Melhora climática deve elevar safra 22/23 de cana do Centro-Sul para até 578 mi de t, estima TEMPOCAMPO
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Entrevista com Fabio Marin - Coordenador do sistema TEMPOCAMPO sobre o Clima para Cana-de-Açúcar
O Sistema TEMPOCAMPO, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), estima uma recuperação da produção de cana-de-açúcar no Centro-Sul brasileiro, em relação à safra 21/22, com valores variando entre 530 milhões e 578 milhões de toneladas entre os cenários mais pessimista e mais otimista.
Na safra passada, a produção de cana variou entre 516 milhões e 520 milhões de toneladas, de acordo com dados da companhia nacional de abastecimento (Conab) e da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
Isso ocorre devido à boa condição de chuva no mês de outubro, com temperatura adequada, que encheu o solo de água, de acordo com o coordenador do sistema Fabio Marin.
Ele ressaltou ao Notícias Agrícolas que, em novembro, as chuvas oscilaram em torno da média e em dezembro tiveram bons volumes em Minas Gerais e no Norte de São Paulo. O cenário de La Niña, porém, causa prejuízos no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas não foram tão graves como nas lavouras de soja, conforme afirmou Marin.
Essa projeção de aumento na produtividade em relação à safra anterior tem como base uma melhora climática. Para chegar na estimativa, o Sistema TEMPOCAMPO usou como referência a mesma área plantada de 2021/22, projetando o potencial produtivo com o atual cenário do clima.
“O clima é de recuperação em relação ao ano anterior. Mas não é uma safra excepcional, a gente não deve chegar na média histórica da região em termos de produtividade de cana por hectare, o famoso TCH, mas deve se recuperar de forma importante em relação à safra passada”, declarou o coordenador.
Segundo Marin, o coeficiente de produtividade deve aumentar entre 10% e 15%, mas isso ocorre porque a produtividade da safra anterior foi muito baixa. “Mesmo no cenário negativo, parte de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais apontam uma recuperação”, ressaltou.
La Niña
O fenômeno La Niña deve trazer chuvas abaixo da média para o Sul do Brasil, mas até o momento as lavouras de cana não foram tão impactadas como as de soja. A situação mais crítica, como frisou Marin, ocorre em praticamente todo o Paraná, centro e oeste de Santa Catarina e oeste e Norte do Rio Grande do Sul.
Esse é um cenário comum do La Niña, mas mesmo quando o fenômeno é diagnosticado, em alguns anos não acontece de forma tão evidente. Porém, como afirmou o coordenador, este ano está sendo um “exemplo de aula” dos efeitos do La Niña, com chuvas abaixo da média no sul do país e acima da média no norte.
“A gente tem acompanhado o caso da Bahia, do Tocantins, com chuvas recordes, mais de 500mm em um mês, muitos danos para as famílias que estão desabrigadas. Isso pode ser colocado na conta do La Niña, que é o resfriamento das águas do Oceano Pacífico na zona Equatorial, que influi no regime de chuvas no Brasil”, explicou Marin. Segundo ele, o fenômeno deve permanecer pelo menos entre abril e maio no país, com chuvas acima da média no norte, abaixo no sul e uma transição em São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Contudo, ele ressalta que as condições podem sofrer alteração. “A gente adoraria fazer previsão certeira a longo prazo, mas a gente não consegue ainda. A gente usa nosso melhor conhecimento para traçar esses cenários, trazer a melhor orientação para o produtor, temos uma equipe muito grande dedicada a isso. Mas a gente precisa acompanhar, pois pode ser que haja reversão e ocorram fenômenos que não estão no nosso radar, então os modelos vão captar isso e transformar em novas previsões”, concluiu Marin.