Café: Entrega do contrato julho poderá mudar a percepção, por Rodrigo Costa
As bolsas americanas fizeram nova máxima histórica após o FED sinalizar que fará cortes de juros neste ano – mesmo que eventualmente não ocorra na próxima reunião do comitê, em julho.
Com um mercado de trabalho em pleno emprego e inflação levemente abaixo do target, o banco central deixou aberta a opção de postergar o corte, talvez aguardando um efeito negativo proveniente de um não-acordo comercial com a China.
Para o investidor a “garantia” de que se alguma coisa ruim acontecer o FOMC afrouxará a política econômica funciona como uma put gratuita, ou seja, uma opção de venda sem custo algum, estimulando, portanto, o apetite por ativos de risco – nada mal.
O dólar americano tomou um tomo forte, assim como os títulos da dívida subiram (ou os juros diminuíram), e com isto o CRB deu um pulo deixando um gap (intervalo sem negociação) de alta, liderado pelos ganhos do petróleo, da gasolina, do óleo de aquecimento, do ouro e do café.
Tensão e risco de ataques ao Irã foram os principais motivos para a apreciação das commodities energéticas, assim como para o ouro (reserva de valor), mas para o café teve um misto de ajuda do cenário macro e algum desconforto com o clima neste começo de inverno.
O início do período de notificação de entregas para o contrato de julho de 2019, após o pregão da quarta-feira, também deu um empurrão, dado o estreitamento do spread contra o contrato de setembro de 2019.
Com um desconto de apenas US$ 0.65 centavos por libra-peso, os detentores dos certificados deveriam em tese se interessar em se desfazer de alguns cafés certificados, porém ao não fazer isto dão a impressão ao mercado de que há algum valor nestes estoques, acendendo o sinal de alerta para alguns baixistas.
A sequência para dar credibilidade à esta hipótese seria uma de-certificação destes cafés (uma utilização de parte do inventário), em teoria algo que deve acontecer caso haja um grande problema de qualidades disponíveis não apenas das origens que são entregáveis na bolsa como também dos naturais – e aqui se aplicaria problemas com a safra brasileira que está sendo colhida.
Outro fator que contribuiria para demonstrar a preocupação de disponibilidade nos mercados seria ver a estrutura toda estreitar, ou seja, os spreads de setembro de 2019 em diante diminuir os descontos.
Vamos acompanhando de perto para ver se foi algo apenas momentâneo ou se teremos uma mudança de percepção.
Os estoques americanos no mês de maio (certificados e não-certificados de arábica e robusta) subiram 264,518 sacas, de acordo com a Green Coffee Association, estando abaixo dos 6,867,594 do mesmo mês de 2018 – com recordes de exportações de várias origens poderiam ter subido, logo há sinal de bom consumo.
Diferenciais firmes e reposição se mantendo forte nas origens brigam com uma demanda constante, mas a última pode arrefecer durante o verão no hemisfério norte.
A maior parte dos agentes acreditam haver muitas compras a serem feitas ainda para o segundo semestre do ano, entretanto com o basis das origens estando mais caros do que de costume faz com que a estratégia de comprar da mão para boca seja mantida, ainda mais para os que acreditam que o terminal volta a cair.
Tecnicamente Nova Iorque está tentando mostrar que as mínimas já foram feitas, mas também sinaliza dificuldade em romper as altas recentes.
Sem alguma novidade climática ou um fortalecimento grande do Real talvez vejamos o contrato “C” oscilar entre US$ 90 e US$ 110 centavos por libra por bastante tempo.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting