Café: Operadores nas bolsas de futuros dão importância ao que lhes interessa e não a realidade do mercado
Publicado em 27/08/2016 11:39
A CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento vendeu ontem, em leilão, 95% das 70 mil sacas de 60 kg de café dos estoques públicos postas a venda. Os cafés vendidos são do tipo arábica em grãos, desmerecidos em cor e sabor, de sete safras atrás (2009/2010), armazenados nos Estados de Minas Gerais e São Paulo. A procura por esses lotes em plena entrada da nova safra brasileira 2016/2017 é mais um indicativo da dificuldade que o mercado físico brasileiro encontra para se abastecer.
Com o consumo mundial crescendo a 2% ao ano, o Brasil, maior produtor, maior exportador e segundo maior consumidor de café do mundo, bateu em 2014 e novamente em 2015 seu recorde histórico de exportação, ao mesmo tempo em que enfrentou sucessivos problemas climáticos sobre seus cafezais. Esse quadro, exportações recordes e problemas climáticos em série, esgotou os estoques brasileiros de passagem pela primeira vez em nossa história.
Nenhum profissional do mercado de café já enfrentou um cenário como o atual: Consumo mundial em alta há vários anos e mudanças climáticas provocando sérios problemas nos países produtores de café. Adicionando ao cenário os rápidos avanços na informatização e na financeirização das bolsas de futuro, que hoje trabalham com técnicas de alta frequência e algoritmos, com seus operadores maximizando as informações que interessam a seus interesses imediatos e minimizando as que não interessam, podemos entender a falta de lógica e rumo nas cotações das bolsas de futuro.
Outras mercadorias também estão sofrendo problemas semelhantes. Recomendamos a leitura do artigo “Mudanças na compra e venda de bois leva caos a mercado de futuros nos EUA” do “THE WALL STREET JOURNAL”, reproduzido no Valor Econômico do último dia 19.
Nesse cenário, os contratos de café subiram forte na última segunda-feira, para depois serem derrubados na quarta-feira com um factóide: “as compras de café pela China (ainda um mercado pequeno para o café) ficaram um pouco abaixo do esperado”. Agora os especuladores aguardam um fato corriqueiro, a abertura da florada nos cafezais brasileiros, para derrubar as cotações em Nova Iorque no início do período de compras de café para abastecer o consumo de inverno nos países do hemisfério norte.
Não importa que 2017 seja ano de safra baixa para o arábica no Brasil e que os problemas de seca no Espírito Santo prejudicarão também nossa safra 2017 de conilon. Minimizarão esses fatos e amplificarão a abertura da florada em nossos cafezais. Alguém sabe de algum ano em que as floradas não abriram?
As rápidas mudanças tecnológicas e os grandes capitais concentrados nas últimas décadas estão distorcendo as cotações nas bolsas de futuro e tornando difícil o uso desse indicativo para a formação de preços justos para os negócios no mercado físico.
Até dia 26, os embarques de agosto estavam em 1.372.821 sacas de café arábica, 31.048 sacas de café conilon, mais 157.806 sacas de café solúvel, totalizando 1.561.675 sacas embarcadas, contra 1.330.626 sacas no mesmo dia de julho. Até o mesmo dia 26, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em agosto totalizavam 2.568.576 sacas, contra 1.858.479 sacas no mesmo dia do mês anterior.
A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 19, sexta-feira, até o fechamento de hoje, sexta-feira, dia 26, subiu nos contratos para entrega em dezembro próximo 325 pontos ou US$ 4,30 (R$ 14,07) por saca. Em reais, as cotações para entrega em dezembro próximo na ICE fecharam no dia 19 a R$ 601,45 por saca, e hoje dia 26, a R$ 626,94 por saca. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em dezembro a bolsa de Nova Iorque fechou com alta de 40 pontos.
Fonte:
Escritório Carvalhaes