariam sinais de celular convencionais.
Da teoria à prática: IoT no campo
Voltemos à fazenda de João, agora com um cenário diferente: sensores distribuídos pelo campo, utilizando o protocolo LoRaWAN, coletam dados em tempo real. Esses dispositivos monitoram uma ampla gama de informações, incluindo condições meteorológicas, andamento das operações agrícolas (plantio, tratos culturais, colheita) e dados específicos da cultura, como falhas no cultivo, sinais de pragas e doenças, crescimento vegetativo, entre outros.
Uma estação base central, alimentada por energia solar, reúne essas informações e as envia para a nuvem por meio de uma conexão satelital. De sua casa ou de qualquer outro lugar com acesso à internet, João pode consultar um painel completo sobre sua plantação, suas máquinas, suas operações, entre outros aspectos.
O sistema de irrigação ajusta automaticamente o fornecimento de água com base em dados de umidade do solo e previsões climáticas. Enquanto isso, um alerta informa que o trator apresenta uma falha na célula da bateria e precisa de manutenção pela concessionária nos próximos cinco dias, evitando paralisações durante o valioso período de plantio.
Com a tecnologia conectada, João não apenas ganha eficiência, mas também tranquilidade para tomar decisões estratégicas no momento certo.
O que divide a imaginação da realidade está justamente na conexão que a IoT está proporcionando em fazendas por todo o Brasil. À medida que a tecnologia se torna mais acessível, testemunhamos o surgimento da "Agricultura 4.0", com fazendas conectadas e automatizadas, onde drones sobrevoam os campos, robôs realizam tarefas e algoritmos tomam decisões em tempo real. Ao superar os desafios de conectividade com soluções IoT, o Brasil tem a oportunidade de aumentar sua produtividade agrícola e estabelecer novos padrões de eficiência e sustentabilidade no setor. Cada sensor, cada bit de dados, cada decisão informada é um passo em direção a um futuro mais produtivo.
Bruno Rocha, CFO da IBBX Wireless Energy, é um executivo com mais de 17 anos de experiência em Finanças. Sua ampla expertise abrange áreas importantes como M&A, FP&A , estratégia financeira e tecnologias IoT. Com uma sólida trajetória em empresas globais e de grande expressão, a sua capacidade de combinar a sua experiência com insights em tecnologias IoT permite-lhe impulsionar inovação e crescimento sustentável, consolidando sua posição como um líder visionário no setor.