Clima pode mudar cenário da safra 2014/15 do Brasil
As chuvas ainda permanecem irregulares nas principais regiões produtoras de grãos no Brasil. Com isso, o plantio da soja continua atrasado, especialmente na região Centro-Oeste e, a grande preocupação é com o comprometimento da janela ideal de cultivo do milho safrinha. E, por enquanto, as previsões climáticas não indicam para a regularização das precipitações.
Segundo informações de dois dos principais institutos de pesquisas, Somar Meteorologia e Climatempo, entre os dias 16 a 20 de novembro, as chuvas deverão registrar menor volume acumulado, especialmente, entre a região Sul do país, partes de Mato Grosso do Sul e São Paulo. Situação que, se confirmada, poderá afetar a produtividade das lavouras, principalmente da cultura da soja.
Para essa semana, nos dias 11 a 15 de novembro, as regiões deverão receber precipitações, porém, com volume acumulado baixo, entre 2 a 30 mm. Em contrapartida, as chuvas deverão ficar localizadas entre o Mato Grosso, Goiás, norte de Minas Gerais e Oeste da Bahia. As localidades poderão registrar precipitações de até 150 mm.
Mapas da Somar Meteorologia
Mapas - Climatempo
Impacto nas Lavouras
E é essa irregularidade que tem preocupado os produtores rurais por todo o Brasil e que vem mudando o cenário da temporada 2014/15, uma vez que as chuvas mal distribuídas e de baixo volume inviabilizam o plantio da soja e estreitam cada vez mais a janela para a semeadura da safrinha de milho, segundo explicam engenheiros agrônomos.
Para Dirceu Gassen, engenheiro do Conselho Científico da Agricultura Sustentável (CCAS), o que se observa agora é uma instabilidade do regime de chuvas que preocupa muito já que, apesar da normalização que deve vir mais adiante pode vir com um déficit. Entretanto, afirma ainda que há uma possibilidade de recuperação dessas lavouras, principalmente aquelas que possuem hábitos médios e não tão precoces.
"A nova safra vai depender, principalmente, de como será o clima em dezembro, janeiro e fevereiro. Ainda estamos dentro da normalidade, dentro do tempo para plantar", acredita Gassen. No entanto, o engenheiro afirma ainda que, nesse cenário de clima irregular, é preciso que o produtor dedique toda sua atenção e tempo à implantação das lavouras. "É importante que o produtor plante com calma para não perder nada. A principal orientação é de que não se plante mal agora, afinal, há uma perda muito grande do potencial produtivo quando se planta com pressa. É preciso controlar o emocional nesse momento", explica.
Assim, Dirceu Gassen acredita que a safra 2014/15 do Brasil já está no sinal amarelo e que, portanto, esse potencial produtivo está ameaçado. "Mas ainda é difícil afirmar se isso vai se concretizar e qual a extensão que vai tomar. Além disso, estamos limitando também o potencial da safrinha de milho. Por isso, é momento de fazer bem feito".
Em algumas regiões como Sapezal, em Mato Grosso, já há algumas áreas que terão de ser replantadas pela terceira vez, depois de o município ter amargado 46 dias sem uma gota de chuva. Com isso, de acordo com o presidente do sindicato rural do município, a produtividade da soja poderia cair para apenas 30 sacas por hectare. Na região de Canarana, também em MT, até a primeira semana de novembro, em torno de 25% da área destinada à oleaginosa tinha sido cultivada, contra 40% observado em igual período de 2013.
Sinop (MT), importante região produtora do estado, a perspectiva inicial é que haja uma diminuição de até 30% na área semeada com o cereal, de acordo com o presidente do Sindicato Rural, Antônio Galvan. "E dos 70% que serão cultivados, acreditamos que, pelo menos 50% será plantado com baixa tecnologia. E, se o clima for favorável, a estimativa é que a produção fique em 50% do que foi colhido na safra anterior", afirma Galvan.
Já em Assis Chateaubriand (PR), os produtores conseguiram cultivar a soja, entretanto, cerca de 20% a 30% da área semeada no final de setembro sofre com as precipitações esparsas. Consequentemente, os agricultores já estimam uma perda na produtividade das lavouras. O mesmo acontece em Marialva, no noroeste paranaense, onde as chuvas têm sido insuficientes para uma boa germinação das lavouras de soja. Além disso, com esse atraso na semeadura da oleaginosa, os riscos de o milho safrinha serem atingidos pelas geadas aumentam cada vez mais.
Segundo explica o engenheiro agrônomo Áureo Lantmann, nos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, o plantio da nova safra de soja está, em linhas gerais, dentro do normal, principalmente na região abaixo do Paralelo 24, ou seja, abaixo da cidade de Londrina. Porém, confirma que o atrasado em algumas regiões já compromete severamente a segunda safra de milho.
Ainda de acordo com Lantmann, apesar disso, as lavouras precisam agora de chuvas regulares para que possam se desenvolver bem e garantir seu potencial produtivo. "Nessa região de abaixo do Paralelo 24, a maior parte dos solos tem a cobertura da palha, o que ajuda na retenção de umidade, mesmo com volumes um pouco menores de chuvas, o que não acontece acima do Paralelo, onde os solos são descobertos", diz.
Em Balsas, no Maranhão, por exemplo, os agricultores ainda têm dificuldades em semear a soja, uma vez que as chuvas estão desuniformes. Cerca de 25% da área foi plantada até o momento, índice bem abaixo do registrado no mesmo período do ano passado, de 50%. Com isso, já espera, portanto, uma redução de 50% na área de milho safrinha no próximo ano.
Nos links abaixo, confira as entrevistas do engenheiro agrônomo Dirceu Gassen e do agrometeorologista Paulo César Sentelhas:
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