Café: Momento negativo deve empurrar Nova Iorque mais pra baixo, por Rodrigo Costa
O mercado acionário mundial sofreu uma queda na semana, com destaque para as perdas dos papéis americanos que foram empurrados para baixo em uma onda parcial de liquidação dos investidores que vinham apostando na administração de Donald Trump.
O presidente dos Estados Unidos foi forçado a retirar da pauta de votação uma reforma do sistema de saúde no país, demonstrando um apoio menor do que se imaginaria para quem tem uma maioria republicana nas duas casas do congresso. A leitura do evento põe em xeque a eventual capacidade de Trump executar suas promessas de diminuição de impostos e regulamentação – motivos que vinham atraindo compras de ações no chamado “Trump Trade”.
O dólar americano também desvalorizou, revertendo uma tentativa de subir e escorregando para patamares próximos do menor nível de 2017.
A queda da moeda ianque deveria servir de suporte para as commodities, mas não foi o que vimos e a maior parte dos componentes do CRB caiu, sendo que o café arábica foi quem mais perdeu nos últimos cinco dias.
Na segunda-feira o contrato “C” subiu bem, fechando em alta impulsionado pelo relatório do CFTC que havia mostrado os fundos com uma posição vendida maior do que estimada. Nos dias seguintes, entretanto, o terminal mostrou fragilidade e não apenas devolveu o rally como na sexta-feira acabou fechando nas mínimas.
A performance não causou tanta surpresa entre os participantes da sempre bem organizada e atendida convenção da National Coffee Association. As conversas e reuniões que tive no evento, realizado em Austin no Texas, naturalmente finalizavam com trocas de idéias sobre as perspectivas do mercado e curiosamente muitos operadores de café se mostram um pouco confusos com o rumo dos preços.
Muito se falou sobre o potencial de produção brasileiro para a safra 2018/2019, para mim um exercício ingrato haja vista estarmos a uma distância quase “infinita” do que pode vir a ser a mãe de todas as safras, e ainda mais considerando que nem passamos ainda por 2017/2018. É compreensível a ansiedade de quem trabalha com café sobre o tema, principalmente entre os brasileiros, que eram maioria no seminário – talvez sinalizando a necessidade de vender café?? Na prática, porém, não serve para nada falar de 18/19 pois não há como montar uma posição neste momento olhando para um ciclo tão longe.
Por outro será interessante notar no fim deste ano Nova Iorque sendo vendida pelos fundos caso haja uma bela florada, para então experimentarmos uma puxada forte nas cotações no primeiro semestre de 2018 quando o aperto deve ser grande dada a limitada oferta global de 17/18 – opinião talvez prematura, mas que se encaixa no contexto de tanta conversa a respeito do assunto.
No curto-prazo o jogo de adivinhar para aonde o mercado irá se mostrou confuso, já que a disponibilidade de grão no destino é boa e os diferenciais dos suaves se mantém fraco dada a demanda tépida da indústria.
Em verdade eu creio que é necessário um pouco de paciência para ver o arábica subir, aguardando o pipeline “secar” e os fundos ficar mais vendidos. Considerando a situação interna brasileira as exportações da maior origem devem ter quedas consecutivas nos próximos meses, até pelo menos junho ou julho, forçando então uma utilização de inventários nos países consumidores e talvez servindo como um wake-up call entre os compradores de torrefadoras.
Esta sensação de tranquilidade da indústria incomoda os agentes, claro, mas é apenas questão de tempo para que os compradores de café de fora comecem a preencher seus livros. Em geral o consenso aponta para uma cobertura de diferencial pequena, talvez uma aposta até dos próprios comerciais de que a bolsa vá subir e então alargar o basis, fazendo-os por ora se concentrarem na compra de futuros.
O problema é estar quase todo mundo olhando para o mesmo lado, a subida dos preços, um dos motivos que levou Nova Iorque para baixo e agora deve atrair mais vendas entre os fundos de CTA e de sistema, pressionando ainda mais as cotações. Um rompimento do nível de US$ 135.20 centavos por libra deixará ainda mais vulnerável o gráfico, potencialmente podendo causar um exagero de vendas e levar o contrato de Maio2017 a US$ 130.00 centavos.
Uma recuperação dos preços pode acontecer, mas não acredito que o mercado esteja pronto para sustentar ganhos ainda – em função do que escrevi quatro parágrafos acima.
O movimento vai servir também como termômetro para testar o comportamento dos produtores, pois há quem creia que não haverá resiliência dos que seguraram seus grãos esperando preços melhores. Eu particularmente acho que não haverá “pânico”, até por não ter tanto estoque assim e muitos já terem comercializado um pouco do que colherão daqui a alguns meses.
O risco de ficar vendido a descoberto no terminal não compensa os eventuais ganhos, portanto sugiro aguardarmos os fundos fazerem suas posições para então termos os preços se ajustando à atual realidade de oferta e procura de café no mundo.
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da ArcherConsulting