Mercado de café: BANCOS EMITEM SINAIS NEGATIVOS E MERCADO TRAVA NO ARÁBICA E ROBUSTA

Publicado em 26/02/2016 17:01 e atualizado em 26/02/2016 17:50
por RODRIGO COSTA, de N. YORK (Archer Consulting)

Os mercados acionários permanecem voláteis e mantendo uma correlação em geral positiva com a movimentação dos preços do petróleo. No meio da semana uma nova desvalorização da moeda chinesa impactou negativamente as cotações dos ativos de risco, rapidamente apagando os ganhos provocados por compras de investidores que buscam alguma alternativa para realocar seus recursos.

O nervosismo dos participantes das bolsas se deve ao fato dos Bancos Centrais já estarem com seus balanços inchados após terem criado uma liquidez mundial grande, suficiente para evitar novas recessões, mas não necessariamente impulsionar o crescimento para níveis que os ajudem a começar a drenar um pouco da política monetária expansionista (muito pelo contrário). Soma-se a isto a queda acelerada das commodities com o efeito deflacionário e a exposição de fundos soberanos de países produtores de petróleo que precisam fazer caixa (vendendo assim ações que tem em carteira nas economias de maior liquidez) e acabamos encontrando poucos corajosos compradores de papéis.

O café esboçou reação na segunda-feira dia 22 de fevereiro, mas falhou em dar sequência nos ganhos e nem mesmo uma melhora no humor macroeconômico conseguiu dar ânimo para as cotações do arábica. O robusta ficou ainda mais pressionado com a proximidade do período de entrega do contrato de Março e com a abertura do spread contra o Maio para US$ 40.00 de desconto – menos em função da falta de interesse de recebimento dos cafés e mais por causa das regras contratuais que dificultam uma demanda mais aguda para o café que é hoje o mais barato disponível no mercado.

Outro ponto confuso foi a fraqueza do arábica na BM&F em frente à entrega do contrato de março, provocando uma abertura grande do spread contra o contrato de setembro e uma fraqueza da arbitragem contra Nova Iorque. Tudo indica que a composição dos estoques certificados locais foi o motivo que afugentou possíveis recebedores, pois como alguns agentes comentaram a bolsa permite a certificação de lotes com 100% peneira moka, distorcendo a correlação com os padrões do físico.

A movimentação nas origens foi tímida com a queda dos terminais e os diferenciais ficaram nominalmente mais caros tanto para o arábica como para o robusta. No Vietnã as exportações de fevereiro estão estimadas em 2.08 milhões de sacas, maior do que há um ano, mas menor do que permitiria os estoques internos – reflexo da resiliência dos produtores cujo comportamento não deve se alterar se os preços não subirem ou eventualmente o Dong desvalorizar.  Torradores parecem menos preocupados com a necessidade que tem de cobertura de diferenciais para o segundo semestre de 2016, talvez apostando em uma pressão vendedora com a chegada da safra brasileira, que poucos creem será próxima de 60 milhões de sacas com as escassas chuvas no norte do Espírito Santo.

Um bom exemplo é a estimativa da safra 16/17 da Exportadora Comexim prevendo uma colheita de 56.25 milhões de sacas, sendo 44.35 milhões de arábica e 11.9 milhões de conilon. Segundo a empresa o estoque de passagem será virtualmente inexistente, em linha com grande parte dos números de diversos agentes.

Os estoques em portos Europeus divulgado pela European Coffee Federation totalizavam 11.86 milhões de sacas no fim de Dezembro, pouco mais de 53 mil sacas do inventário de Novembro. Uma vez mais vale salientar que a composição qualitativa não satisfaz o perfil dos que precisam comprar café fino e graúdo.

O fechamento dos terminais Londrino e Nova Iorquino não inspira confiança aos altistas e se o dólar americano se valorizar as chances são grandes de vermos ambos mercados fazerem novas mínimas. Os fundos renovando suas apostas nas baixas vão ajudar os comerciais a estenderem suas coberturas do flat-price, uma ótima oportunidade do ponto de vista fundamental que por ora não tem preocupado os participantes que estão vendidos.

Uma excelente semana e muito bons negócios a todos,

Rodrigo Costa*

 

ESCR. CARVALHAES: Safras com problemas, estoques baixos e consumo em alta, nenhum fundamento impacta as cotações

Por EDUARDO CARVALHAES, de SANTOS
 
Mais uma semana calma e monótona no mercado de café. Em Nova Iorque, na ICE Futures US, os contratos com vencimento em maio próximo fecharam com alta de 405 pontos na segunda-feira e foram cedendo ao longo da semana. Acabaram acumulando baixa de 135 pontos no período. 

No mercado físico brasileiro as ofertas acompanharam o sobe e desce do dólar frente ao real, mas sempre em patamares que não animam os produtores. Os arábicas de melhor qualidade, da safra corrente, recebem ofertas a partir dos 500 reais e vão subindo conforme a composição de peneiras e certificações. A forte desvalorização do real frente ao dólar acaba encobrindo a desastrosa queda dos preços do café em dólar e contribuindo com a transferência de renda para os países consumidores. Estoques baixos, consumo em alta, problemas climáticos, nada disso impacta as cotações em bolsa, dominadas por fundos e análises gráficas.

No Brasil, depois de duas safras com problemas climáticos e dois anos de recorde no volume exportado, os estoques em mãos de produtores são muito baixos para esta época do ano, mas os compradores pacientemente vão comprando o que precisam sem deixar as cotações fugirem dos patamares atuais. Restam ainda quatro meses até o final do ano safra 2015/2016 e é difícil enxergar como os preços irão se comportar até o início do novo ano safra em julho. Todas as contas apontam para uma apertada oferta nesses próximos quatro meses. No dia a dia começam a aparecer indícios de preços melhores. 

Refletindo a grande falta de conilon no mercado interno, nas últimas semanas cresceu bastante a procura por arábicas mais fracos e “escolhas”. Os preços desses cafés começaram a subir e estão diminuindo os diferenciais em relação aos de melhor qualidade. 

Até dia 25, os embarques de fevereiro estavam em 1.772.361 sacas de café arábica, 31.793 sacas de café conillon, mais 184.646 sacas de café solúvel, totalizando 1.988.800 sacas embarcadas, contra 2.027.553 sacas no mesmo dia janeiro. Até o mesmo dia 25, os pedidos de emissão de certificados de origem para embarque em fevereiro totalizavam 2.616.465 sacas, contra 2.531.453 sacas no mesmo dia do mês anterior.

A bolsa de Nova Iorque – ICE, do fechamento do dia 19, sexta-feira, até o fechamento de hoje, sexta-feira, dia 26, caiu nos contratos para entrega em maio próximo 135 pontos ou US$ 1,79 (R$ 7,15) por saca. Em reais, as cotações para entrega em maio próximo na ICE fecharam no dia 19 a R$ 623,01 por saca, e hoje dia 26, a R$ 608,48 por saca. Hoje, sexta-feira, nos contratos para entrega em maio a bolsa de Nova Iorque fechou com baixa de 95 pontos. 

Fonte: Archer e Escritório Carvalhes

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