Mercado de café: Safra futura mantém nuvens negras, por Rodrigo Costa

Publicado em 10/03/2019 20:14
por Rodrigo Costa*, direto de Nova York

O banco central europeu revisou para baixo o crescimento econômico da região e voltará a estimular empréstimos de longo prazo ao mercado para tentar amenizar riscos recessivos futuros.

A mensagem de Mario Draghi, presidente da entidade, deixou investidores mais receosos sobre o estado da economia global, ao mesmo tempo que atraiu compras do dólar americano e pressionou as bolsas de ações – também influenciadas pela baixa criação de postos de trabalhos nos Estados Unidos em fevereiro.

O Real ao visitar novamente os patamares de R$ 3.90 atraiu novas vendas dos fundos no café, encontrando suporte por parte dos comerciais para, por ora, segurar as cotações levemente acima das mínimas recentes.

A indústria cafeeira se reuniu em Atlanta com os agentes trocando suas opiniões sobre o quadro global desta commodity e quem esperava encontrar alguma esperança na mudança do tom negativo, não apenas se decepcionou como saiu ainda mais desencorajado da convenção – me incluo neste bloco.

O encarecimento dos diferenciais para todas as origens, os preços praticados internamente para os produtores de diversos países e a falta de janelas de oportunidades para se comercializar grãos à níveis que contribuam para um fluxo franco no físico provoca inclusive sentimentos de mais consolidação do setor.

Tentando afugentar um pouco do tom sombrio, em várias reuniões e rodas de conversa eu tentei demonstrar quão saudável tem sido a demanda, dado que as exportações generosas de Brasil, Vietnã, Colômbia e Honduras demonstram por não terem contribuído para a elevação do estoque no destino, mas o esforço foi em vão, principalmente pelo prognóstico (distante) da diminuição da oferta global ser muito lenta.

O ciclo naturalmente mais longo da cultura cafeeira, onde uma muda plantada hoje demora dois anos para dar sua primeira safra e manuseios, como o esqueletamento, também resultam em uma melhora na produtividade para uma ou duas safras, faz com que o exercício do mercado se volte para já considerar o ano safra 2020/2021.

Explico: em função do déficit global de 2019/2020 ser pequeno frente ao superávit de 2018/2019, muitos já olham o crescimento da guia do cinturão de café no Brasil e mesmo do trato cultural que tem sido mantido rigorosamente para prever um novo recorde de produção na próxima bi-anualidade positiva.

Em outras palavras, nas muitas rodas e apresentações, o que se cochicha (por medo de NY ouvir) entre os participantes é que em dois anos podemos ter novamente um superávit mundial acima de 6 milhões de sacas, o que faz dos estoques globais e o “pequeno” déficit de 19/20 fatores secundários e de pouca influencia para atrair compradores no terminal.

Mencionar isto para os produtores é visto como um sacrilégio – embora importante – e desta forma a cautela no tom era notada para que ninguém ficasse ainda mais deprimido.

Eu creio que os principais fatores para limitar Nova Iorque cair para os sugeridos exageros (que mercados fazem para cima e para baixo) de US$ 70 centavos por libra são o preço do robusta em Londres e em um possível fortalecimento do Real.

Para o primeiro tema o grande problema é que o terminal londrino, para onde irá o excedente de café não usado no consumo brasileiro e no solúvel, não precificou a safra de conilon brasileira e ainda tem mais quase metade da safra vietnamita a ser fixada – logo, pode potencialmente ceder bastante ainda.

Já o Real sofre da impaciência dos investidores em ver o governo Bolsonaro se envolver em confusões e discussões desnecessárias e banais ao invés de focar em demonstrar à população o perigo de arrastar reformas que quanto mais demorarem em ser aprovadas mais frágil torna a economia do país.

O mercado do arábica dá aos altistas a esperança apenas da quase unanimidade de opiniões crerem em novas baixas significativas – ou seja, a teoria contrária: todos estando no mesmo lado pode eventualmente provocar alguma reação para cima.

Fora isso os produtores de quase todas origens aguardam ansiosos altas em cima de coberturas parciais e pontuais dos fundos vendidos para irem se desfazendo de seus cafés a preços que estão longe do ideal, mas que parecem fadados a permanecer baixos por um período mais longo do que eu imaginava.

Uma ótima semana e bons negócios a todos. 

Rodrigo Costa*

*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting

A Archer Consulting tem como objetivo precípuo disseminar o conhecimento acerca do mercado futuro, de opções e derivativos para o maior número de pessoas possível, sejam elas diretamente ligadas ao negócio ou apenas interessadas. Acreditamos que quanto mais profissionais entenderem o funcionamento dos mecanismos do mercado de derivativos, mais saudáveis serão os resultados comerciais das empresas, mais produtos poderão ser disponibilizados aos participantes do mercado objetivando a mitigação de risco e a otimização das margens. É um trabalho de formiguinha.

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Fonte:
Archer Consulting

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