DA REDAÇÃO: Seca em Ipirá (BA) reduz em 1/3 rebanho de gado

Publicado em 11/09/2012 12:03 e atualizado em 11/09/2012 15:14
Seca: Em Ipirá (BA) cerca de 4 mil produtores convivem com a seca desde 2009. Rebanho de gado teve redução de 1/3 e agricultura de subsistência não existe mais. El Niño deve trazer mais seca à região.
Ipirá, apesar da relativa proximidade de Salvador (214 km), por sua estação seca acentuada e cobertura vegetal de Caatinga identifica-se em grande parte com o Sertão nordestino. Nossa vocação eminentemente rural e a tradicional pecuária são evidentes na forte presença da arte com o couro nos povoados e distritos do município. Solos férteis e clima de salubridade reconhecida conferem destaque especial à nossa ovinocultura e bovinocultura de leite.

Vivemos em Ipirá uma situação calamitosa provocada pela forte seca que desde 2009 castiga todo o semiárido baiano. Considerada como a pior dos últimos cinqüenta anos, esta violenta seca comprometeu toda nossa produção. A estimativa de perdas é alarmante. A agricultura de subsistência desapareceu e a pecuária, sofrendo o acúmulo de três anos sucessivos com precipitação abaixo da média, encontra-se numa situação limite. Os rebanhos que não pereceram de fome ou sede foram vendidos por 1/3 do valor normal. As pastagens foram consumidas até a exaustão e as reservas de palma se esgotaram, assim como as reservas de capital na aquisição de medicamentos, ração e água.

É notória a baixa remuneração da atividade agropastoril das regiões semiáridas devido à forte estacionalidade da produção forrageira. Apesar desta limitação comparativa o “mercado” indistintamente nos cobra produtividade impondo necessidades sempre maiores em investimentos. A própria ”sustentabilidade”, entendida como a manutenção no longo prazo da atividade produtiva, obriga-nos a investimentos. Esta necessidade provocou nosso endividamento junto às instituições financeiras e transformou-se na razão de enormes incertezas com relação ao futuro.

O Sindicato dos Produtores Rurais de Ipirá, com o apoio da FAEB/CNA/SENAR, tem procurado fazer sua parte. A seca ainda não era “notícia” e trabalhamos no sentido de tornar pública a situação. Enviamos carta à SEAGRI, ofícios à CERB, Banco do Brasil e BNB. Encomendamos prognóstico climático divulgado em rádio local, intermediamos entrevistas com representantes da CERB, BNB e CONAB e promovemos encontros entre produtores, BNB, Banco do Brasil, SICOB, ADAB e FAEB. Se estas iniciativas inicialmente serviram para “despertar” às instituições, agravaram também incertezas, à medida que percebemos nossa impotência face às “forças econômicas” e a inconsistência das recentes “medidas emergenciais contra a seca”.

Muitos companheiros já chegaram às raias do desespero. Os prejuízos destes anos ruins, somados ao endividamento e à falta de crédito parecem conduzir-nos à perda de nossa condição de produtores rurais. Como reverter este quadro e buscar a reestruturação financeira se não temos condição nem mesmo de honrar nossas dividas? Como recomeçar do zero, recompor rebanhos e recuperar pastagens, evitando a degradação do solo, “primeiro passo para a desertificação no semiárido”? Como retomar o crescimento em bases sustentáveis e enfrentar a realidade ainda mais difícil das “projeções climáticas” para este século?

A resposta para estas questões são os pleitos:

a) crédito verdadeiramente emergencial, sem as formalidades intransponíveis do PROGRAMA EMERGENCIAL–FNE 2012;
b) apoio na forma de prorrogação/renegociação das dívidas rurais e rebate significativo;
c) anistia para financiamentos contraídos no período da seca;
d) e concessão de crédito novo para investimentos de reestruturação.

Afinal, os prejuízos e perdas desta seca NÃO decorrem de incompetência, imprevidência, negligência ou mal uso de financiamentos contratados. É preciso considerar o caráter excepcional desta seca, um evento climático extremo que pegou o próprio Estado “de calças curtas” (Eng°Manoel Bonfim Ribeiro). É preciso lembrar o instituto da co-responsabilidade entre devedores e bancos oficiais. É preciso lembrar a completa desarticulação dos serviços de assistência técnica na Bahia, além do fato de não ter havido nenhum alerta para a “possibilidade” de seca no sertão baiano (Vide Boletins CPTEC/INPE). E para concluir, lembrar históricas desigualdades regionais citando o “Cientista da Seca” - Eng° Manoel Dantas Vilar Filho:

– Os moradores do semi-árido são credores do Brasil.

José Caetano Ricci de Araujo
Presidente
Sindicato dos Produtores Rurais de Ipirá

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Por:
Ana Paula Pereira + Sind. Produtores Rurais Ipirá
Fonte:
Notícias Agrícolas

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2 comentários

  • paulo roberto silva souza salvador - BA

    Sr. José Caetano, acabei de ler e ouvir os seus pleitos em prol da recuperação dos danos causados pela seca em Ipirá, já estamos em 2015 mas estou de pleno acordo com a prorrogação, renegociação e perdão das dívidas do produtor rural afetado pelos intempéries da natureza, nesse ou em qualquer outro evento não controlado pelos homens. Por não decorrer de incompetência ou mal uso dos financiamentos. Parabéns pela matéria!

    Paulo Souza.

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  • cezar augusto ricci mastorlorenzo Feira de Santana - BA

    Está de parabéns o Sr. José Caetano, sou produtor em Itatim-Ba município próximo a Ipirá e comungo de todas as considerações feitas pelo presidente do sindicato de ipirá. O governo estadual e federal virou as costas a seca no estado. Não temos crédito rápido, não podemos pagar o que devemos, estamos sem assitência técnica, a EBDA orgão de fomento agrícola do estado está desmontada e funciona apenas para obras políticas e inúteis. Sei que sobreviveremos à seca apenas por que "o sertanejo é acima de tudo um forte" e só por isso , pois se esperarmos ajuda de nossos atuais governantes morreremos de fome e passaremos a viver em favelas.

    Cezar Mastrolorenzo

    Secretário da ABCSINDI

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