Mercado de Açúcar: "Positivo, mas cauteloso", por Arnaldo Luiz Correa
O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a semana com o vencimento outubro/21 cotado a 17.66 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 38 pontos em relação à semana anterior continuando o movimento pendular de algumas semanas que ora pende para uma alta, ora para uma queda de igual força e intensidade. Mas, esse tem sido o tom das commodities.
Nos últimos 30 dias as softs tiveram ligeira recuperação, com algodão, café e açúcar subindo entre 4-5%. O mesmo percentual de aumento da gasolina. No acumulado do ano, café lidera a alta com 25%, algodão com 15% e açúcar com 14%, mas todos bem abaixo do mercado de energia liderado pelo etanol 73%, gasolina 59% e petróleo entre 41-46%.
Não é sem razão que o mercado de etanol e açúcar no Brasil estão remunerando como nunca antes, mas é prudente observar que o setor contou com uma pequena ajuda dos grãos e da desvalorização do real frente ao dólar ao longo do ano, além do movimento agressivo de compra por parte dos fundos. Vimos uma tempestade perfeita passar e apesar de sermos otimistas no longo prazo, ou seja, acreditamos em preços maiores centavos de dólar por libra-peso para a safra 22/23 e 23/24, vai ser mais difícil repetir os bons preços em reais por tonelada.
O volume de contratos futuros de açúcar negociado no primeiro semestre deste ano soma pouco mais de 17 milhões de unidades, 30% menor do que o mesmo período do ano passado. É uma redução substancial que projeta um encolhimento total de 11 milhões de contratos até o final do ano. O que esses números podem querer dizer?
Observamos que no período de janeiro a junho de 2020 o total de contratos negociados somava 24,203,000 de unidades enquanto a média de contratos em aberto no mesmo intervalo foi de 1,048,000 unidades. Em tese, 24 unidades negociadas para cada contrato em aberto, que compõem uma variedade de operações que não alteram necessariamente a posição em aberto, como spreads e principalmente os especuladores de alta frequência (HFT) que operam praticamente operações de um dia (day-trade) e terminam o dia zerados, para mencionar apenas dois. Neste ano, a razão acima caiu para 16 unidades negociadas para cada contrato em aberto. Terão os HFT diminuído o apetite pelo mercado de açúcar? Pode ser que a baixa volatilidade tenha diminuído o apetite dos especuladores?
A volatilidade anualizada do açúcar dos últimos 100 dias é de 31.4%, a de 50 dias 27.4% e a de 20 dias, 25.1%. Ou seja, a volatilidade tem diminuído. Falta comprovar se o apetite dos HFT também.
Outro ponto que tem sido comentado pelos traders é acerca da fraca atividade no mercado físico de açúcar que provoca menor rotatividade das tradings com menor utilização de hedge e de ajustes nos livros via spreads. Dá-nos a impressão que o mercado físico de maneira geral está em compasso de espera aguardando uma série de definições como a recuperação no consumo, o tamanho da safra brasileira, as variantes da covid-19 que ainda assustam os mercados (45 estados americanos mostram alta nas infecções) ou ainda, os efeitos exógenos comandados pelo petróleo e a inflação americana. Quando há muita indefinição do ar, o melhor a fazer é agir com a máxima prudência. Parece-nos que é esse o humor do momento.
A quarta estimativa de fixação de preços do açúcar destinado à exportação das usinas correspondentes à safra 2022/23 mostra que as empresas desaceleraram o movimento de fixação de preço, provavelmente preocupadas com a menor disponibilidade de açúcar para as próximas safras, que pode provocar novas altas em US$ e, possivelmente, refletindo acerca das fixações da safra corrente, cujos valores médios obtidos está bem abaixo dos valores de mercado.
Assim, com base no nosso modelo o volume fixado estimado até dia 30 de junho de 2021 era de 5,856 milhões de toneladas de açúcar apreçadas para o período. No mês de junho, refletindo a desaceleração nas fixações, as usinas hedgearam pouco mais de quinhentos e trinta mil de toneladas de açúcar, o menor volume desde fevereiro.
Ao longo do mês de junho, as usinas conseguiram fixar na média de R$ 1,907 por tonelada FOB, o menor preço desde fevereiro. É uma queda de R$ 70 por tonelada em relação às fixações obtidas em abril. Isso demonstra que a nossa recomendação de continuar fixando preços, ainda que vinculado à compra de uma call (opção de compra) out-of-the-money (opções fora-do-dinheiro) tem sido a melhor política. Quem seguiu a política sugerida agregou – dependendo do período em que a fixação ocorreu – até R$ 200 por tonelada, valor que pode ser maior dependendo da expiração das opções compradas no período.
O preço médio apurado acumulado no período de outubro/20 até junho/21 registra 14.33 centavos de dólar por libra-peso, sem considerar o prêmio de polarização. O valor médio da fixação é de R$ 1,822 por tonelada FOB Santos, equivalentes a R$ 0,7933 por libra-peso, ambas já incluindo o prêmio de polarização.
Um bom final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa