Mercado de açúcar: TUDO AQUILO QUE NÃO PRECISAMOS

Publicado em 13/06/2015 15:37
por Arnaldo Luiz Correa, da Archer

O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana amargando nova queda e ficando bastante confortável abaixo dos 12 centavos de dólar por libra-peso. Na semana, o vencimento julho encerrou a 11.72 centavos de dólar por libra-peso, 33 pontos abaixo do fechamento da semana anterior. E a oscilação negativa repetiu-se ao longo de toda a curva de preços até o longínquo maio de 2018, entre 19 e 25 pontos para baixo, isto é, uma queda entre 4 e 8 dólares por tonelada.

O velho e surpreendente spread outubro 2015/março 2016 demonstra que o mercado físico aposta suas fichas que a trading asiática que recebeu 1.9 milhão de toneladas de açúcar na expiração do contrato maio/2015 em NY, não deve ter encontrado destino para todo o volume recebido. Tudo que esse mercado NÃO precisa é que a citada trading reentregue parte de sua posição no próximo vencimento que ocorre daqui a apenas doze pregões. Enquanto seu lobo não vem, o citado spread negocia a um singelo desconto de 30.81% ao ano equivalente.

Os preços do açúcar em reais por tonelada estão mais atrativos nos meses com vencimento mais longo. Explica-se: tanto o mercado de açúcar em NY como a curva de dólar apresentam melhores valores nos vencimentos mais longos, o primeiro em função de o mercado estar em custo e carrego (não existe percepção nesse momento de que haja pressa alguma para comprar açúcar) e o segundo pela própria estrutura do custo do dinheiro no Brasil vis-à-vis lá fora. Dito isto, as usinas devem priorizar a produção de etanol agora deixando o açúcar para depois. Se isso vai ou não afetar os spreads (deveria!!), só aguardando.

O BNDES, um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, reuniu na semana passada, em seu escritório em SP, os principais formadores de opinião do setor. Empresários, executivos, analistas, consultores, etc. O objetivo da reunião, feita por convite, era mostrar o estudo que o banco está desenvolvendo para avaliar o impacto da utilização de contratos de longo prazo no retorno do investimento em nova capacidade produtiva de etanol hidratado, tanto para ampliação como implantação de usinas. O que isso quer dizer?

A proposta é criar um modelo que atraia investidores para a construção ou ampliação de unidades novas de produção de etanol hidratado, que teriam acesso a contratos de longo prazo (15 anos) a preço fixo baseado no modelo do tal estudo. As ressalvas que o pessoal técnico do banco impôs são que o estudo não poderia impactar inflação, não poderia trazer desequilíbrio fiscal, não poderia trazer nenhum tipo desgaste político (via aumento de combustíveis, ou da CIDE, por exemplo) e que o contrato só serviria para unidades novas.

Com essa iluminada ideia, teríamos dois mercados de hidratado no Brasil: um preço para unidades novas e outro preço para unidades antigas. As unidades novas teriam que fornecer o hidratado baseado numa formula que não guarda vínculo com a gasolina por 15 anos !! Uma receita para o fracasso retumbante de qualquer projeto. Nenhuma palavra foi emitida sobre qualquer mudança na formação de preços dos combustíveis que, pelo que pareceu a alguns dos presentes, é matéria intocável. Se depender desse governo, como eu já disse aqui há dois anos, nós vamos assistir –desolados – à desconstrução do setor. Ideias como essas poderiam ser comuns nos Politburos chefiados pelos ditadores da antiga União Soviética na época da Guerra Fria. Ouvidas hoje causam espanto e a certeza de que não existe a menor possibilidade do Brasil do PT dar certo.

Num mercado em que absolutamente nada ocorre, tem pelo menos as opções de açúcar em NY para se distrair um pouco, com boa chance de colocar algum dinheiro no bolso. Veja o março de 2016, por exemplo, que fechou a 13.50 centavos de dólar por libra-peso. Quem vender o straddle, ou seja, vender simultaneamente a call (opção de compra) e a put (opção de venda) do mesmo preço de exercício, no caso também 13.50 centavos de dólar por libra-peso, embolsa um prêmio de 210 pontos. Se o mercado fechar acima de 13.50, o vendedor está fixado a 15.60 centavos de dólar por libra-peso. Se fechar abaixo desse nível, o vendedor fica comprado a 11.40 centavos de dólar por libra-peso. Mesmo que a volatilidade – que hoje é de 23.70% - exploda para 35% (difícil, mas nunca se sabe numa situação de estresse), ainda assim os 210 pontos entrarão no ponto de equilíbrio um mês antes do vencimento (ou seja, as chamadas de margem em função do aumento da volatilidade que afeta o valor de mercado dos prêmio s vendidos retornam para o caixa).

A dívida do setor é estimada pelo modelo desenvolvido pela Archer Consulting em 82,476 bilhões de reais contra um faturamento estimado para o ano safra de 2015/2016 de 69,701 bilhões de reais. Em português claro, é impagável no atual cenário. Vamos continuar a passar por momentos difíceis de renegociação e ajustes no setor antes que possamos sequer ter ideia de expandi-lo para atender à demanda potencial que está aí.

O Brasil continua à deriva, com inflação alta, juros altos, aumento do desemprego (no setor, principalmente) e um PIB negativo que deverá chegar aos 2%. Herança maldita de um governo podre por dentro e por fora. Enquanto vamos afundamos lentamente, o Partido dos Trabalhadores se reuniu em Salvador, Bahia com todos os membros que ainda estão soltos, para saber se apoiam ou não as medidas do governo que é deles mesmo. A dupla de farsantes que comanda o País acredita que a crise é culpa da imprensa.

A Archer realiza o II Curso Avançado de Opções Agrícolas (Noturno), de 17 a 20 de agosto, das 19 às 23 horas, a ser realizado em São Paulo próximo ao metrô Paraíso. Para mais informações envie um e-mail para priscilla@archerconsulting.com.br.

Bom final de semana a todos

Arnaldo Luiz Corrêa

Fonte: Archer Consulting_

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