Mercado de açúcar: "É bom manter os pés no chão", por Arnaldo Luiz Correa
As commodities sofreram expressiva perda durante a semana depois que o Federal Reserve manteve os juros inalterados, mas alertou que poderá subir a taxa de juros se perceber risco inflacionário. O derretimento das commodities atingiu principalmente os grãos, com os fundos detonando a posição comprada que possuíam. Óleo de soja foi devidamente fritado e perdeu 12% na semana, soja grão acompanhou com perda de quase 8%. Café caiu 5%. Metais, na média, caíram 8%. O que será que aconteceu com o novo ciclo das commodities, hein?
O açúcar amargou (sem trocadilho) uma queda estrondosa de 118 pontos na semana, ou mais de 26 dólares por tonelada acumulada em relação à sexta-feira anterior. Depois de bater R$ 2,093 por tonelada no início do mês de junho, o vencimento julho/2021 encerrou esta semana cotado a R$ 1,954 por tonelada, uma perda de R$ 139 por tonelada. Só para lembrar os leitores que dissemos aqui que éramos baixistas em reais por tonelada no curto prazo e altistas em centavos de dólar por libra-peso no longo prazo. Estávamos corretos.
Para as tradings a queda pode ser um alívio no fluxo de caixa. As chamadas de margem com o mercado do açúcar ascendente chegaram perto de US$ 2 bilhões. Com a queda, algumas fixações por parte dos consumidores finais ocorreram e pelo menos 40% dos fluxos retornaram.
Mudando de assunto, como sabemos, a energia primária é toda a energia disponível na natureza antes de ser processada ou convertida. É o caso do petróleo cru, da energia eólica, da energia solar, para citar algumas. A energia elétrica não é energia primária, pois ela é uma variante (e dependente) de outras energias que podem ser uma hidroelétrica, uma usina nuclear, uma eólica, por exemplo.
A migração de uma forma de energia para outra leva tempo até que sua extração ou produção e distribuição seja economicamente viável e possa ser disponibilizada para um número crescente de consumidores. Para se ter uma ideia, o primeiro poço de petróleo foi perfurado em 1859 em Titusville, Pensilvânia. Levou mais de 100 anos para que o petróleo se tornasse a fonte energética dominante no planeta.
Hoje os combustíveis fósseis, formados pela decomposição de organismos vivos, incluem o petróleo, o carvão mineral e o gás natural. Eles respondem por 87% de toda a demanda por energia primária do planeta. As chamadas energias renováveis, portanto, inesgotáveis (dependendo da Mãe Natureza), são a hídrica, a solar, a eólica e a biomassa (aqui incluindo o etanol, o biodiesel, entre outros).
O consumo de energia no planeta cresce exponencialmente. Apenas nos últimos 30 anos, o consumo de energia primária cresceu 1.9% ao ano e quanto mais os países se desenvolvem e suas economias se expandem, maior vai ser o consumo per capita de energia por parte de sua população. Hoje, apenas 80% da população mundial tem acesso à eletricidade. Isso vai mudar à medida que a pobreza vai sendo erradicada. Nos últimos 20 anos, a proporção da população mundial vivendo na extrema pobreza caiu pela metade (são 8.6% da população mundial). E a expectativa de vida média no planeta é de 70 anos, que está relacionada diretamente com o consumo de energia.
Dois fatores deverão impulsionar o consumo de energia ainda mais. As relações comerciais da China com a África que deverão produzir riquezas no continente e a consequente melhora substancial na vida das pessoas. Em 2019 o comércio entre os dois lados atingiu US$ 192 bilhões. Vinte anos antes não chegava a US$ 10 bilhões.
Voltando à produção de energia - e este é o motivo de eu fazer todo esse longo preâmbulo – é que as energias renováveis crescem numa velocidade menor do que a demanda global por energia. Por mais que se queira um mundo maravilhoso dos ursinhos cor-de-rosa, todo o lixo sendo reciclado, ninguém mais usando combustíveis fósseis e podendo se banhar e até beber a água do Rio Tietê, isso não vai acontecer. Mas não é porque eu seja pessimista.
