Café: Produtividade da safra 2015/16 depende de chuvas regulares, afirma fisiologista
As principais regiões produtoras de café receberam chuvas no final da semana passada. No entanto, de acordo com cafeicultores entrevistados pelo Notícias Agrícolas, as precipitações ainda são irregulares e insuficientes para reverter o déficit hídrico nos cafés que é agravado pela seca desde o início do ano.
Segundo o Commodities Weather Group (CWG), mais de 30% das regiões cafeeiras do Sudeste do Brasil receberam chuvas nos últimos três dias.
Dados climáticos da Cooxupé confirmam a irregularidade. Na segunda-feira (20), a cidade de Coromandel-MG recebeu precipitação de 49,6 mm. Esse número representa quase toda a precipitação do mês de outubro na cidade que é de 51,2 mm. Em Carmo do Rio Claro-MG, ontem choveu 26,0 mm. Nas cidades de Alfenas-MG, Guaxupé-MG e Monte Carmelo-MG não houve chuvas e cada uma tem respectivamente, 14,2 mm, 3,0 mm e 14,6 mm de precipitação no acumulado mensal.
A Bolsa de Nova York para o café arábica tem precificado a questão climática no Brasil. No início da sessão desta terça-feira (21) as cotações estavam no campo negativo em um movimento de realização de lucros e em meio a notícias da chuva que caiu nas principais cidades produtoras de arábica.
Mais tarde, os preços registraram alta com a informação de que as precipitações seriam insuficientes para aliviar um possível déficit de oferta devido à seca, mas o mercado inverteu e o retorno de chuvas regulares na próxima semana e o movimento de troca de posição sustentam a queda até às 15h30.
A seca afeta as lavouras de café no Sudeste do Brasil desde o início do ano. Na safra atual, diversas cooperativas registram quebra. Na região Sul de Minas Gerais — principal produtora de arábica — a quebra deve ficar em torno de 25% e 30%. Na Zona da Mata Mineira a queda de produção será ainda maior, em torno de 40% e a cada dia que passa os produtores ficam mais desanimados com a produção para a safra do próximo ano.
Segundo a Organização Internacional do Café (OIC), o déficit na temporada 2015/16 pode ser o maior em nove anos. Enquanto isso, a demanda global de café deve crescer 2,5% (4,95 milhões de toneladas) neste ano de acordo com dados da Euromonitor International.
Segundo o fisiologista de café e pesquisador apostentado do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, Joel Irineu Fahl, a situação é crítica e os reflexos da seca nos cafezais são inéditos. "As questões climáticas são cíclicas, elas levam anos para acontecer. Essa seca que ocorre nas principais cidades produtoras não registrávamos há muitos anos", afirma.
Fahl explica que os cafezais já vieram depauperados e com situação ruim da safra anterior (2013), quando o país produziu 49,15 milhões de sacas. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que o Brasil tenha colheita de 45,1 milhões de sacas de 60 quilos de café beneficiado (arábica e conilon), uma redução de 8,16%.
Em perspectiva divulgada em setembro pela Conab com base em tendências, estatísticas e condições climáticas, a safra 2015 do Brasil pode ter 48,83 milhões de sacas de 60 kg. Dado que foi contestado pelos cafeicultores visto a realidade das lavouras.
O presidente da Sincal, Armando Matielli, acredita que com o calor excessivo e a falta de chuvas a quebra deve ser uma das maiores na história do país podendo chegar a 60% na safra de arábica.
>> Queda na produção de café arábica em 2015 pode ser de 60%
Com a seca prolongada e florada tardia, o fisiologista acredita que a safra de 2015 tenha colheita ainda menor. "O panorama não é bom, mas precisamos aguardar até dezembro para confirmar quanto o Brasil conseguirá colher, mas a queda já é certa", afirma. A Conab divulga o primeiro levantamento do ano-safra 2015 apenas no dia 9 de janeiro do ano que vem.
A principal florada ainda não foi registrada em grande parte das cidades produtoras, ela está atrasada — No final de outubro e novembro seria o período de expansão do chumbinho, afirma Fahl. No entanto, apenas duas pequenas floradas podem ser vistas em parte do cinturão produtivo.
Com a chegada da chuva no último final de semana, as plantas podem ter floração nos próximos 10 dias. No entanto, segundo Fahl, se as condições climáticas não melhorarem elas podem não ter ‘pegamento’.
"As lavouras que receberam chuvas nos últimos dias devem registrar boa florada, mas sempre que se retarda a floração do café, como agora, entramos em um período mais quente e isso sempre causa prejuízo. Portanto, a florada só terá ‘pegamento’ nas cidades em que há mais umidade", afirma o fisiologista.
Ainda de acordo com Fahl, no final de setembro alguns cafezais tiveram uma pequena florada com ‘pegamento’, mas também são necessárias condições climáticas mais favoráveis para que o desenvolvimento seja satisfatório. "A planta precisa de umidade para nutrir e expandir o chumbinho. Quanto mais ameno for o clima melhor e maior o grão colhido", explica.
De acordo com Fahl, a fase de formação do chumbinho depois da florada é o período mais importante no ciclo produtivo do café, pois é nesta fase que se definirá uma boa produção. "Quando se tem pouca umidade depois da florada, há uma perda de rendimento, são necessários mais frutos para se ter a mesma quantidade final de café", ressalta.
De acordo com o meteorologista da Somar Meteorologia, Marco Antonio dos Santos, em entrevista a agência internacional de notícias Reuters, as altas temperaturas no período da tarde vão prevalecer. Ou seja, o tempo ainda vai ser uma preocupação para os produtores de café. Chuvas generalizadas devem voltar a região central e Sudeste a partir de quinta-feira da próxima semana.
>> Chuvas começam a ocorrer em áreas secas de café e cana do Brasil
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