Produtor deve ficar alerta com os preços da soja, aponta Faep
Por: Tânia Moreira, economista do Departamento Téc. Econômico da FAEP
A produção brasileira de soja na safra 2014/15 segundo dados da Companhia Nacional do Abastecimento (CONAB) foi de 96,24 milhões de toneladas, com um aumento de área de 6,4% em relação à safra passada.
No Paraná, segundo maior produtor nacional, a produção foi de 16,90 milhões de toneladas, segundo dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (SEAB), com aumento de área de 4% em relação à safra anterior.
A safra 2014/15 foi marcada por boas produtividades, de modo geral, e um perfil de comercialização diferente em relação à média dos últimos cinco anos.
A comercialização teve início lento, em função de atrasos na colheita e redução dos preços internacionais, e acelerou a partir de março com a intensificação da desvalorização cambial.
Atualmente, o percentual comercializado na média nacional é de 87% e de 84% na média do Estado, segundo dados da consultoria Safras e Mercado.
SAFRA 2015/16: os ganhos e os riscos do câmbio
Os preços internacionais foram menores no ano de 2015 comparativamente aos anos anteriores, como consequência de uma oferta mundial maior. Os preços no mercado interno buscaram sustentação no câmbio e assim, mesmo com a elevação nos preços dos insumos a cultura conseguiu saldar os custos de produção e sustentar a relação entre preço e custo inclusive de outras culturas, de modo geral.
Para a safra 2015/16, ainda que o cenário econômico mundial e brasileiro não se desenhe favorável para 2016, a previsão é de aumento de área e de produção de soja. No cenário internacional, o ritmo de crescimento mundial menor, com o crescimento da economia chinesa em cheque, e a maior aversão ao risco são fatores preocupantes. Do lado interno, a solução do impasse político e fiscal brasileiro, sob pena de nova perda no grau de investimento brasileiro gera incertezas, trazendo consequências para a inflação, custos de produção e formação dos preços.
A consultoria Safras e Mercado estima que a expansão de área no Brasil seja de 3,8% em relação à safra 2014/15 com a previsão de produção de 100,5 milhões de toneladas.
A previsão de ampla oferta brasileira precedida por segundo recorde histórico de produção nos Estados Unidos tem contribuído para uma projeção de preços em dólares inferiores aos registrados nas últimas safras, que têm sido compensados, nos preços internos, pela desvalorização cambial, com a moeda brasileira sendo a que mais perdeu valor frente ao dólar, comparativamente à moeda de outros países emergentes.
O preço médio em dólares do mês de setembro variou entre a mínima de US$ 8,62 a máxima de US$ 8,88 por bushel. A cotação média de preço recebido pelo produtor no Paraná passou de R$ 63,31 por saca em agosto para R$ 70,00 por saca em setembro.
Em setembro, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) surpreendeu o mercado e elevou a produtividade e produção de soja nos Estados Unidos e em relatório posterior melhorou o percentual das lavouras americanas classificadas em condições de boas a excelentes. O preço projetado pelo USDA foi entre US$ 8,40 a US$ 9,90 por bushel.
Embora a desvalorização cambial tenha se refletido em ganhos é fundamental analisar os riscos, com efeito perverso que o câmbio traz para o aumento dos custos de produção e da inflação, de modo geral. Para a safra 2015/16 a compra de fertilizantes no Paraná foi realizada em grande parte até agosto, de 70% a 80% considerando dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Esalq/USP), a um câmbio médio R$ 3,18.
Atualmente, segundo dados da consultoria Safras e Mercado o percentual comercializado é de 35% para a safra 2015/16 comparativamente aos 16% comercializados no mesmo período na média dos últimos cinco anos. Os negócios antecipados têm sido realizados com base no câmbio de agosto e setembro que oscilou entre R$ 3,51 a R$ 4,05. Os produtores tem aproveitado a desvalorização cambial para se proteger da queda de preço internacional.
Ainda para 2016 as previsões do Banco Central e consultorias apontam para o câmbio entre R$ 3,80 a R$ 4,00, a partir do cenário econômico mundial e brasileiro. O risco a ser considerado é se o câmbio não continuar nesses patamares, resultando em insumos mais caros e depois em uma deterioração do preço em reais já no final da safra 2015/16. Isso poderia ocorrer se os Estados Unidos continuar a adiar a alta dos juros e se a situação fiscal e política brasileira passar por acomodação, se encaminhando para solução dos seus problemas.
O que é importante destacar é a necessidade de planejamento, com adoção de estratégias de comercialização, de gestão de custos e de boas práticas agrícolas. Podem ser elencadas algumas importantes ações, tais como:
1. Conhecer os riscos envolvidos e planejar. As vendas fracionadas e antecipadas podem ser boas oportunidades de garantir preços em reais melhores se aproveitando da desvalorização cambial. O câmbio pode mudar ao final da safra 2015/16, impactando a comercialização da safra 2015/16 e os custos da safra de verão em 2016/17.
2. Gestão de custos. Adotar estratégias para compra de insumos e conhecer e gerenciar os custos de produção pode ser uma boa saída para perseguir uma melhor rentabilidade em um cenário restritivo de crédito.
3. Intensificar a realização de boas práticas agrícolas que podem contribuir para a otimização no uso dos insumos, em um cenário de encarecimento destes, provocando o melhor uso do capital físico como estratégia de defesa diante da queda de rentabilidade.
4. Buscar a diversificação da propriedade para que a queda de rentabilidade em uma atividade seja compensada por outras atividades.
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