O fato é que é matematicamente impossível que o mundo continue crescendo e demandando energia a uma velocidade maior do que a capacidade nossa de produzir energia limpa (nuclear, eólica, solar e biomassa). A conta não fecha. Para acreditar na exequibilidade de tal proeza a pessoa precisa carregar no bolso uma foto da Greta Thunberg (prefiro ouvir a Greta Van Fleet), bater palmas para o Sol, conversar com as rosas (Cartola dizia que as rosas não falam), ser um desses ativistas fanáticos e/ou fazer uso de alguma erva suspeita.
Com isso posto, não há a menor chance de o Brasil abandonar a produção de etanol e inundar o planeta com açúcar num futuro próximo porque nossos veículos passarão a ser elétricos a partir de 2030 ou 2035 como acreditam alguns. Que isso possa acontecer na Europa ou Estados Unidos eu não duvido. Mas aqui, um País onde 35 milhões de pessoas não tem acesso à água, 100 milhões não tem acesso a rede de esgoto, e que nas rodovias não se encontra um banheiro público decente, você acha realmente que vai encontrar locais para carregar as baterias do seu carro elétrico? Só pode ser brincadeira.
Acreditamos que essa década será pujante sustentada por três grandes pilares: o crescimento do consumo mundial de açúcar na Ásia amparado pela melhora na renda e aumento populacional; os programas de estímulo ao consumo de combustíveis renováveis que vai expandir a demanda de etanol e a perspectiva de melhoria na economia no Brasil que vai fazer retornar os níveis de consumo de combustíveis e alimentos ao nível pré-pandemia. Vamos precisar expandir o parque industrial.
Recebi o comentário de Álvaro Mendonça, experiente executivo do mercado financeiro sobre a Índia: “A decisão da Índia [de aumentar a mistura de etanol na gasolina] pode impactar o balanço global de energia renovável e no caso brasileiro eu vejo com um efeito de curto prazo incerto e de longo prazo positivo. Para o cenário mundial, se tomarmos a Índia como um laboratório econômico, a decisão de reduzir a dependência do petróleo e, consequentemente, de reservas para a compra, pode ser uma solução para diversos países pequenos ou em dificuldades financeiras. A produção mundial de etanol pode aumentar muito no longo prazo e quando combinado com decisões ecológicas para substituição de combustíveis fósseis, o preço do petróleo entrar em uma trajetória descendente (compradores reduzindo o apetite e vendedores tentando aproveitar a raspa do tacho). No caso brasileiro o curto prazo é incerto. O governo tem interferido nos preços dos combustíveis e entraremos no período eleitoral. Como na Venezuela, a energia pode ser um cabo eleitoral relevante, não importando se o parque petroleiro será sucateado. No longo prazo, o Brasil pode se inserir tanto em termos de fornecimento de álcool combustível, como de tecnologia, mas será necessário sobreviver até lá”. Concordo 100%.
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A terceira estimativa do volume de fixação de preços dos açúcares de exportação das usinas referente à safra 2022/2023, indicava que até o dia 31 de maio de 2021 as usinas estavam fixadas em 20.9%, que representam 5.23 milhões de toneladas de açúcar apreçadas para o período.
O preço médio apurado acumulado no período de outubro/20 até maio/21 registra 14.25 centavos de dólar por libra-peso, sem considerar o prêmio de polarização. O valor médio da fixação é de R$ 1,800 por tonelada FOB Santos, equivalentes a R$ 0,7836 por libra-peso, ambas já incluindo o prêmio de polarização.
Estão abertas as inscrições para os nossos dois já consagrados Cursos: o Essencial de Futuros em Commodities Agrícolas (de 16 a 20 de agosto) e o Avançado de Opções em Commodities Agrícolas (de 20 a 24 de setembro). Não percam. Depois só em 2022.
Um bom final de semana a todos
Arnaldo Luiz Corrêa