Leite digital: o 4.0 chegando na produção, por Roberta Züge

Publicado em 21/11/2019 11:10
Roberta Züge; Diretora Administrativa do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS); Diretora de Inteligência Científica Milk.Wiki; Médica Veterinária Doutora pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP); Sócia da Ceres Qualidade

Em qualquer ambiente que vamos há sempre uma pessoa que fala: o tempo está passando muito rápido. Realmente, parece que não temos tido muito tempo, e isto nos dá a sensação de que os dias são mais curtos.

Talvez muito desse sentimento esteja ligado à questão de estarmos, cada dia mais, conectados o tempo inteiro. As notícias chegam muito rápidas. Algo que aconteceu pela manhã e se só descobrirmos à tarde, ficamos com a sensação de notícia antiga, ou que não estamos atualizados. Em outro vértice, tudo é muito volátil, passa rápido. Vira um “meme” e se foi. Mas, apesar dessa tecnologia nos trazer alguns sentimentos que nos criam ansiedade, há uma infinidade de soluções que estão sendo criadas que nos facilitam o dia a dia.

No mundo do leite, a nata já tem investido nessas opões. Um bom exemplo é a Embrapa que, em parceria com outras instituições, fomenta o Ideas for Milk desde 2016. O foco é promover o surgimento de soluções para a cadeia do leite, reunindo a iniciativa privada, a academia, a pesquisa agropecuária e o setor produtivo. Para 2019, dia 22 de novembro terá a seleção dos campeões. Os selecionados vão apresentar propostas para incrementar e garantir desde a otimização dos recursos, de mensuração de crescimento de bezerras, das análises rápidas do leite e até o cumprimento das legislações.

O mercado lácteo, apesar de ter evoluído muito, ainda não é um player importante no cenário internacional. Conseguimos galgar alguns status, desde sanitários até abertura de mercados, mas ainda não temos realmente relevância. No meio do ano, houve o anúncio de 24 laticínios habilitados para o comércio com a China. E, como não poderia ser diferente, causou certa euforia. Ter os chineses tomando leite brasileiro nos permitirá produzir muito mais, afinal, a China tem aproximadamente cinco vezes a população do Brasil. No entanto, apesar da habilitação, nada de lácteos foi exportado. Segundo agentes púbicos, ainda falta a comprovação do cumprimento de requisitos legais.

Aliás, com foco nessas legislações, um dos finalistas do desafio das Startups, do Ideas for Millk 2019, está concorrendo com uma solução para buscar mitigar os entraves de importação. As normativas (assim como os importadores) exigem que exista uma cadeia de informações de que as exigências, para a produção de um leite saudável, estejam disponíveis e sejam realizados planos de controle. De um lado há milhares de produtores, que devem gerar dezenas de registros por mês e, do outro, os laticínios, que devem receber e processar essas informações, para garantir ações corretivas e eventuais desvios que sejam detectados. Unir essas pontas, recolhendo registros em papel e processando no escritório, pode ser uma tarefa extremamente difícil de realizar, além, claro, de demorada.

Partindo dessa demanda, e com auxílio desta que vos escreve, foi concebido um aplicativo batizado de Milk Wiki, que contém todos os procedimentos, registros, treinamentos e ações que devem ser realizadas, além de canais de comunicação direta do laticínio com o produtor, cujo objetivo é o de buscar a conformidade dos processos de produção. O aplicativo é acessado através de smartphones, tanto IOs quanto Androides, possui uma interface amigável e de fácil utilização, e envia para o laticínio em tempo real as informações que são demandadas.

O surgimento de iniciativas como esta pode encontrar entraves na baixa escolaridade ou na dificuldade de operar tais “inovações”. Por outro lado, é inevitável a disseminação desse tipo de tecnologia, principalmente entre os mais jovens, que mais conectados, interagem nas redes sociais mais instintivamente e, por conta disso, tem a tendência em absorver as tecnologias mais rapidamente e utilizá-las na rotina; traz uma satisfação e sensação de pertencimento a esta geração tão plugada.

Talvez a maior utilização da tecnologia no campo seja um atrativo para retenção dos mais jovens, uma das demandas para sustentabilidade do setor agropecuário. Assim como as cidades, as tecnologias, as conexões, as inovações também são necessárias. Esperemos os dias continuarem como são no campo, ou melhor, que permita utilizar o tempo de lazer com mais contato e conexões positivas.

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Fonte: CCAS

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