Café: Cotações de Londres pressionadas, por Rodrigo Costa
O número de contratos de café em aberto em NY atingiu um novo recorde na semana, 349,996 lotes, quase 10 mil a mais do que em 27 de setembro. O motivo principal é o incremento de apostas nos spreads, antes do começo da rolagem dos fundos, os quais andaram adicionando algumas compras e vendas em suas posições.
Com o “C” respeitando as mínimas recentes, é possível vermos uma breve recuperação técnica caso o maio rompa 96.50 – se o Real não voltar a afundar, claro.
O Real nesta semana voltou e visitar os R$ 4.00 forçando o contrato de maio da ICE a fazer nova mínima ao tocar US$ 92.60 centavos por libra. Graças à expiração da tela de março 2019 a primeira posição se mantem acima das mínimas de setembro de 2018 (92.00) e o segundo mês no gráfico contínuo precisa romper US$ 93.50 centavos para quebrar a baixa do dia 14 de dezembro de 2005.
Londres perdeu a sustentação que vinha encontrando e que parecia desconectada com o cenário de superávit global para a variedade. A proximidade da safra do conilon pode acelerar a queda do terminal trazendo os fundos para a venda depois do fechamento negativo da sexta-feira.
A demanda mundial melhorou bem no mês de março com negócios sendo fechados a diferenciais mais apertados, ainda que em vários casos reportados não reflitam o custo de reposição nas origens.
Compradores internacionais aguardam uma pressão vendedora vinda no Brasil nos próximos três meses entendendo que existirá uma necessidade de gerar caixa por parte do produtor para pagar os catadores de café, que demandam pagamento semanal para não migrarem para a fazenda do vizinho.
A percepção de haver uma disponibilidade razoável de estoque não vendidos no Brasil, apesar dos embarques elevados no ano-safra, é uma das justificativas por parte daqueles que esperam um basismais largo, mesmo que seja em poucos centavos por libra.
Se assumirmos que Bolsonaro vai continuar focando sua atenção em temas menos urgentes para a economia brasileira, potencialmente diminuindo a efetividade da reforma da previdência e desgastando a paciência de Paulo Guedes, as chances de um real mais enfraquecido pode absorver o efeito negativo dos preços do café em Nova Iorque para os produtores brasileiros.
O risco do retorno do ICMS para a exportação, tema recorrente dado o estado financeiro dos estados, é perigoso para a produção, pois no fim o preço pago pela saca descontará quaisquer ônus adicionais de tributação – os exportadores e importadores não conseguem pagar a conta, que não é paga também pelos consumidores internacionais.
Financeiro
O S&P500 teve o melhor ganho trimestral desde 2009, acumulando 12.86% no ano, uma bela recuperação do susto tomado em dezembro.
As bolsas de ações ao redor do mundo não ficaram muito atrás, acompanhando a forte toada com a ajuda dos bancos centrais que decidiram manter irrigação monetária das economias.
A inversão do juros entre os títulos do governo americano de vencimento de dois anos contra o de dez anos é um sinal indicativo de risco recessivo, e alguns agentes já apostam em uma rodada de corte de juros em 2019 pelo FED.
O CRB subiu 8.22% nos últimos noventa dias liderado pelos ganhos de 43.20% da gasolina e 32.53% do petróleo. Sete dos dezenove componentes acumulam perdas entre 2.83% e 9.08%, sendo que o café arábica foi o terceiro pior a performar, caindo 7.22%.
Uma ótima semana e bons negócios a todos.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting