Preço do café começa a enxugar excesso de ofertas futuras, por Rodrigo Costa
O S&P500 em 2017 ficará marcado como o segundo ano, desde 1928, que mais dias atingiu novas máximas históricas, passando 1964 e ficando longe dos oitenta e dois dias de altas ocorridas em 1995.
A performance dos principais índices de bolsa dos Estados Unidos acumula até o dia 15 de dezembro ganhos entre 20% e 33%, ajudando Donald Trump a se vangloriar do enriquecimento dos planos de aposentadorias e dos detentores de ações, que tiveram sim um empurrão importante da reforma fiscal do presidente republicano, mas vem também da manutenção do excesso de liquidez mundial.
O FOMC, equivalente ao COPOM brasileiro, cumpriu o esperado incremento dos juros em 0.25%, foi cauteloso com a perspectiva inflacionária para o próximo ano, mas não alterou o prognóstico de três novos ajustes para os juros americanos o ano que vem.
As bolsas na Europa também caminham para um encerramento do ano com ganhos próximos de 20% e o IBOVESPA, mesmo com a lambança do congresso brasileiro em não votar a reforma da previdência até depois do carnaval, acumula alta de 60% em reais e de 45% em dólar!!
Os três principais índices de commodities, CRB, BCOM e SPGSCI, depreciaram desde 30 de dezembro de 2016, pressionados principalmente pelo açúcar, o gás natural, o suco de laranja, o café e o cacau.
Nesta semana o mercado de café em Nova Iorque afundou abaixo de US$ 120.00 centavos por libra, com os fundos vendendo 16,217 lotes até terça-feira dia 12 de dezembro, aumentando as posições vendidas para 55,491 lotes líquido e 89,424 lotes bruto, níveis recordes que devem gerar uma reação positiva no curto-prazo.
O robusta também rompeu as mínimas recentes com uma nova rodada de vendas dos especuladores, e em ambos os mercados os comerciais aproveitaram para aumentar suas coberturas de compras.
Naturalmente as quedas sequenciais vistas nas últimas duas semanas têm sido atribuídas às chuvas abundantes no cinturão de café brasileiro, à fraqueza do Real e ao aumento de disponibilidade de cafés suaves e do Vietnã. Por outro lado, as baixas do café andaram em linha com a queda do CRB, por exemplo, o que pode demonstrar uma venda generalizada desta classe de investimento, eventualmente não relacionada com um reflexo direto de fatores intrínsecos do café.
Olhando para o comportamento dos diferenciais notamos que nem mesmo o progresso da colheita e o que seria o pico de disponibilidade de grãos na América Central, Colômbia e do robusta na Ásia tem causado uma pressão vendedora. Os produtores insatisfeitos com os preços praticados no mercado físico, seja por, em alguns casos, estarem beirando ou abaixo do custo de produção, ou talvez em função da queda forte das cotações comparando com a safra passada, tem mostrado força em dosar suas vendas.
Os compradores internacionais torcem o nariz para as ofertas no FOB com o basis tão firme, mas quem precisa de Brasil tem aproveitado o momento para comprar bolsa a 120.00 centavos e no frigir dos ovos computar o custo final da matéria-prima bem abaixo de seus orçamentos.
Para fechar o elo da cadeia, os comerciantes (exportadores e importadores) mal podem esperar o fim de 2017, principalmente para os que operam Brasil.
O ano de 2018 promete grandes emoções. Inicialmente pelo aperto de ofertas que deve ocorrer no primeiro trimestre, seguido então pela aposta dos baixistas de uma pressão vendedora no segundo trimestre, para enfim os agentes começarem a precificar as safras de 2019/2020.
Isto tudo no meio das eleições presidências no Brasil, julgamento do Lula em segunda-estância e reformas estruturais que precisam ser aprovadas – sem mencionar o clima, claro.
Pelo que tudo indica as exportações brasileiras continuarão caindo no atual ciclo, os estoques no destino diminuirão, e o já precificado superávit de 2018/2019 terá servido, ao fim do período, para simplesmente recompor a utilização dos inventários no atual ano-safra, de déficit.
Os preços negociados recentemente e uma eventual nova queda do terminal começam a fazer o trabalho de diminuir o “excesso” que muitos prevêem em suas planilhas até 2021, dada a remuneração insatisfatória no campo.
Um consumo mundial que anualmente cria a necessidade do incremento constante de mais 3 milhões de sacas, com potenciais reduzidos de aumento de produção depois dos saltos de Brasil, Colômbia, Honduras e Vietnã, precisa estimular o trato. Para isso há a necessidade de o terminal, no mínimo, não cair mais ou então o dólar continuar valorizando.
Os estoques americanos em novembro caíram 297,527 sacas para, ainda confortáveis, 6,74 milhões de sacas. Na Europa a redução foi de 450 mil sacas em outubro, ficando em 10.9 milhões de sacas. É de se imaginar que a tendência de utilização destes cafés vai continuar, por serem mais baratos do que os cafés oferecidos pelas origens, no FOB.
Em resumo: não há espaço para perdas de produção, os preços já descontaram o otimismo das ofertas, os consumidores percebem a necessidade de garantirem uma cobertura de físico e os fundos-ativos, com recorde de posição vendida, podem se ver forçados a recomprar parte dela provavelmente tão logo os fundos-passivos comecem a comprar, na segunda semana de janeiro, os mais de 10 mil lotes que são esperados para ajustarem suas carteiras.
Apostar em novas mínimas tem de ser via o enfraquecimento das moedas dos países produtores.
Este é meu último comentário de 2017. Voltarei a escrever no final de semana do dia 20 de janeiro. Mais uma vez obrigado pelo carinho dos leitores e da sempre sadia troca de idéias que temos via e-mail, conversas telefônicas e em nossos encontros.
Desejo a todos um 2018 com muita saúde, proteção, felicidade, paz, harmonia e excelentes negócios.
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting